Na última quarta-feira (24), Mumia Abu-Jamal (pseudônimo de Wesley Cook), jornalista, militante da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e antigo membro do partido Panteras Negras, completou 70 anos. Jamal está preso desde 9 de dezembro de 1981 e foi condenado em 1983 após matar um policial que espancava William Cook, seu irmão, na cidade da Filadélfia. Desde então, trabalhadores, estudantes, intelectuais, militantes e ativistas da esquerda mundial têm feito campanha pelo fim de seu cárcere.
No dia de seu aniversário, manifestações pela sua soltura aconteceram em diversas cidades. Na Filadélfia, onde o militante se encontra encarcerado, ativistas reuniram-se em frente à Prefeitura, onde fizeram abaixo-assinados por sua libertação. Está previsto ainda um encontro reunindo palestrantes entre personalidades políticas norte-americanas e organizações como Marc Lamont Hill, Johanna Fernandez, Pam Africa, Cornel West, Vijay Prashad e a organização palestina Samidoun.
Além desta cidade, outras manifestações ocorreram em cidades de outros países, como Paris, na França; Frankfurt e Berlim, na Alemanha; Londres, na Inglaterra; Cidade do México, no México; Remire, na Guiana Francesa; Berna, na Suíça; e, finalmente, Houston, Detroite, Washington D.C. e São Diego, nos EUA.
Na capital francesa, a manifestação pela liberdade de Jamal foi convocada pelos organizadores do sítio da campanha “Libérons Mumia!”, que, em nota convocatória, publicada no último dia 20, convocou uma “mobilização internacional” em defesa do jornalista:
“Sem a mobilização internacional, Mumia não teria nenhuma esperança de sair do inferno carcerário, pois sua sentença perpétua não tem possibilidade de liberação condicional. Sua saúde muito deteriorada justificaria, no entanto, essa medida imediata e humana para que ele finalmente possa se reunir com sua família e receber cuidados adequados ao seu estado.”
O sítio informa também que, por ocasião dos 70 anos do preso político, “uma delegação francesa viajará para os Estados Unidos nos próximos dias para levar essa exigência às autoridades americanas e participar da manifestação que ocorrerá em Filadélfia em 24 de abril”. Segundo os organizadores, na ocasião, será entregue uma “lista dos 1.000 apoiadores da França que estão interpelando o Governador da Pensilvânia e o Procurador de Filadélfia, pois eles detêm o poder constitucional de devolver sua liberdade”. No dia seguinte, está previsto um encontro da delegação com “Mumia na prisão de Mahanoy”, o que, nas palavras dos organizadores, é “um momento sempre muito esperado”.
O sítio pede ainda que apoiadores enviem cartas ao jornalista para pressionar “as autoridades penitenciárias, políticas e judiciais” dos Estados Unidos.
O jornal francês l’Humanité publicou uma matéria a respeito do militante, apresentado pelo órgão como “um dos prisioneiros políticos mais conhecidos do mundo e um símbolo da luta pela abolição da pena de morte”.
“O Partido Comunista [da França], assim como o Movimento dos Jovens Comunistas da França (JC), têm feito campanha pela justiça para Mumia Abu Jamal desde o início“, disse o senador francês pelo PCF Ian Brossat em artigo assinado também publicado no l’Humanité. O parlamentar destaca ainda sua própria ligação com a causa da liberdade do jornalista negro dos EUA:
“Entrei para o JC em 1993. Na época, eu tinha 13 anos. Os primeiros cartazes que coloquei eram de Mumia, pedindo sua libertação e uma revisão de seu julgamento. Essa luta permaneceu comigo por toda uma geração. Visitá-lo nos Estados Unidos em seu 70º aniversário é importante para mim: é uma forma de dizer que não devemos esquecê-lo.”
Também ao órgão francês, Jamal enviou uma gravação, agradecendo o apoio recebido pelos franceses e chamando uma luta unificada, não apenas por sua liberdade, mas também pela Palestina, o que seriam “movimentos interligados”, disse o jornalista preso. Veja a transcrição do áudio abaixo:
“Obrigado, meus amigos, por seu apoio e por me darem esta oportunidade de me expressar. Gostaria de compartilhar com vocês meus pensamentos sobre as lutas que estão ocorrendo atualmente em Gaza e nos Estados Unidos. Esses movimentos de resistência estão ligados? Acho que todas as formas de protesto e luta, sejam elas nacionais ou internacionais, estão ligadas do ponto de vista dos direitos humanos.
É claro que existem diferenças locais. Acabei de ler um artigo do acadêmico americano Greg Thomas sobre o revolucionário afro-americano George Jackson. Ele disse que há uma comunidade negra notável em Gaza e na Palestina, que remonta à época do Império Otomano. Você não pensaria em Gaza quando pensa na luta pelos direitos civis e dos negros.
Mas posso lhe garantir que há afro-palestinos nessa região. E embora seus ancestrais possam ter vindo da África e das guerras entre otomanos e mamelucos, hoje eles lutam por libertação, dignidade e direitos humanos no sentido mais profundo do que isso significa. Todas as lutas estão ligadas, queridos camaradas franceses.”
Condenado à morte na ocasião de seu julgamento, Jamal teve sua pena alterada para prisão perpétua em 2011, sem direito à liberdade condicional. Da cadeia, porém, manteve sua produção jornalística, escrevendo em órgãos de todo o mundo. Um deles, o alemão Die junge Welt, também publicou matéria convocando uma mobilização pela liberdade de Jamal em seus 70 anos, destacando a publicação em alemão de seus textos desde dezembro de 2000.