Em meio às enchentes que afetaram mais de 90% das cidades do Rio Grande do Sul, que, por sua vez, é o nono maior estado em extensão territorial do Brasil, o “governador” Eduardo Leite foi à Folha de S.Paulo dar uma série de declarações que deixam claro que o pesadelo do povo gaúcho apenas começou. Ao ser perguntado sobre três questões fundamentais, Leite revelou que o seu plano não é uma mudança de rumo na política que resultou na morte de centenas de pessoas, mas sim o aprofundamento da pilhagem neoliberal que foi responsável por devastar o estado.
A primeira questão é a resposta de Leite quando perguntado sobre os avisos de que as chuvas causariam tamanho estrago. O próprio “governador” reconheceu que foi avisado, em seu gabinete, dos riscos que estavam sobre a mesa. No entanto, decidiu ignorá-los porque a “capacidade fiscal” seria mais importante, seria uma prioridade. Em outras palavras, que ele estava “certo” em destinar os recursos do Estado não à assistência social e à infraestrutura, mas aos bancos.
A destruição causada por Leite é tamanha que, mesmo após a catástrofe, a máquina pública ficou completamente paralisada. A defesa civil foi incapaz sequer de atuar no resgate de pessoas e no recolhimento de corpos, relegando isso ao conjunto da população.
Ao dizer que “tinha razão” em ignorar os apelos dos órgãos técnicos de seu próprio governo, Leite deu o recado: o que aconteceu em 2024 acontecerá de novo. E, provavelmente, de maneira ainda mais intensa, uma vez que a infraestrutura do estado não para de ser destruída.
A segunda declaração alarmante ocorreu quando Leite foi perguntado sobre a intervenção do governo federal na crise. Em meio a uma das piores catástrofes da história do Brasil, o governo federal fez o que seria o óbvio: criou uma secretaria especial para cuidar do caso, designou um responsável e tomou medidas extraordinárias para amenizar o sofrimento da população gaúcha.
Tal medida já seria necessária se o “governador” do Rio Grande do Sul não fosse um psicopata. Da forma como as unidades federativas estão hoje organizadas, os estados são incapazes de lidar com grandes crises, tamanho o seu comprometimento com as dívidas impostas pelos bancos. A arrecadação não é suficiente para uma intervenção de grande envergadura.
No caso do Rio Grande do Sul, no entanto, a intervenção federal é duplamente necessária. Isso porque Eduardo Leite demonstrou ignorar por completo as necessidades da população. Não é que Leite esteja simplesmente estrangulado, do ponto de vista orçamentário, pelos bancos. Ele é um funcionário dos bancos, uma pessoa que está lá para tornar os estados ainda mais endividados e comprometidos com os parasitas que assaltam o erário público.
Neste sentido, qualquer participação do governo federal deveria ser bem vinda para um governador que estivesse preocupado com a população. Mas não para Leite. Na entrevista, ele deixou claro o seu incômodo com a medida tomada pelo governo Lula e ainda fez questão de dizer que ele será o responsável por liderar a “reconstrução” do Rio Grande do Sul. Disse ele:
Disse ele:
“Naturalmente, o governo do estado tem um protagonismo que não é por vaidade ou interesse pessoal do governador, é pelo que o voto popular conferiu.
Nós somos uma federação, e uma federação composta por estados onde existem governos constituídos pelo voto popular para liderar um processo, não para mandar simplesmente. Não é para ser do jeito que eu quero, porque eu ganhei uma eleição, é para liderar o processo reunindo as forças da sociedade.
(…) Então, o que o ministério que o presidente Lula criou tem no nome, e entendo deva ser o que orienta a sua ação: é uma secretaria extraordinária para apoio à reconstrução. Todo apoio é bem-vindo. O apoio do setor privado, o apoio dos voluntários, o apoio das doações, o apoio da sociedade civil de diversas formas, o apoio do governo federal é bastante importante nesse processo.
O meu papel como governador não é o de fazer análises políticas, é de resolver o problema. Para resolver o problema, precisamos juntar as forças de todos, inclusive a do governo federal. O presidente apresentou o seu preposto para esta missão de apoiar a reconstrução, vamos trabalhar com ele, vamos juntar as forças para poder atender a população”.
Tudo isso dito de uma pessoa que destruiu o estado que deveria governar tem um significado muito claro. Leite hostiliza a intervenção do governo federal porque não quer uma intervenção em sua política. Leite não quer que Lula tente colocar o orçamento do estado à disposição das necessidades populares, construindo casas, gerando emprego e fornecendo a assistência social necessária. Eduardo Leite quer fazer como fizeram os norte-americanos no estado da Louisiana após a passagem do Furacão Katrina: fazer da catástrofe uma oportunidade para privatizar as escolas e liquidar ainda ainda mais os serviços públicos.