O portal da corrente Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR), do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), publicou um artigo chamado Ataque de retaliação do Irã: do banho de sangue em Gaza à beira de uma conflagração regional, originalmente publicado em hebraico pelo grupo ligado à LSR em “Israel”. Talvez justamente por isso, as considerações e as conclusões do texto sejam as mais genéricas possíveis, evitando dizer qual posição de fato os trabalhadores e a esquerda deveriam tomar.
Embora o texto condene o genocídio israelense em Gaza, o texto faz análises evasivas sobre os acontecimentos. Devemos apoiar a Resistência Palestina, em particular o Hamas? Qual a importância do Irã na situação?
Enfim, quando chegamos às conclusões do artigo, esperando algo concreto ao menos aí, o texto reforça suas generalizações:
“opor-se à agressão militar do governo de direita israelense e à intervenção imperialista na região, seja do oeste ou do leste.” O que o texto quer dizer com “intervenção imperialista do oeste e do leste”? Impossível saber se consideram que a ação iraniana seria de tipo imperialista, o que seria uma colocação absolutamente ridícula. Mas é possível afirmar que o grupo acredita que Rússia e China, parceiros do Irã, são imperialistas, embora no artigo se reconheça que “Washington é o principal facilitador e incentivador do banho de sangue em Gaza e do processo de confronto regional”.
O principal culpado são os Estados Unidos, mas a Russia e a China seriam igualmente ruins. O regime de Netaniahu é um “governo de sangue”, mas não seria preciso lutar genericamente contra “todos os regimes opressores”: “Derrubar o ‘governo de sangue’ israelense e lutar contra todos os regimes opressores da região”. Novamente fica a dúvida: o Irã seria um desses “regimes opressores”?
Se entre esses regimes o artigo inclui o Irã, então o grupo que o escreveu deveria responder como pretende lutar contra o banho de sangue sem uma frente única com o Irã, reconhecidamente o principal apoiador dos grupos revolucionários que estão lutando contra Netaniahu. Os “demais regimes opressores” da região, como a Arábia Saudita, estão com “Israel” e os Estados Unidos.
Em troca de uma posição clara, o grupo conclui seu texto com mais generalizações: “A favor de uma luta de massas pela libertação nacional e social da Palestina e pela paz regional, com base em um direito igual à existência e à autodeterminação de todas as nações, como parte de uma luta pela mudança socialista”.
Muito bonito: a paz mundial, o socialismo e a felicidade dos povos. Acontece que na região há duas forças em conflito: o imperialismo, representado por “Israel”, e a resistência palestina e dos povos da região, apoiados pelo Irã. O grupo israelense-palestino da LSR certamente não tem poder para se constituir como uma terceira via, então, qual lado tomar?
O texto fala em “luta das massas”, mas a luta das massas está ocorrendo diante do nariz de quem escreveu o artigo e simplesmente não toma partido dessa luta. O nível de abstração de luta de classes para os grupos da esquerda pequeno-burguesa é tão alto que eles são incapazes de percebê-la mesmo quando estão no olho do furacão.