Em pelo menos 12 Estados-membros da União Europeia, as autoridades estão adotando medidas extremamenteo repressivas, como a proibição preventiva de protestos com base no suposto risco a “ordem pública” e a “segurança”, conforme relatado pelo Fórum Cívico Europeu, com sede em Bruxelas, em um relatório recente.
Na França, o governo proibiu manifestações em defesa da Palestina, cancelaram conferências e até mesmo convocaram dois políticos de esquerda para interrogatório policial sob alegações de “apoio ao terrorismo”. Enquanto isso, na Alemanha, a entrada do ex-ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, no país foi proibida para evitar qualquer propaganda contra “Israel”.
Grupos de direitos humanos afirmam que as autoridades europeias estão intensificando a repressão aos protestos em defesa da Palestina, especialmente à medida que o massacre em Gaza polariza intensamente as opiniões em todo o bloco.
“Vemos leis contra o discurso de ódio e vemos leis contra o terrorismo sendo instrumentalizadas, sendo transformadas em armas para perseguir o que é um discurso legítimo segundo os padrões internacionais”, afirmou Julia Hall da Anistia Internacional.
Ela também destacou uma série de ataques contra manifestantes pacíficos, acadêmicos e qualquer pessoa que esteja solidária com os direitos humanos palestinos ou que critique o Estado de “Israel”. Muitas vezes, as pessoas que demonstram apoio aos palestinos são acusadas de defender o Hamas, serem “anti-sionistas fanáticos” (como se isso fosse uma crítica) ou até mesmo antissemitas.
Nas últimas semanas, cresceram as manifestações de apoio à Palestina e ao povo de Gaza nos Estados Unidos, seguidas por protestos de estudantes em universidades canadenses e países fora da América do Norte. Nos EUA, o os protestos se intensificaram após centenas de estudantes serem presos durante manifestações em campi universitários.
Na Áustria, o presidente conservador do parlamento, Wolfgang Sobotka, criticou o festival cultural Wiener Festwochen por convidar Yanis Varoufakis e a vencedora do Nobel de literatura francesa, Annie Ernaux. O diretor do festival, Milo Rau, rejeitou o pedido para desconvidar a dupla, dizendo que era “tão ridículo” chamar Ernaux de antissemita quanto seria chamá-la de “anti-francesa” por criticar seu próprio governo.
Além disso, na Alemanha, o grupo de campanha Jewish Voice (Voz Judaica), que se opõe ao apoio alemão a “Israel” e ao seu apartheid na Cisjordânia, teve as suas contas bancárias foram congeladas. Em outubro, a psicoterapeuta Iris Hefets foi presa em Berlim por carregar um cartaz que dizia “como israelense e como judia: parem o genocídio em Gaza”.
Enquanto a Alemanha defendia-se perante o Tribunal Internacional de Justiça contra a alegação da Nicarágua de estar facilitando um “genocídio” em Gaza, em Berlim, o jornal de esquerda TAZ condenava a “censura e a violência” contra o Congresso Palestino. “A Alemanha está aplicando dois pesos e duas medidas. Israel é avaliado de forma diferente de outros Estados”, afirmou o jornal.
Na Holanda, o Centro Europeu de Apoio Jurídico registrou 310 atos de repressão contra manifestações ou indivíduos em defesa da Palestina em toda a UE, desde o início do ano até outubro de 2023. Entre 7 de outubro e março, esse número mais que dobrou, chegando a 836 casos. Layla Katterman, uma das gerentes do centro, afirmou que esse número “é apenas a ponta do aicebergue”.
Censura, principal arma do sionismo
A repressão também se estende ao TikTok na Europa. Após os Estados Unidos, a ByteDance, empresa-mãe do TikTok, pode enfrentar outra batalha com governos europeus. A presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que “não está excluído” um possível bloqueio da rede social no bloco.
O TikTok também é investigada sobre prática de dados pela União Europeia e está sob pressão para se adequar à Digital Services Act (DSA), legislação que regulamenta os serviços digitais da Europa. A Comissão Europeia já tomou medidas contra o TikTok no passado, proibindo a plataforma em dispositivos de funcionários no início de 2023 e investigando suas práticas de dados.
O TikTok respondeu às críticas, anunciando um investimento significativo em um projeto chamado Projeto Clover, destinado a reforçar a segurança de dados. A empresa afirmou que planeja investir 12 bilhões de euros nos próximos dez anos nesse projeto.
“Esta lei inconstitucional é uma proibição do TikTok, e vamos contestá-la em tribunal. Acreditamos que os fatos e a lei estão claramente do nosso lado e, em última análise, prevaleceremos”, afirmou o TikTok em nota sobre o caso dos Estados Unidos.
Essas ameaças de bloqueio do TikTok surgem em meio ao aumento da repressão aos movimentos de solidariedade à Palestina na Europa. O TikTok, por não ser controlado diretamente pela CIA como o Google e o Meta, permite muito mais conteúdo em defesa da Palestina, o que fortalece os protestos.