Nesta segunda-feira (6), o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) anunciou que aprovou a proposta de cessar-fogo apresentada pelos mediadores do Catar e do Egito que lhe havia sido apresentada dois dias antes. Além dos países citados, os garantidores desse acordo serão a Organização das Nações Unidas (ONU) e os Estados Unidos, conforme noticiado pela emissora libanesa Al Mayadeen.
Conforme está sendo noticiado em vários órgãos de imprensa, a ação do Hamas pegou “Israel” de surpresa, encurralando politicamente o governo Netaniahu, dando-lhe a alternativa de aceitar o cessar-fogo e, finalmente, libertar os prisioneiros israelenses; ou então prosseguir no genocídio. Até mesmo um colunista do Haaretz, um dos principais jornais de “Israel”, declarou que o Hamas “deu um passo brilhante” e deixou o Estado sionista “envergonhado”, conforme noticiado por este Diário.
Em desdobramento do ocorrido, o portal de notícias norte-americano Axios, citando autoridades israelenses, noticiou que os EUA estavam cientes da proposta de cessar-fogo e de seus termos, mas não informaram “Israel”. Ainda segundo o Axios, o governo de “Israel” ficou de fato surpreso com a proposta, a qual teria novas cláusulas que não estavam presentes na proposta anterior, com a qual “Israel” havia concordado. Além disso, os sionistas teriam recebido o novo texto somente depois de que a aprovação do Hamas foi noticiada.
Logo na segunda-feira, quando o Hamas anunciou ter aceitado a proposta de cessar-fogo, acrescentando que a “bola está com ‘Israel’”, o Estado sionista aprovou a invasão de Rafá, cidade na Faixa de Gaza que faz fronteira com o Egito.
Apesar de órgãos de imprensa estarem noticiando que a invasão já iniciou, isto não é fato. Não há uma invasão generalizada de Rafá em curso. Após bombardear prédios civis, as forças israelenses de ocupação se limitaram a destruir a passagem fronteiriça de Rafá, fechar a passagem de Karem Abu Salem e realizar uma operação em uma pequena parte da região sul da cidade. Apesar disto, a ação foi devidamente condenada pelas demais organizações da resistência palestina, em declaração conjunta.
Sobre isto, é importante citar declaração anônima de um funcionário do governo israelense que falou à emissora norte-americana NBC News que a invasão de “Israel” a Rafá vai ser bem limitada, acrescentando que, apesar das ameaças de Netaniahu e da decisão unânime do gabinete de guerra, não haverá uma ofensiva terrestre em larga escala na cidade (em tese). O que foi confirmado por John Kirby, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança dos EUA, que declarou que a invasão israelense é de “escopo, escala e duração limitados”, e que, segundo lhe foi informado por autoridades israelenses, seria “limitada e projetada para impedir a capacidade do Hamas de contrabandear armas“.
Tudo isso é questionável. Afinal, enquanto isto ocorre, “Israel” já enviou representantes para conversar com mediadores para negociar a proposta de acordo aprovada pelo Hamas, para alterá-la a seu favor.
Segundo Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), trata-se de uma “proposta flexível”, acrescentando que “o fato de que o governo Netaniahu não aceite essa proposta mostra que eles estão em uma situação crítica e não podem fazer nenhum acordo como este, que é mais flexível”.
Comentando sobre o fato de “Israel” ainda não ter invadido Rafá, e de as próprias autoridades israelenses terem declarado que as operações no sul da cidade são limitadas, Rui Pimenta constata que “a situação de ‘Israel’ é muito complicada, muito delicada. Não podem aceitar nenhum acordo. Então eles terão que continuar [o genocídio] até que a coisa arrebente”.
Porém, caso “Israel” aceite o acordo, seria uma derrota para eles, quaisquer que sejam os termos desse acordo. “Seria [uma derrota], pois consolidaria o fato de que eles não conseguiram nada. O Hamas continua sendo a força predominante na Faixa de Gaza”, analisou Pimenta, acrescentado que “se eles aceitarem [o acordo], mostrará que a situação é muito pior que a gente imagina, para eles”.
Nesse sentido, vale ressaltar que Iraj Masjedi, o conselheiro do Comandante da Força Quds, do Corpo da Guarda da Revolução Islâmica do Irã, enfatizou que seu país apoia qualquer resultado alcançado pela Resistência, conforme noticiado pela Al Mayadeen.
