Na última terça-feira, 23 de abril, o petista Alberto Cantalice publicou em sua conta no X um texto destacando um artigo do Valor Econômico, veículo do capital financeiro, intitulado Brasil sobe no ranking dos destinos mais atrativos para o investimento estrangeiro. Cantalice, para tanto, utilizou a China como exemplo econômico a ser seguido:
“O que transformou a China na potência econômica que é hoje foi a capacidade de atração do investimento estrangeiro.
A combinação de custo baixo da mão de obra, a previsibilidade e o amplo mercado de consumo que foi sendo integrado progressivamente, eliminou a miséria e tirou a China do atraso secular.
A transferência de tecnologia, o desenvolvimento das forças produtivas e as parcerias entre o Estado e o mercado colocaram o país como a segunda economia do mundo.
A miséria na China não existe mais.”
Sobre a mão de obra
O “baixo custo da mão de obra” a que se refere Cantalice nada mais é que o resultado de uma derrota da Revolução Chinesa, que levou o país a ceder seus trabalhadores como mão de obra escrava para o capital internacional, fator importante para consolidar a política neoliberal e permitir um reerguimento parcial do capitalismo após a crise de 1974. A chamada previsibilidade é a previsibilidade da rapina do orçamento do Estado, que não deve ser empregado em prol dos trabalhadores, e o amplo mercado de consumo, uma fonte para a dominação estrangeira. Não são esses os fatores para o desenvolvimento nacional, sendo o ocorrido na China uma série de eventos contraditórios pelo fato de lá ter havido uma revolução. Num país como o Brasil, essa seria a política de destruição econômica e das condições de vida da população.
Sobre a indústria
Ao invés de um desenvolvimento nacional a partir das próprias forças do país, Cantalice defende o que se pode afirmar como uma colonização. O aferimento do investimento estrangeiro, como se entende hoje, não é sobre o desenvolvimento industrial, mas em grande medida à capacidade de rapina do capital internacional sobre a economia. A transferência de tecnologia e desenvolvimento das forças produtivas, pelo contrário, são impedidos pelo “investimento estrangeiro”. O fato é até citado pelo Valor:
“Uma mostra da importância do contexto geopolítico e do receio sobre medidas protecionista [sic] são as mudanças na lista de prioridades que o investidor institucional tem ao pensar sobre onde deseja alocar seu investimento.”
Protecionismo significa, nesse contexto, a proteção da indústria nacional, ou seja, o desenvolvimento das forças produtivas nacionais. O jornal prossegue na descrição do projeto imperialista:
“O interesse do investidor no Brasil está mais voltado a [sic] mineração, ao agronegócio, toda essa indústria de base atrai bastante investidor. A questão é: para não corrermos o risco de ter um novo voo de galinha, é preciso usar essa chance para viabilizar investimentos em infraestrutura e acompanhar essa maior demanda por exportação.”
Mineração e agronegócio significam justamente o oposto de desenvolvimento industrial, mas o fortalecimento da base primária da economia, de exportação de produtos não industrializados, de matéria prima, como o minério de ferro. Em oposição a isso ocorre o desenvolvimento industrial, com o estímulo à indústria siderúrgica, por exemplo, entre outras áreas, em oposição ao investimento em exportação de produtos com nenhum ou pouco valor agregado, como soja, laranja, carne e minério.
O artigo cita ainda o projeto do Ministério dos Transportes para atrair investimentos em rodovias e ferrovias; no entanto, o trecho Rio x São Paulo, que liga os dois pólos econômicos do País não possui até hoje uma ferrovia. Seria por falta de estímulo para a iniciativa privada? A citação a seguir evidencia nosso ponto:
“O governo Javier Milei tem prometido reformas para estabilizar finanças do país, o que atrai o investidor. E as oportunidades lá são parecidas com a do Brasil: a Argentina é muito rica em recursos naturais importantes para a transição energética, como o lítio. Se daqui 30 anos queremos ser emissão líquida zero de carbono, vamos precisar minerar mais do que em todo o restante da história da humanidade.”
Nas próprias palavras do citado pelo Valor, essa é a política de Javier Milei, o que podemos traduzir também para: essa é a política da direita brasileira, do neoliberalismo.
Sobre a transferência de tecnologia
O ponto colocado por Cantalice é curioso. Os exemplos mais recentes dessa transferência foram a exploração junto à Petrobrás de empresas estrangeiras, a compra da Embraer pela Boeing, ou seja, a transferência de tecnologia nacional para o exterior, não o contrário.
Pela defesa tão debruçada da política neoliberal, uma defesa escancarada, surpreende o fato de que Alberto Cantalice esteja num partido de esquerda. Pior, o partido que está na presidência do País, e cujo projeto de governo seria oposto ao que defende Cantalice.