Nessa quarta-feira (24), o estado do Texas, nos Estados Unidos, enviou a tropa de choque da polícia para reprimir estudantes que se manifestavam em defesa da Palestina. Mais de 100 foram presos arbitrariamente na Universidade do Texas, local onde milhares de pessoas se manifestavam desde o dia 23, ocupando prédios do campus e protestando contra o reitor. Conforme imagens divulgadas nas redes sociais, os protestos eram pacíficos, mas, mesmo assim, foram duramente reprimidos:
Em determinado vídeo, vê-se um cinegrafista sendo derrubado, sem motivo, por policial da tropa de choque:
No dia seguinte à repressão, a seguinte nota foi publicada:
“TODO MUNDO DE OLHO EM RAFÁ! TIREM AS MÃOS DOS ESTUDANTES!
Enquanto o movimento estudantil explode nos EUA e no mundo — enfrentando uma esmagadora violência estatal na Cal Poly Humboldt, UT Austin, NYU, Columbia, University of Minnesota, Yale e USC — nossa luta continua centrada na Palestina. Gaza é o epicentro. Rafah, abrigando centenas de milhares de refugiados palestinos e se preparando para uma invasão sionista brutal, é o centro.
A recente implantação de violência estatal contra estudantes — incluindo tropas estaduais do Texas, policiais anti-motim da LAPD e NYPD, e a ameaça da Guarda Nacional na Columbia — confirma que nossa luta contra o estado policial está inextricavelmente ligada à luta anti-imperialista. Não estamos sendo brutalizados, gaseados, presos, suspensos e despejados por causa da “segurança do campus”. A repressão é uma resposta a milhares de estudantes se unindo contra um estado genocida e o governo que os financia. Isso é inaceitável para o império e seus capangas pagos.
Para os imperialistas, administradores e seus cães de guarda: vocês acenderam uma chama que não podem esperar controlar; cada ato de repressão é um balde de querosene; cada mentira alimenta as chamas. Nosso movimento só ficará mais forte, focará ainda mais e aprimorará suas táticas. Qualquer repressão que enfrentemos é uma fração do que nossos irmãos e irmãs em Gaza e na Cisjordânia Ocupada enfrentam todos os dias. É um preço que estamos dispostos a pagar se isso aproximar a Palestina, e o mundo, da libertação.
A Palestina tornou os riscos mais claros, nossa própria falta de liberdade mais nítida. Não pode haver retorno ao normal, não até que a libertação total seja alcançada; um grupo luta dentro do núcleo imperial, o outro no terreno hostil de seus satélites e colônias. Avante para os estudantes, braços entrelaçados com os lutadores — o mundo é nosso.”
Repressão policial também foi perpetrada no estado da Califórnia, onde a polícia prendeu arbitrariamente pelo menos 93 pessoas que protestavam na Universidade da Califórnia do Sul na noite do dia 24.
Vale ressaltar, contudo, que, no dia anterior, estudantes mobilizaram-se, cercaram uma viatura e conseguiram libertar outro estudante que havia sido arbitrariamente detido.
Ainda na Califórnia, estudantes ocuparam prédios dos campi da Universidade de Berkeley e da Universidade Politécnica de Humboldt:
Em ambas universidades, estudantes estão exigindo que as instituições rompam todas as relações com “Israel”. Em Berkeley, a seguinte nota foi emitida pelos manifestantes:
“Ao contrário de vocês, nós nos recusamos a assistir em silêncio. O momento de agir e lutar contra esse genocídio é agora. Não vamos recuar do desinvestimento, e não vamos esperar até que os palestinos se tornem uma menção de território nos e-mails dos administradores… Vamos retomar nosso campus e vamos desinvestir.”
Protestos e repressão também ocorreram na Faculdade Emerson em Boston, onde 108 estudantes que estavam acampados em um beco próximo da faculdade foram presas.
A respeito dos protestos em Boston, Estado de Massachusetts, na Universidade de Emerson, o Diário Causa Operária recebeu informações em primeira mão de correspondente local, relatando que “a violência policial está inacreditável. Ontem foram presos vários estudantes da Universidade de Emerson. Vários deles apanharam, seus celulares foram confiscados“, acrescentando que há movimentos sociais organizando membros para dar “suporte para os estudantes que foram presos“, seja médico, jurídico ou mesmo alimentação.
A correspondente ainda informou que, no estado de Massachusetts. estão ocorrendo vários protestos, tendo em vista o grande número de faculdades e universidades que lá existem. Em Harvard e no MIT (Massachusetts Institute of Technology), estudantes já estão acampados como um protesto em defesa do povo palestino.
Em Atlanta, na Universidade de Emory, a situação é ainda mais grave. Vídeos mostram agentes da repressão armados com armas automáticas fazendo a guarda de outros agentes da repressão, que prendem arbitrariamente estudantes que protestavam pacificamente contra o genocídio que “Israel” comete todos os dias na Palestina:
E não apenas estudantes, mas a própria presidente do Departamento de Filosofia da universidade foi presa por se opor ao genocídio:
Protestos ocorrem em várias outras universidades e faculdades nos Estados Unidos. Foram iniciados pelas manifestações no Estado de Nova Iorque, que começaram no dia 17, quando estudantes acamparam na Universidade de Columbia. Após a instituição chamar a polícia da cidade para dispersar os protestos, cerca de 130 estudantes foram presos.
