O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, Ricardo Cappelli, que outrora ocupara um cargo de destaque no Ministério da Justiça e da Segurança Pública do governo Lula, anunciou recentemente que moverá uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a emissora Jovem Pan. O grande motivo? O próprio Cappelli esclarece:
“Depois de um dia de trabalho chego em casa e descubro que a Jovem Pan, que montou uma Fake News com minha foto dando a entender que eu era o diretor do presídio de Mossoró, está me processando por danos morais. Vamos ao STF, talvez dessa vez ela seja fechada, para o bem do Brasil.”
É inacreditável que um homem que é uma autoridade pública e chegou a ser apontado como possível indicado de Lula para o comando de um Ministério queira mover uma ação contra um órgão de imprensa simplesmente por ter mentido. Uma ação, diga-se de passagem, na mais alta Corte do País!
Imagine, leitor, em que mundo vive Ricardo Cappelli. Um mundo em que 11 juízes, que não são nada afeitos ao trabalho, tivessem de investigar cada mentira que é contada por aí. Tal coisa é impossível, e Cappelli sabe bem disso.
O ministro anunciou que iria processar a Jovem Pan porque acredita que é possível estimular o Judiciário brasileiro a punir não todas, mas algumas pessoas por “mentir”. Por si só, já é uma ideia antidemocrática, pois, se a Lei serve para punir uns e não a outros, é uma Lei arbitrária, que abre todo tipo de brecha para a perseguição política.
Mas não é só esse o problema. Cappelli, sabe-se lá por que, acredita que convencerá o Judiciário – aquele mesmo Judiciário que participou da prisão do hoje presidente Lula em 2018 – a perseguir a extrema direita. E por qual motivo? Porque, para Cappelli, o STF seria um pilar da “democracia”.
Na política, ninguém tem o direito de ser tão ingênuo. Menos ainda Ricardo Cappelli, dada a posição que ocupa no regime político. Contudo, há ainda mais. Se a experiência do golpe de 2016 não foi suficiente para entender como funciona o Judiciário, a experiência contemporânea é mais que suficiente para entender para que servem leis como as que se propõem a combater “notícias falsas”. Quem no mundo hoje está sendo banido por difundir “notícias falsas” não é o Estado de “Israel”, que possui agências profissionais da mentira. É a Al Jazeera, que denuncia o genocídio do povo palestino. Da mesma forma, quem está sendo perseguido por “discurso de ódio” não são os sionistas, que defendem a limpeza étnica de todo um território, mas sim pessoas como Breno Altman, que denunciam os crimes de “Israel”.
A essa altura do campeonato, não há mais como alguém de esquerda dizer que não sabe ao que a política de censura irá levar. O resultado já está escancarado na frente de todos: repressão em nome de um genocídio.
Ricardo Cappelli, contudo, não é o único burocrata esquerdista que continua defendendo a censura. Paulo Pimenta, que comanda a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, enviou, pela segunda vez, uma lista de nomes para que a Polícia Federal investigue a suposta propagação de “notícias falsas”. Valendo-se da crise no Rio Grande do Sul, Pimenta embarca na campanha sórdida da burguesia, que manipula os casos de grande comoção nacional para defender as políticas mais reacionárias.
O tal combate às “fake news” é também uma farsa. Afinal, visa apenas a combater emissoras e canais independentes ou com uma influência menor sobre o conjunto da população. E o que dizer sobre os grandes monopólios da comunicação? As duas maiores “fake news” sobre o Rio Grande do Sul foram divulgadas na grande imprensa, mas não há uma única pessoa que esteja esperneando contra tais órgãos. A Folha de S.Paulo, por exemplo, afirmou que o governo rejeitou a ajuda do Uruguai. E o SBT, por sua vez, veiculou que o governo estava multando os caminhões com ajuda humanitária. Por que nenhum dos casos é considerado “fake news“?
Se os bolsonaristas mentirem, há uma solução muito mais simples, objetiva, honesta e democrática a se tomar. Basta rebater, basta desmentir. O secretário de Comunicação da Presidência da República deveria se comunicar, e não reprimir as opiniões dissidentes. Deveria ir a público e falar: isto é mentira, isso é verdade.