No domingo, 26 de maio, pouco antes das 15h (horário de brasília), a emissora libanesa Al Mayadeen reportou a seu público:
“Explosões estridentes em Rafá, ao sul da Faixa [de Gaza].”
Até então, era apenas a informação de um correspondente seu. Pouco se sabia da gravidade do mais novo ataque israelense. Menos de trinta minutos depois, os primeiros detalhes:
“Um massacre horrível em Rafá após ataque direto a um campo destinado a pessoas deslocadas.”
A frase já descrevia uma monstruosidade. Mesmo diante de pouca informação, a emissora libanesa já alertava que ocorrera um “massacre”. Não bastasse isso, o ataque havia ocorrido contra uma população “deslocada” – isto é, que já havia fugido de suas terras para não se tornar um alvo dos sionistas.
Dezesseis minutos depois, mais detalhes sobre o massacre:
“O ataque teve como alvo o campo de deslocados em Al-Barakas, a oeste de Rafá. A maioria dos mártires e feridos são crianças e mulheres.“
Uma hora depois, vieram os primeiros números:
“26 mártires e dezenas de feridos em massacre cometido pela ocupação nos campos de deslocados a noroeste de Rafá. Está em curso a busca por pessoas desaparecidas.“
No mesmo momento, mais notícias de fazerem o estômago embrulhar:
“Novo bombardeio nas Colinas do Sultão, a oeste de Rafá.”
Duas horas depois da primeira notícia publicada pela Al Mayadeen, o mundo árabe já havia se dado conta de que o novo ataque havia sido uma das coisas mais monstruosas já vistas, até mesmo para padrões israelenses. Conforme as forças nacionais e islâmicas declararam naquele momento, “o novo crime de guerra em Rafá é uma violação flagrante e escandalosa de todas as leis e convenções internacionais e das decisões do Tribunal de Justiça“. A coalizão ainda afirmou que “o governo norte-americano é cúmplice do assassinato de crianças em Rafá, pois é quem insiste em impedir o fim da guerra“.
Às 17h41 (horário de Brasília), o Ministério da Saúde em Gaza afirmava que as ambulâncias não estavam conseguindo transportar os mártires e feridos porque não havia vagas suficientes nos dois únicos hospitais que restaram em Rafá. Mesmo diante desse cenário, “Israel” não parou. Às 18h46, a Al Mayadeen publicou em sua imprensa:
“Os aviões de guerra da ocupação e aviões espiões continuam a sobrevoar intensamente a Faixa de Gaza, especialmente o sul, indicando uma noite quente.“
Menos de 30 minutos depois, a emissora noticiou que uma segunda explosão em menos de 10 minutos ocorrera em Rafá.
Segundo o Ministério da Saúde em Gaza, “nunca antes na história, tantas ferramentas de matança em massa foram mobilizadas e utilizadas em conjunto diante dos olhos do mundo como está a acontecer em Gaza“. Importante destacar que o Ministério é governado pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), que há quase duas décadas vive em guerra contra as forças de ocupação sionistas, tendo testemunhado as piores atrocidades imagináveis.
Já conforme o Gabinete de Comunicação Social do governo em Gaza, as forças de ocupação bombardearam mais de 10 centros de “deslocados” administrados pela Organização das Nações Unidas (ONU) durante o bombardeio. As regiões escolhidas pelos sionistas para seu ataque são consideradas “seguras” – isto é, áreas em que o próprio Estado de “Israel” se comprometeu a não realizar qualquer tipo de investida contra civis. Entre os locais atingidos, estão os campos de refugiados de Shabura e Yibna, o bairro de Qishta e a área central ao sul da cidade de Rafá.
Até o fechamento desta edição, ao menos 45 palestinos já haviam sido mortos, dos quais 23 eram mulheres, crianças ou idosos. Dentre eles, dois membros da equipe médica do Hospital do Cuaite, um dos dois únicos de Rafá. A instalação acabou tendo de ser fechada na segunda-feira (27), um dia depois do ataque, restando um único hospital para tratar os mais de 250 de feridos, muitos dos quais com ferimentos graves.
Embora tenha sido de longe onde ocorreu o mais monstruoso dos ataques, Rafá não foi a única cidade atingida. No mesmo dia, nove palestinos morreram em consequência de um bombardeio no campo de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza. Uma criança foi morta e vários feridos resultaram do bombardeio de ocupação contra uma casa no campo de Bureij, também no centro da Faixa de Gaza. Por fim, ataques de aviões de guerra israelenses foram registrados na área de Al-Faluga em Jabalia, ao norte da Faixa de Gaza.
O massacre de Rafá é espantoso não apenas pelos números. Nem tampouco pela covardia de ter atacado uma região onde as pessoas vivem em tendas, praticamente sem comida e sem água. A forma como os palestinos em Rafá morreram também entrará para a história como um dos episódios mais cruéis da história recente.
De acordo com relatos do Crescente Vermelho, muitas pessoas foram queimadas vivas em suas tendas, como resultado das explosões.
“As pessoas morreram queimadas! Elas foram queimadas! Todas foram queimadas! O que mais eu deveria dizer?”, relatou desesperado um palestino à emissora catarense Al Jazeera. “Os mísseis caíram, explodiram, e todas as pessoas queimaram”.
Ainda mais chocante são os relatos das crianças desmembradas. “Recuperamos um grande número de corpos de crianças mártires do bombardeio israelense, incluindo uma criança sem cabeça e crianças cujos corpos se transformaram em fragmentos”, disse um paramédico palestino à agência de notícias turca Anadolu. Em um dos vídeos que registraram a barbárie sionista, um bebê aparece com a cabeça aberta, sem o cérebro, tamanha a violência do bombardeio.
Apesar de todo o sofrimento infligido por “Israel”, as forças de resistência não deram qualquer demonstração de que pretendem abandonar a luta pela libertação do povo palestino. Pelo contrário. Os Comitês de Resistência Popular declararam que “os massacres do inimigo e a escalada dos seus crimes não mudarão o fato de esta entidade estar num estado de derrota, colapso e fracasso“. Os ataques, inclusive, aconteceram pouco após a imprensa israelense declarar que 3.601 soldados ficaram feridos desde o início da Operação Dilúvio de Al-Aqsa e que “o exército enfrenta uma escassez de forças necessárias para manter as linhas de fronteira”.
O Hamas, por sua vez, diante do “terrível massacre a oeste de Rafá”, apelou “ao nosso povo na Cisjordânia e em Jerusalém, dentro e fora do país, para que se levante e saia em marchas furiosas“. Além disso, exigiu “a implementação imediata e urgente das decisões do Tribunal Internacional de Justiça” e “pressão para parar este massacre e o derramamento de sangue civil“.