A morte do presidente do Irã, Ebraim Raisi, gerou uma quantidade enorme de calúnias da imprensa burguesa. Da esquerda pequeno-burguesa, por sua vez, não era possível esperar a posição correta, que é a defesa do Irã. Entretanto, a situação é ainda pior. O jornal da Unidade Popular, A Verdade, publicou um artigo que parece ter sido retirado direto da Folha de S. Paulo. Intitulado Quem era o presidente iraniano que morreu em queda de helicóptero, o artigo mostra que a UP é mais uma organização de papagaios do sionismo.
Ela já começa em seu subtitulo: “Raisi era conhecido por fazer parte dos setores mais reacionários da república teocrática iraniana”. O tom fica claro desde então. A República Islâmica é chamada de teocrática, ou seja, é chamada de ditadura. A UP adere à campanha do imperialismo de que o Irã é uma ditadura. E ainda pior, Raisi seria o setor mais reacionário dessa ditadura. O que a UP quer dizer com isso? Que o governo é ultrarreacionário, pois Raisi era da ala do aiatolá Khameieni, o chefe de Estado do país.
Eles, então, comentam: “Ebraim Reisi era o oitavo presidente da República Islâmica do Irã e era membro de uma das facções mais reacionárias da República Islâmica. Raisi nasceu em 14 de dezembro de 1960 no bairro de Noqan, em Mashhad. Aos 20 anos, começou a trabalhar no sistema judiciário da República Islâmica sem ter qualquer formação jurídica, e posteriormente estudou teologia e ciências religiosas em Mashhad e Qom”.
Aqui, a UP não explica nada sobre a história de Raisi. Ignora que, em 1979, houve uma revolução operária no país e que ele era um dos militantes dessa revolução. Que ele começou a trabalhar no judiciário que surgiu do desmantelamento do aparato de repressão que havia sido criado pelo MI6 e pela CIA. Que, se ele tivesse formação jurídica antes, seria a formação da ditadura fascista do Xá. E que ele, em sua juventude, portanto, já demonstrou uma grande capacidade de articulação política. Fica implícito no texto que a UP é totalmente contra a Revolução de 1979.
O texto segue: “Ebraim Raisi era próximo dos radicais islâmicos Hossein Nouri Hamedani, Abolqasem Khazali e do líder da República Islâmica do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Ele também era genro do Imam de Mashhad e autoridade religiosa de Alamolhoda”. Esses “radicais islâmicos” são os revolucionários do Oriente Médio. O Fato de a UP seguir nessa política após sete meses de guerra na Palestina revela quão pró-imperialista é o partido. O mundo inteiro já viu como o Hamas, o Hesbolá e os governos do Irã e do Iêmen são progressistas.
Eles estão lutando contra o imperialismo e sendo violentamente atacados por conta disso. O Hamas, que é “radical islâmico”, é a resistência palestina. Se você está contra o Hamas, está a favor do sionismo, ou seja, a favor do nazismo do século XXI. O Irã é um grande proponente dos BRICS, de sua expansão, é um dos países com a política externa mais revolucionária do mundo e, no quesito interno, também está no topo da lista, mesmo sendo um governo islâmico. Mais importante que isso é o fato de que o governo foi fruto de uma revolução.
Logo depois, a UP afirma que Raisi foi um repressor brutal: “desde os anos 1980, Raisi esteve envolvido na execução de opositores da República Islâmica do Irã e foi um dos responsáveis pelas execuções em massa de 30 mil prisioneiros políticos no verão de 1988”. A história não é contado e nem quem são os opositores políticos. O partido stalinista ignora que o que acontecia em 1980 era a contra revolução! O Irã estava em guerra, o que abre margem para repressão mais violenta, e lutava contra os iraquianos, apoiados pelos EUA, e os monarquistas.
A história em si precisa ser estudada para esclarecimento. Porém, fato é que ela é irrelevante para o caráter atual do presidente. Primeiro porque a sua história passada é menos relevante que sua política atual, que não é nem mesmo comentada no artigo. Segundo, pois, na época, Raisi tinha apenas 28 anos e era vice-promotor, ele apenas teria participado do processo, outras pessoas estavam acima dele de fato organizando as punições. E, terceiro, um partido que se diz revolucionário deveria entender que, em uma revolução, principalmente em uma guerra, acontecem esses tipos de medidas.
Fato é que a UP adere totalmente à versão do imperialismo. Usa os números mais altos da estimativa de mortes, que varia de 2.500 a 30.000, e nem questiona a veracidade dessa informação que, diante das fontes, é muito pouco confiável. Se apoiando nos relatórios da Human Rights Watch, a UP ignora que Raisi foi eleito com 72% dos votos. Ignora que, após sua morte, centenas de milhares de iranianos saíram às ruas em sua homenagem. O partido é incapaz de entender que aqueles que lutam contra o imperialismo são populares.
Direto da OTAN
E fica ainda pior. O artigo nem mesmo foi escrito pela UP, apenas traduzido. O portal turco Evrensel, de onde ele foi retirado, acusa todo o Eixo da Resistência de ser de extrema direita! “A extrema direita em ascensão no mundo se manifestou no Oriente Médio com o fortalecimento de alguns representantes do islamismo político e o aumento do poder de certos grupos fundamentalistas. O ‘Eixo da Resistência’, fundado em 2002, começou a organizar novos grupos milicianos fundamentalistas. O Eixo da Resistência é uma formação que inclui estados e grupos como a República Islâmica do Irã, o governo de Bashar al-Assad na Síria e suas milícias, o Hesbolá no Líbano, milícias xiitas no Iraque, os milicianos Ansar Alá (Huti) no Iêmen e o Hamas na Palestina” (2023 no Oriente Médio: Um ano de guerras e novos equilíbrios).
Ou seja, a UP traz para o Brasil a posição do setor mais reacionário do Oriente Médio. Um jornal turco que ataca o Eixo da Resistência é equivalente a um jornal brasileiro que ataca a Venezuela e Cuba. O Eixo da Resistência também é radicalmente contra a OTAN, que tem um enorme controle sobre a Turquia. É uma posição totalmente pró-imperialista taxar todos esses grupos de extrema direita.
Qual a consequência concreta dessa política? Não se pode defender nem o Hamas e nem o Irã. Ou seja, na guerra entre ambos e o Estado de “Israel”, todos estão errados. É uma política de capitulação ao sionismo genocida, ao invés de apoiar aqueles que lutam contra os nazistas, os “revolucionários” da UP os acusam de fascistas! É uma posição que, na prática, se torna um apoio ao imperialismo. Algo que, infelizmente, não é nenhuma novidade para a UP.