Até o fechamento desta edição, as forças israelenses de ocupação não invadiram Rafá, apesar de todas as ameaças. Contudo, diante a operação que realizaram no sul da cidade, neste último dia, Osama Hamdam, importante membro do birô político do Hamas, e um dos porta-vozes do partido palestino, declarou que:
“A operação militar em Rafá, se realizada pelo inimigo, não será uma caminhada no parque para o exército de ocupação terrorista, que acabará arrastando os rabos do fracasso e saindo humilhado, como aconteceu em todas as áreas em que entrou na Faixa de Gaza, onde foi humilhado pelas mãos dos combatentes das Brigadas Al-Qassam, Saraya Al-Quds e da resistência palestina.”
Leia, abaixo, na íntegra, os termos da proposta de cessar-fogo aprovada pelo Hamas:
Fase Um
Um cessar-fogo temporário terá início, juntamente com a retirada das forças de ocupação israelenses do corredor de Netzarim [que atualmente serve como linha de demarcação dividindo o norte e o sul de Gaza].
As forças israelenses estão programadas para se retirarem das áreas orientais e residenciais de Gaza.
A aviação militar e a vigilância sobre a região cessarão por 10 horas diárias, estendendo-se para 12 horas nos dias de liberação de prisioneiros.
A entrada diária de 600 caminhões de ajuda, incluindo 50 caminhões de combustível, com 300 especificamente alocados para o norte de Gaza.
IOF [Forças de Ocupação de ‘Israel’] a se retirar completamente da Rua al-Rashid no terceiro dia, permitindo que os palestinos deslocados à força retornem para casa e que a ajuda humanitária entre sem obstáculos.
IOF se retirará das áreas centrais de Gaza no dia 22, incluindo o Eixo Nitzarim e a Rotatória do Kuwait.
Nos termos do acordo, a Resistência liberará prisioneiros israelenses, incluindo não militares, idosos e aqueles que estão doentes e com menos de 19 anos. Em reciprocidade, “Israel” liberará 30 crianças e mulheres palestinas para cada prisioneira israelense, com base em listas fornecidas pelo Hamas.
O Hamas liberará todas as soldados israelenses vivas em troca de 50 prisioneiros palestinos por soldado.
Três prisioneiros israelenses serão liberados no terceiro dia, seguidos por mais três a cada sete dias.
Durante a sexta semana, o Hamas liberará os prisioneiros civis restantes abrangidos nesta fase, com “Israel” liberando o número acordado de detentos palestinos.
No dia 22, “Israel” liberará todos os prisioneiros do acordo de Shalit que foram redetidos e quaisquer detentos mantidos após 7 de outubro de 2023.
O processo de troca é condicionado ao cumprimento dos termos do acordo, incluindo a interrupção das operações militares mútuas e a conclusão dos procedimentos legais necessários para evitar a repreensão de prisioneiros palestinos.
As sanções impostas aos prisioneiros e detentos palestinos após 7 de outubro de 2023, serão suspensas, e suas condições melhoradas.
As Nações Unidas e suas agências, incluindo a UNRWA, continuarão seus serviços em Gaza durante as três fases, iniciando a reabilitação da infraestrutura em todas as áreas de Gaza, acompanhada do equipamento civil de defesa e remoção de escombros necessários.
O acordo facilita a entrada de suprimentos necessários para abrigar os indivíduos deslocados à força que perderam suas casas durante a guerra, com no mínimo 60.000 unidades habitacionais temporárias.
Planos para a reconstrução abrangente de casas, estruturas civis, infraestrutura e compensação para os afetados terão início.
Fase Dois
O retorno de uma calma sustentável e a cessação das operações militares, com seu início.
O anúncio da cessação das operações militares precede a troca de prisioneiros masculinos.
Fase Três
A troca inclui todos os corpos e restos mortais de mártires da Resistência, palestinos e baixas do IOF [Forças de Ocupação de Israel] após a identificação.
Início da implementação de um plano de reconstrução para a Faixa de Gaza em três a cinco anos e compensação para todos os afetados.
O lado palestino se absterá de reconstruir instalações militares e infraestrutura militar.
O lado palestino não importará nenhum equipamento, matéria-prima ou outros componentes utilizados para fins militares.
O bloqueio completo à Faixa de Gaza será suspenso.
Reabilitação e operação de instalações essenciais, tais como hospitais, centros de saúde e padarias em todos os setores de Gaza, serão iniciadas em todas as fases do acordo.