O partido Movimento Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) anunciou que, caso “Israel” prossiga com seus planos de invadir Rafá (extremo sul da Faixa de Gaza, na fronteira com o Egito), as forças sionistas terão uma “surpresa” no local. Em entrevista à emissora libanesa Al Mayadeen na última quarta-feira (24), Ali Baraka, chefe do Departamento de Relações Exteriores do Hamas, declarou que as brigadas da região fronteiriça ainda não se envolveram na guerrilha, mas estão preparadas para entrar em ação.
Imagens de satélite divulgadas pela agência de notícias norte-americana Associated Press e analisadas pelo sítio The Cradle no último dia 23 indicam que dezenas de milhares de tendas do exército sionista foram levantadas próximo a Rafá entre os dias 9 e 21 de abril, um sinal de que a invasão estaria próxima. “Israel” não comentou a informação. O canal no Telegram Resistance News Network estimou que cerca de 40 mil tendas foram levantadas, o que permitiria abrigar cerca de 480 mil pessoas, considerando o cálculo estimado de 12 pessoas abrigadas por tenda.
Rafá encontra-se sobre ameça de invasão pelo menos desde fevereiro. Na época, a Organização das Nações Unidas (ONU) chegou a manifestar “preocupação” com a concretização da operação terrestre israelense.
“O diretor nacional do PMA para a Palestina, Matthew Hollingworth, descreve as ruas de Rafá como ‘cheias de multidões de pessoas’, observando que cada espaço disponível na cidade se tornou um abrigo improvisado”, escreveu a organização em seu sítio oficial. Após os ataques sionistas, mais da metade da população da Faixa de Gaza deslocou-se para a região, que saiu de uma população estimada em 70 mil habitantes antes da guerra, para mais de 1,5 milhão atualmente.
Além das tendas, na última quinta-feira (25), as forças de ocupação enviaram dezenas de tanques e veículos blindados para Kerem Shalom, na fronteira com Gaza e a apenas 6,5 quilômetros de Rafá. Um dia depois (26), o país artificial empreendeu ainda uma série de ataques aéreos à região palestina, responsável por um número ainda incerto de mortes, mas entre elas, um bebê tirado com vida da barriga da mãe morta, mas que não sobreviveu às duras condições impostas pelo cerco genocida que sofrem os palestinos.
Para o ex-major-general das forças de ocupação israelenses, Israel Ziv, o Estado sionista não deveria considerar a fala um blefe e disse acreditar que o Hamas está trabalhando em uma emboscada estratégica para tornar a invasão um “desastre para Israel”, segundo a Al Mayadeen. Conforme o órgão de notícias libanês, Ziv considerou ainda que “a operação de invasão de Rafá representa um alto risco, maior do que tudo o que a IOF fez em Gaza até agora”, conforme publicação do órgão em seu perfil oficial no X.
Former IOF Major General Israel Ziv said that the #Rafah invasion operation poses a high risk, one greater than everything the IOF has done in #Gaza so far.#Palestine https://t.co/7bqNzjM8gf
— Al Mayadeen English (@MayadeenEnglish) April 26, 2024
Expressando a preocupação do imperialismo com a questão, o ministro das Relações Exteriores e vice-primeiro-ministro da Itália, Antonio Tajani, disse trabalhar para evitar a invasão de Rafá. “O exército israelense está se preparando para o ataque a Rafá, e nós fazemos de tudo para evitá-lo“, disse Tajani a uma rádio italiana na última sexta-feira (26).
Já o secretário do Departamento de Estado norte-americano, Antony Blinken, deve viajar ao Estado de “Israel” na próxima terça-feira (30), segundo a agência de notícias italiana Ansa. Ainda conforme o órgão de notícias italiano, Blinken deve discutir a iminente invasão a Rafá com o governo de Benjamin Netaniahu.
Entre os palestinos, no entanto, pouco destaque foi dado à questão. Nos canais dos partidos revolucionários, sobram menções ao levante dos estudantes norte-americanos, mas há um número surpreendentemente pequeno de menções a Rafá, apesar dos indícios de que uma eventual invasão está cada vez mais próxima, o que poderia ser interpretado com um sinal de que há de fato um plano organizado para neutralizar uma eventual ofensiva sionista, como suspeita o ex-general Ziv.
Como que comprovando que o ex-militar sionista está certo, Ali Baraka declarou ainda à Al Mayadeen que “nos últimos 10 anos, foram feitos preparativos para esta batalha [de Rafá], com a Resistência se beneficiando das experiências de aliados na Síria e no Irã, que ajudaram na transferência de tecnologia militar“.
Sendo verdadeiras as informações da agência de notícias italiana Ansa, a ofensiva terrestre sobre Rafá pode se dar nos próximos dias. A essa altura, não proceder com a invasão poderia implicar em uma desmoralização demasiada ao cambaleante governo Netaniahu e ao próprio Estado de “Israel”.
A tranquilidade aparente dos árabes, no entanto, deve ser analisada com a lembrança da crise militar e política vivida pelos sionistas, que fracassou miseravelmente nas outras frentes de combate no território palestino. O número significativo de baixas obrigou o país artificial a uma fratura interna com os haredim (judeus ortodoxos, opositores da conscrição e do sionismo), indicando que as condições para empreender a operação terrestre são as piores possíveis. Deve-se acompanhar os desdobramentos, mas com a clareza de que uma crise ainda mais profunda da dominação sionista da Palestina deve se abrir com uma eventual invasão.