A catástrofe criminosa que tomou conta do estado do Rio Grande do Sul tem abalado a vida de toda a população gaúcha, mas, sem dúvidas, de forma particularmente intensa as mulheres.
É especialmente delicada a situação das mulheres grávidas que precisam de acompanhamento médico da gravidez e condições dignas para dar à luz.
Além disso, neste momento, em que várias cidades encontram se submersas e famílias inteiras estão impossibilitadas de voltar para casa necessitando se abrigar de forma improvisada, nas costas da mulher recai não apenas o seu próprio sofrimento, mas também a responsabilidade de tentar prover as necessidades fisiológicas e emocionais dos seus filhos, familiares idosos e muitas vezes de outras crianças que estão nos abrigos e cujos pais desapareceram.
Segundo depoimento da jornalista Télia Negrão ao Brasil de Fato, “as mulheres menstruam, estão acostumadas a ter hábitos de higiene mais intensos do que os homens. As mulheres cuidam das crianças e ali elas não têm acesso às fraldas, nem as descartáveis, ou as reutilizáveis que são lavadas, porque são lugares que não têm nem água, não têm banheiro, chuveiro, sabonete, xampu, sabão, detergente“.
A falta de itens de higiene para as mulheres e a falta de fraldas para as crianças também foi destacada pela presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDM), Fabiane Dutra: “a falta de água amplia o sofrimento. Devem ser garantidos banhos, absorventes higiênicos e fraldas. Componentes que não integram kits básicos. Isso é inaceitável, pois não é certo que as mulheres sofram de forma tão desproporcional nos momentos de crise“.
Além do sofrimento causado pela falta de condições materiais para cuidar de si próprias e dos outros, são as mulheres as principais abaladas pela perda e morte dos filhos, especialmente porque, em geral, eram sob os cuidados delas que estavam as crianças no momento da catástrofe.
Um caso que vem sendo repercutido em relação a isso é a trágica história da bebê Agnes.
A mãe de Agnes, Gabrielli Silva, moradora da cidade de Canoas, levava no colo Agnes, de apenas seis meses de idade, e sua irmã gêmea, junto com os outros quatro filhos. Então, o barco em que estavam virou e a bebê desapareceu em meio às águas turvas. Dias depois, foi encontrada morta.