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Brasil

Aonde a esquerda quer chegar atacando a greve dos servidores?

Alberto Cantalice criticou a greve por supostamente prejudicar o atual governo

Alberto Cantalice, integrante do PT e diretor da Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido, sempre foi conhecido por suas posições extremamente direitistas, mesmo entre os setores mais direitistas do Partido dos Trabalhadores. Recentemente, por exemplo, o político defendeu a prisão perpétua em publicação no X (antigo Twitter), onde inclusive utiliza uma linguagem tipicamente bolsonarista. Nesse momento, a pretexto de defender o governo Lula, Cantalice se coloca em franca oposição à greve dos servidores federais da educação. Nessa sexta-feira (19), publicou no X uma postagem chamando a greve de “despropósito” e “água no moinho da extrema-direita”. Para ele, a mobilização dos trabalhadores sob um governo de esquerda seria uma coisa ruim. O dirigente do PT não entende, ou finge não entender, que a força maior de um governo de esquerda como o de Lula é a mobilização popular. Se o governo perder o apoio de suas bases, ele não tem nenhuma moeda de troca com a burguesia para continuar governando. Querer que os trabalhadores, a base do governo, fiquem quietos por considerações alheias a seus próprios interesses não só é impossível, como é uma política arrogante e autoritária.

Em seguida, Cantalice escreve: “No 1° ano de governo Lula foi concedido 9% de aumento. Nos governos Temer/Bolsonaro, 0%.” Seria como se os trabalhadores tivessem eleito Lula e o PT novamente 6 anos após o golpe de Estado, mas não esperassem nenhuma grande mudança para melhor. Cantalice precisa decidir se está fazendo propaganda contra ou a favor do governo.

A colocação do dirigente do PT, apesar de curta, possui insinuações a cada frase. Com seu modo confuso de escrever, Cantalice segue: “Greve é paralisação. Não são férias. E ademais a caracterização do servidor público é completamente diferente do empregado privado: estabilidade e paridade.” Por um lado, ele diz que os trabalhadores deveriam ser tolerantes com o governo Lula e não deveria reivindicar seus interesses. Por outro, ameaça esses mesmos trabalhadores sem pestanejar. Ao falar que greve não são férias, ele quer dizer que o governo deve cortar o ponto nos dias parados dos funcionários públicos. A segunda parte da colocação também possui um tom de ameaça. Ao insinuar que funcionários públicos em geral não deveriam fazer greve e mencionar a estabilidade, Cantalice inclui uma ameaça velada de demissão em sua colocação.

Ele conclui dizendo que “o Haddad é um servidor público de carreira, se não disponibilizou aumento esse ano [é] porque não há dinheiro”. A primeira parte da afirmação chega a ser ofensiva para os trabalhadores em greve. Haddad é Ministro do governo, o que certamente o deixa numa posição muito superior e sem muitos motivos para querer reajuste salarial como os grevistas. A segunda parte também é absurda. Ao contrário do que Cantalice dá a entender, há muito dinheiro, porém cerca de metade do orçamento federal é entregue aos bancos todos os anos. No entanto, esse é um problema do governo e o funcionalismo público não pode deixar de defender sua condição de vida por isso. Cantalice advoga que a burguesia tem o direito de pressionar o governo, mas os trabalhadores não.

O reacionarismo dessas poucas palavras do dirigente petista é impressionante. Ele propõe a completa capitulação dos trabalhadores à direita, ao dizer que não devem pressionar o governo como faz a burguesia. Além disso, não só ataca a greve em questão, mas o próprio direito de greve, um dos mais elementares direitos democráticos dos trabalhadores. Em seu post fixado no X, Cantalice diz ser socialista, o que é bastante contraditório com seu ataque ao direito de greve.

Voltando ao início da postagem, que é onde mora o maior problema dessa “análise” do dirigente petista, onde ele diz que a greve fortalece a extrema direita. O que realmente fortalece tanto a direita chamada de tradicional quanto a extrema direita bolsonarista, é um governo de esquerda se enfrentar com um movimento legítimo dos trabalhadores, que são sua principal força. Os governos do PT já cometeram esse erro no passado, colhendo péssimos resultados, como no caso dos correios. Quem acompanhou o golpe de Estado de 2016 viu trabalhadores dos correios queimarem uma bandeira do PT em uma manifestação pedindo a derrubada da presidenta Dilma Rousseff. Esses trabalhadores estavam equivocados nessa reivindicação, mas não é como se eles não tivessem motivo para estarem descontentes.

Cantalice vai se destacando como o principal porta-voz da ala mais direitista dentro do PT no momento. Ao propor que o governo se enfrente frontalmente com a greve, ele está efetivamente propondo um auto-boicote do governo do PT. Ele advoga por uma política de chicotear os trabalhadores ao mesmo tempo que cobra deles gratidão pelo fato de o país ter um governo de esquerda.

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