No coração do imperialismo, um dos grupos mais vocais em apoio à Palestina é composto por judeus. Para quem acompanha apenas o noticiário brasileiro das empresas de comunicação convencionais, pode ser surpreendente saber que historicamente existem grupos de judeus antissionistas. Com o ataque israelense à Gaza, esses grupos intensificaram sua mobilização e têm ganhado destaque no debate sobre a questão palestina.
Os judeus antissionistas incluem tanto grupos religiosos quanto não religiosos, ativistas, artistas e intelectuais, formando uma população socialmente diversificada que lança luz sobre a propaganda sionista.
Em 18 de outubro de 2023, quase duas semanas após o início do ataque de “Israel” à Gaza, mais de mil manifestantes se reuniram do lado de fora do Capitólio americano exigindo um cessar-fogo. Entre eles, dezenas de judeus norte-americanos vestindo camisetas pretas com os dizeres “não em nosso nome”, destacando-se na luta contra o genocídio em Gaza.
After the US voted against Brazil's resolution at the UN Security Council, hundreds of Jews occupied the Capitol in Washington to demand an immediate ceasefire in the Gaza Strip and tell the Israeli government: "Not in my name." Protests are growing across the world against the… pic.twitter.com/gNS97gSXSy
— Gaza prevails 🇵🇸 (@ammrye) October 19, 2023
A Voz Judaica pela Paz, uma organização grande e frequentemente uma grande colaboradora dos protestos, se autodescreve como a “maior organização anti-sionista judaica progressista do mundo”. O grupo organiza um “movimento popular, multirracial, interclassista e intergeracional” de judeus dos EUA em solidariedade à Palestina.
A Voz Judaica pela Paz e o IfNotNow, outro grupo judaico crítico de “Israel”, têm organizado comícios anti-guerra e relatam um aumento no número de membros desde o início do massacre em Gaza. Os judeus norte-americanos organizados têm mostrado ao mundo que “Israel” é um projeto de colonização sionista que não fala em nome de todos os judeus nem representa um refúgio para o judaísmo.
O Rabino Yisroel Dovid Weiss, uma figura proeminente dentro do movimento Judaico Ortodoxo Neturei Karta nos EUA, enfatiza que os princípios fundamentais do Judaísmo estão enraizados “na compaixão e na adesão aos mandamentos de Deus”, contrastando fortemente com a ideologia do sionismo.
O Rabino Weiss destaca ainda que as reivindicações sionistas sobre a terra da Palestina sob o pretexto de direitos religiosos são falsas e enganosas, condenando a manipulação de símbolos religiosos como o nome “Israel” e a Estrela de David para angariar apoio global.
O povo dos EUA já demonstra repulsa em relação ao lobby israelense, levando um grupo de mais de 100 ativistas judeus liberais a declarar, em uma carta conjunta publicada, que “se opõem fortemente às tentativas da AIPAC de dominar as eleições primárias democratas”.
Após dezenas de militantes que lutavam pela Palestina terem sido presos na Universidade de Columbia sob o pretexto de que seriam protestos contra os judeus, ficou evidente que um número significativo de ativistas era do grupo Voz Judaica pela Paz. Isso deixou ainda mais evidente que os protestos eram contra a guerra e não tinham nada de antissemita.
A juventude tem se posicionado a favor da Palestina. Uma pesquisa da YouGov realizada no final de outubro de 2023 concluiu que, na atual guerra em Gaza, os norte-americanos com idades entre 18 e 29 anos simpatizavam mais com os palestinos do que com os israelenses. As gerações mais jovens, mais sintonizadas com a justiça social, veem “Israel” como o agressor e reconhecem os palestinos como a população oprimida.
Outra razão para a divisão é a crença religiosa. Os jovens norte-americanos se identificam menos como conservadores ou cristãos evangélicos, grupos demográficos muito mais favoráveis à ocupação israelense. Pesquisas realizadas entre 2012 e 2024 identificaram uma tendência de declínio e polarização do apoio a “Israel” entre norte-americanos com várias afiliações políticas, idades e etnias.