Contudo, muitos ainda continuam lá, de forma que, nesta segunda-feira (22), todas as aulas passaram a ser realizadas na modalidade EAD (ensino à distância). Como medida para conter a mobilização dos estudantes, impedindo que trabalhadores nova-iorquinos se juntem, o acesso à universidade foi fechado sob ordens da administração, só podendo entrar na área onde os manifestantes estão acampados quem estiver identificado como estudante, professor ou funcionário, segundo informou Max Hiersteiner, músico judeu, morador de Nova Iorque, defensor da Palestina, em depoimento exclusivo ao Diário Causa Operária. Leia, abaixo, seu relato:
“Na segunda-feira, 22 de abril, fui à Universidade de Columbia para conferir os protestos. Fui até a entrada do pátio na 115th com a Broadway. Não estava muito lotado porque, no último minuto, a administração mudou todas as aulas para online. Então não havia gente lá. Acho que fizeram isso porque era Páscoa… Provavelmente disseram que fizeram isso por causa da Páscoa, mas tenho certeza de que fizeram isso por causa dos protestos. Não consegui ver o acampamento, mas me reuni do lado de fora da cerca e cantei alguns cantos. Provavelmente havia cerca de 200 pessoas lá e muitos policiais. Havia muitos policiais.
Então passei algum tempo lá e depois peguei o trem até a rua West 4th, onde estava acontecendo o acampamento da Universidade Nova Iorque. Era em frente à escola de administração da universidade. Houve muitos cantos, tinha muito mais gente. E eles também fizeram algumas orações. A presença policial era muito grande, mas havia muita gente lá. E eu precisava ir embora, então saí antes de escurecer, que geralmente é quando as coisas ficam meio complicadas com os manifestantes e a polícia. Mas foi bom ver todo mundo lá fora, e embora não houvesse uma grande presença de manifestantes no momento em que fui, pude sentir que o que está acontecendo na Columbia e na Universidade Nova Iorque está talvez desencadeando um efeito dominó para que outros campi universitários sigam seus passos e acredito que isso fará a diferença. Já está nas manchetes. Muitos desses movimentos começam nos campi universitários, você sabe, com a Guerra do Vietnã e coisas assim, então estou me sentindo muito esperançoso, e você tem que dar crédito a esses estudantes que realizam essas greves e protestos.”
Enquanto manifestantes eram presos no Texas e na Califórnia, o parlamentar Mike Johnson, o Republicano presidente da Câmara dos Representantes (o equivalente norte-americano à Câmara dos Deputados), esteve na Universidade de Columbia, onde, em seu discurso, ameaçou mobilizar a Guarda Nacional contra os estudantes e demais cidadãos que estão se manifestando na universidade em defesa da Palestina.
Conforme noticiado pelo Político, órgão da imprensa imperialista dos EUA, a Casa Branca negou o pedido de Johnson, deixando a repressão na mão dos governadores.
Demonstrando que a repressão que já foi desatada logo nos primeiros dias de protestos, e que a ameaça de mais repressão não os intimida, os estudantes da Columbia divulgaram um chamando por “Duas, Três, Muitas Columbias”, convocando outros manifestantes para “Escalar por Gaza” (escalar, no sentindo de intensificar a luta). Leia, abaixo, a nota na íntegra:
“Incapaz de sufocar os protestos com força bruta, a Universidade de Columbia está agora optando pela contra-insurgência, tentando (e falhando) usar líderes estudantis para dividir e policiar os manifestantes. Nacionalmente, vendo a resiliência e o crescimento do movimento após confrontos em NYC e Humboldt, as universidades cada vez mais buscarão esse método de contenção: cansar os acampamentos, dividir os manifestantes internamente e nomear líderes complacentes se eles ainda não existirem. Em resposta, o movimento deve rejeitar essa lógica.
Em vez disso:
- Priorizar a unidade, o crescimento dos acampamentos e a continuação da interrupção
- A linha entre estudantes e não estudantes deve ser confusa e ignorada
- Nenhuma pessoa ou organização pode representar um acampamento inteiro
- Negociações não nos levarão a lugar nenhum: isso é sobre parar o genocídio
Os últimos dias viram os piores bombardeios em Gaza no último mês, exatamente quando a Câmara dos Deputados dos EUA aprova mais $26 bilhões em ajuda para genocídio. Ainda não conseguimos impactar a máquina de guerra. Para impactar materialmente e parar o genocídio, os acampamentos precisam perturbar suas logísticas, vendo a universidade americana como uma faceta delas.
Obedeçam ao chamado de Gaza: INTENSIFIQUEM!
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Não vamos nos entediar. Usaremos os acampamentos e ocupações de prédios para desenvolver continuamente nossa inteligência coletiva e expandir a capacidade de ação. Estaremos prontos para revidar quando atacados.
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Estamos ao lado de nossas comunidades. A distinção entre estudante e não estudante só reforça os portões entre a universidade e suas comunidades circundantes. Ao rejeitarmos essa diferença, abrimos os portões.
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Estamos unidos. Os horrores cometidos em Gaza exigem uma intensificação de nossa luta. Não renegaremos quaisquer ações tomadas para intensificar a luta, sejam elas greves de fome ou ações diretas militantes.
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Ninguém fala por nós. Falamos por meio de nossas ações. Nenhuma pessoa ou organização pode representar qualquer acampamento ou negociar em seu nome.
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Não aceitaremos nada menos do que o fim do genocídio em Gaza. Isso significa condenação total e ruptura do apartheid em todas as suas formas aqui e no exterior, incluindo cidades policias em todo lugar.”
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Conforme noticiado pelo canal de notícias Resistance News Network, no Telegram, “em 24 horas, o número de acampamentos registrados em apoio a Gaza nos campi universitários nos EUA, Austrália e França dobrou, exigindo um recuo do sionismo. O número total de acampamentos registrados em todo o mundo em apoio à Palestina subiu para 41, com 38 universidades nos EUA relatando acampamentos em apoio à Palestina“.