Na última sexta-feira, dia 19 de abril, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deu por encerrado o chamado “Abril Vermelho”, a Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, que este ano ostenta o lema “Ocupar para o Brasil Alimentar”. As ações da Jornada se encerram com 26 ocupações e cinco novos acampamentos, mobilizando mais de 30 mil famílias a partir de 70 ações diversas, em 18 estados e no Distrito Federal, defendendo da Reforma Agrária durante toda a semana. As ocupações e a construção de novos acampamentos aconteceram em 13 estados e no DF, sendo eles: Paraíba, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Sergipe, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Norte, Bahia, Pará, São Paulo, Goiás, Ceará e Rio de Janeiro.
O MST realiza movimentos de ocupação todos os anos, assim como marchas, protestos e outros eventos para rememorar o Massacre de Eldorado do Carajás, que vitimou 21 trabalhadores Sem Terra no dia 17 de abril de 1996, e que se tornou o Dia Internacional de Luta Camponesa.
Embora o número de ocupações realizadas este ano tenha sido superior em mais de 100% às ocupações do ano passado (14 versus 31), trata-se, obviamente, de um quantitativo ainda muito inexpressivo e aquém do que está exigindo a conjuntura e particularmente diante da alarmante situação no campo, onde os latifundiários, fazendeiros e seus jagunços armados promovem um banho de sangue contra os camponeses pobres que buscam um pedaço de terra para nela trabalhar e viver com suas famílias. Isso sem falar nas diversas iniciativas de ordem parlamentar e jurídicas para criminalizar a luta no campo, como se vê na ação da bancada ruralista no congresso, defensora do agronegócio e, declaradamente, inimiga dos trabalhadores rurais.
Muitos setores da esquerda, incluindo parte da militância petista, não veem com bons olhos os movimentos de ocupação de terra nas diversas regiões do país pelo MST e outros segmentos de luta pela terra. Acreditam eles que esse tipo de ação enfraquece e torna ainda mais vulnerável o governo Lula diante da direita e da extrema direita; quer dizer, no entendimento desses setores o governo já está acuado, emparedado e esse tipo de ação (greves ocupações, etc) poderia fragilizar ainda mais o governo Lula, deixando-o à mercê dos setores reacionários e conservadores, dentro e fora do governo.
Ora, na realidade o efeito é exatamente o oposto a esse pensamento recuado de determinados setores da esquerda nacional. A única forma de o governo Lula se livrar da camisa de força que a direita e a extrema direita procura impor ao governo, paralisando-o, é apoiar-se na mobilização, na luta social de massas no país; conquistar o apoio dos movimentos de luta dos trabalhadores do campo e da cidade, da juventude, das mulheres, dos negros, dos servidores públicos, dos aposentados, professores, desempregados, etc.
Quanto mais o governo fizer concessões à direita, aplicando o programa econômico neoliberal do “mercado”, de arrocho salarial, de ataque aos direitos e conquistas sociais, de reajuste miserável do salário mínimo, de nenhum aumento no salário dos trabalhadores do serviço público (em greve) e a obsessão para alcançar o “déficit zero” nas contas públicas, mais se afastará dos setores que o elegeram, que lhe deram o terceiro mandato.