A deterioração das condições de vida e os problemas domésticos colocam em questão o envolvimento dos EUA no conflito. Ao observar o agravamento da situação atual, como violência urbana, crise de drogas, sistema de saúde em ruínas e crise imobiliária, não é difícil perceber de onde vem a frustração de centenas de milhares de jovens. Diariamente, eles veem seu país investindo bilhões de dólares para promover um genocídio em vez de resolver seus próprios problemas.
Para os principais meios de comunicação que apoiam “Israel”, a história começa em 7 de outubro. A resistência palestina, motivada apenas pelo “ódio aos judeus”, começou a assassinar implacavelmente os israelenses. Apenas os meios de comunicação alternativos e o jornalismo independente ousaram questionar a verdade e dar voz aos palestinos, permitindo subsequentemente que um público mais amplo visse finalmente o outro lado do conflito.
Entretanto, os sionistas têm usado extensivamente seus falsos argumentos para silenciar aqueles que questionam a agressão israelense, rotulando-os de antissemitas. Qualquer um que critique os métodos genocidas de “Israel” é rotulado de antissemita.
Ao debater com apoiadores de “Israel”, é comum ouvir: “Não se trata de se preocupar com os palestinos, trata-se de puro antissemitismo”.
O psiquiatra e escritor húngaro-canadense, Dr. Gabor Maté, um sobrevivente do Holocausto, expressou em uma entrevista a Piers Morgan que chorou “todos os dias durante duas semanas” com o que viu quando visitou a ocupação israelense durante a primeira Intifada. Dr. Maté divulgou que, como ex-sionista, o movimento era muito importante para ele como “uma salvação para o povo judeu” até descobrir que se baseava na expulsão e “múltiplos massacres” da população nativa.
"Piers, you have to go there to see it for yourself, as I have. And you would cry every day for two weeks as well."
Holocaust survivor Dr Gabor Maté tells Piers Morgan to visit Gaza to fully understand the scale of suffering there.@DrGaborMate | @piersmorgan | @TalkTV | #PMU pic.twitter.com/grld5nksXD
— Piers Morgan Uncensored (@PiersUncensored) November 28, 2023
A versão distorcida da realidade promovida pelos especialistas sionistas durante 70 anos está agora se desmoronando ao vivo.
“Judeus que odeiam a si mesmos”
Além de acusar os não-judeus de antissemitas, nos EUA, os sionistas gostam de chamar os judeus antissionistas de “judeus que odeiam a si mesmos” – da expressão em inglês self-hating jews.
Em uma entrevista recente com Candace Owens, uma popular ativista de direita, o professor judeu-americano Norman Finkelstein deixou claro e conciso expressando que não era pró-palestino ou pró-israelense, mas simplesmente “pró-verdade e pró-justiça”. Finkelstein tem sido intensamente caluniado durante décadas por sua posição sobre “Israel”, bem como por seus muitos escritos que documentam como a a burguesia judaica dos EUA usou o genocídio dos judeus na Segunda Guerra Mundial para obter vantagens políticas e financeiras para promover os objetivos israelenses.
Israel vs. Palestine with Norman Finkelstein pic.twitter.com/8mVKz1B6cl
— Candace Owens Podcast (@CandaceOwensPod) November 17, 2023
O conhecido sionista, Leon Wieseltier, ex-editor da Atlantic, o chamou de “veneno” e de “judeu nojento e que odeia a si mesmo”.
Wieland Hoban, presidente do Jüdische Stimme (Voz Judaica) da Alemanha, um movimento de paz contra o apartheid, disse recentemente à Euronews que seus membros são frequentemente chamados de “fantoche sem noção, idiotas úteis ou judeus que se odeiam” e acusados de desrespeitar a memória dos sobreviventes do Holocausto. Contudo, Hoban comentou:
“Não há contradição inerente entre ser judeu e apoiar os direitos palestinos”.
Qualquer resistência contra a ocupação israelense é considerada religiosamente fanática e motivada pelo “islamismo radical”. Uma mentira descarada que tenta distorcer a verdadeira natureza por trás da resistência ao apartheid.