Em café com jornalistas no dia 23 de abril, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou abertamente a política neoliberal. Segundo ele, “o problema é que aqui no Brasil tudo é tratado como se fosse gasto. Dinheiro para pobre é gasto, investimento em saúde é gasto, investimento em educação é gasto”.
A fala de Lula é uma resposta direta à grande imprensa, porta-voz do grande capital, que pressiona o governo para que corte ainda mais os investimentos nas áreas sociais do governo. A mesma imprensa, vale lembrar, fez campanha durante o primeiro ano do governo golpista de Michel Temer para que fosse aprovado o famigerado Teto de Gastos, que impunha um congelamento de 20 anos sobre o orçamento do governo.
De maneira até engenhosa, o governo Lula conseguiu, no primeiro semestre de seu novo mandato, derrubar o Teto de Gastos e implementar uma nova regra fiscal: o “arcabouço fiscal”. Segundo a nova regra, o governo poderia ampliar o valor empreendido nas áreas que considerasse necessárias, desde que, como contrapartida, aumentasse a arrecadação geral da União. Isto é, se antes a União estava condenada a não poder aumentar os seus investimentos ao longo de 20 anos, agora, ao menos, o governo teria permissão para fazê-lo, desde que tivesse êxito em aumentar a sua receita.
Na medida em que já foi feita a reforma tributária – isto é, a reforma na arrecadação de tributos – e em que as possibilidades de arrecadação por parte do governo vêm ficando cada vez mais restritas, a burguesia está aumentando a pressão para que o governo reduza os seus investimentos. Prevendo um teto para a arrecadação, resultado da sabotagem que faz ao próprio governo, expressa, por exemplo, na pressão para que a Petrobrás pague os dividendos extraordinários e na atuação de Roberto Campos Neto; os capitalistas estão em campanha para que Lula se comprometa com o “déficit zero” – em outras palavras, que ponha o pé no freio com investimentos sociais.
Lula, além de demonstrar sua insatisfação com a pressão, ainda prometeu aumento salarial “para todas as carreiras”, desafiando, assim, os economistas do grande capital.
No meio de tantas pressões contra o governo, que vem cedendo terreno tanto internamente, como na política internacional, as declarações de Lula são uma notícia positiva. Elas indicam que o presidente está considerando se empenhar em programas sociais e na criação de empregos, de modo a romper com a camisa de força econômica imposta pelos capitalistas.
Essa política é, afinal de contas, uma necessidade. O Brasil vive uma ditadura brutal do ponto de visa econômico, resultado, em grande medida, da ditadura militar e dos governos posteriores. O País foi levado a um endividamento tal que 60% do orçamento do governo federal está hipotecado pelos bancos. Se o governo decidir ficar nas mãos dos capitalistas, não sobrará um centavo sequer para a população. Sem apoio popular, por sua vez, Lula pode não conseguir sequer chegar ao fim do mandato.