Já estamos no terceiro dia desde que o Hamas aprovou a proposta de cessar-fogo feita pelo Egito e pelo Catar e desde que o gabinete de guerra do governo Netaniahu aprovou a invasão da cidade de Rafá.
Contudo, até o fechamento desta edição, as forças israelenses de ocupação permanecem realizando uma invasão limitada no sul da cidade, acompanhada de bombardeios de prédios civis (o que já estava sendo feito anteriormente). Não houve, ainda, uma invasão de todo o território de Rafá.
Apesar disto, a invasão limitada foi condenada por todas as organizações da resistência palestina, que emitiram nota conjunta já na terça-feira (7) através da qual condenaram o fechamento das passagens de Kerem Shalom e de Rafá e a destruição desta última.
Osama Hamdan, importante membro do birô político do Hamas e porta-voz do partido, declarou que a invasão da passagem de Rafá foi uma tentativa aberta de “Israel” de sabotar todos os esforços de mediação para alcançar um acordo de cessar-fogo, conforme noticiado pela emissora libanesa Al Mayadeen.
Quanto à Jiade Islâmica, seu secretário-geral, Al-Hindi, declarou que as ações militares de “Israel” no sul de Gaza não irão prosperar, e que a futura retirada das forças de ocupação de Rafá será mais uma derrota para o Estado sionista.
Denotando o aprofundamento da crise, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido declarou que eventual invasão (completa) de Rafá violaria a legislação humanitária internacional e não seria capaz de derrotar o Hamas. Contudo, mostrando o apoio do imperialismo ao genocídio, não disse se o Reino Unido realizaria algum tipo de retaliação contra “Israel”.
Quanto aos Estados Unidos, Lloyd Austin, secretário de Defesa, declarou, durante uma sessão no Senado norte-americano, que uma remessa de armas e munições foi suspensa após “Israel” ter desatado a invasão limitada a Rafá:
“Fomos muito claros […] desde o início que Israel não deveria lançar um grande ataque em Rafá sem prestar contas e proteger os civis que estão naquele espaço de batalha. E novamente, ao avaliarmos a situação, nós interromperam um carregamento de munições de alta carga.”
No mesmo sentido, conforme noticiado pelo órgão de imprensa sionista The Times of Israel, os Estados Unidos confirmaram que suspenderam a venda de bombas pesadas para “Israel”, temendo que elas fossem usadas em Rafá: “a administração Biden confirmou na noite de terça-feira relatos de que havia recentemente detido um grande carregamento de bombas de 2.000 e 500 libras que temia que Israel pudesse usar em uma grande operação terrestre na densamente povoada cidade de Rafá, no sul de Gaza”, noticiou o jornal.
Ressalta-se que não se trata de uma bondade por parte dos EUA, o principal financiador de “Israel” durante o genocídio destes últimos sete meses. Antes, é uma preocupação em não aprofundar ainda mais a crise na ocupação sionista. Sem contar no fato de que Austin ainda declarou que não foi tomada “uma decisão final sobre como proceder com esse envio”, o que significa que as armas e munições ainda podem ser enviadas israelenses.
Em resposta a isto, autoridades do alto escalão do governo Netaniahu teriam alertado ao governo Biden que a suspensão do envio de armas poderia prejudicar as negociações referentes ao cessar-fogo, conforme noticiado pelo portal norte-americano de notícias Axios. Uma chantagem entre o sionismo e o imperialismo.
Ainda no que diz respeito à preocupação do imperialismo e do sionismo quanto à invasão a Rafá, o jornal Haaretz, o segundo maior em termos de circulação em “Israel”, publicou matéria afirmando que a invasão de Rafá não apenas não permitirá a soltura dos prisioneiros israelenses, mas prejudicará as chances de que isto aconteça.
Enquanto isso, em Rafá, apesar da invasão terrestre de caráter limitado, aviões israelenses despejaram bombas com fósforo branco em áreas no leste da cidade, mostrando novamente o caráter criminoso da ocupação sionista. Além disto, a invasão limitada também fez com que a organização Cozinha Central Mundial anunciasse a suspensão de suas operações, especialmente em decorrência da ordem de evacuação emitida antes da invasão limitada dos sionista:
“As ordens de evacuação em Rafá forçaram várias cozinhas comunitárias apoiadas pela WCK a interromper a cozinha hoje.”
No que diz respeito ao controle da passagem de fronteira de Rafá, o Haaretz noticiou que o governo de “Israel” estaria negociando com “uma empresa privada nos EUA especializada em ajudar exércitos e governos em todo o mundo envolvidos em conflitos militares” para que ela assumisse o controle da fronteira de Rafá. “A empresa tem operado em vários países africanos e Países do Médio Oriente, que protegem locais estratégicos como campos petrolíferos, aeroportos, bases militares e passagens fronteiriças sensíveis. Emprega veteranos de unidades de elite do Exército dos EUA”, conforme noticiado pelo jornal sionista, e isto faria parte de um acordo com os EUA, que, da parte de “Israel”, envolveria realizar apenas um ataque limitado a Rafá.
Diante disto, a Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP) alertou que qualquer um que não seja palestino e que for encontrado na passagem de Rafá (que está atualmente sendo ocupada por “Israel”) será tratado como uma força ocupante, tornando-se alvo da resistência:
“Quaisquer planos para introduzir atores ou empresas de segurança não-palestinos na travessia estão fadados ao fracasso e só serão recebidos com fogo.”
Ante a ousadia dos sionistas em invadirem Rafá, mesmo que limitadamente, as organizações da resistência foram prontas em sua resposta. Na terça-feira (7), combatentes das Brigadas al-Qassam enfrentaram tropas sionistas que penetravam no leste da cidade de Rafá.
Da mesma forma, as Brigadas dos Mártires de al-Aqsa enfrentaram soldados israelenses e seus veículos militares que se infiltraram na região leste da cidade. Especificamente, alvejaram um veículo militar com um projétil de RPG.
Já as Brigadas al-Quds, da Jiade Islâmica, bombardearam um grupo de soldados israelenses e seus veículos militares nas proximidades do bairro de Al-Shouka, também na região leste, com uma barragem de foguetes do tipo 107 e morteiros de grande calibre. As informações são da emissora Press-TV.
Conforme dito por Osama Hamdan, porta-voz do Hamas, a invasão de Rafá “não será uma caminhada no parque”.