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Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Coluna

Toda solidariedade aos trabalhadores demitidos do Google

Monopólio norte-americano demitiu 28 funcionários após protesto contra apoio que empresa dá a 'Israel'

Em mais de uma oportunidade já dedicamos este espaço para falar sobre as dificuldades de se organizar a categoria dos engenheiros de software. As dificuldades são inúmeras: trabalho remoto permite acesso a diferentes mercados de trabalho sem que seja necessária imigração, salários são geralmente muito elevados em relação às demais categorias, os superlucros dos monopólios de alta tecnologia garantem inúmeros benefícios a seus funcionários, etc. Acredito que sejamos o que Kautsky e Lênin caracterizam na virada do século XX como a aristocracia operária. Essa posição altera a consciência da categoria em diversos aspectos, vide nossa reação pífia à onda internacional de demissões nas empresas, grandes e pequenas, de tecnologia desde 2022.

É com muita surpresa e entusiasmo, porém, que acompanhamos a mobilização de funcionários do Google contra os serviços que o monopólio presta a “Israel”. Sabendo que seu trabalho contribui diretamente para o genocídio, provendo a infraestrutura tecnológica onde estão hospedados os programas utilizados pelo governo israelense, uma parcela dos empregados da empresa norte-americana organizaram piquetes em dois escritórios em Nova Iorque e na Califórnia na última semana.

Segundo o portal de tecnologia The Verge, no último dia 16, nove trabalhadores foram suspensos e posteriormente presos. No dia 18, última quinta-feira, mais 28 foram demitidos. Segundo memorando interno do Google, ao qual The Verge teve acesso, as demissões estavam justificados pelo código de conduta da empresa sobre “abuso, discriminação, retaliação, padrões de conduta, e assuntos de ambiente de trabalho”. Não temos acesso ao conteúdo desse código de título extremamente vago, mas temos certeza que todo tipo de organização dos trabalhadores deve ser proibida por ele.

A mensagem acrescenta que os trabalhadores “desfiguraram propriedade e impediram o trabalho de outros ‘Googlers'”. Finalmente, alguns funcionários – e aqui tomamos a liberdade de supor que sejam sionistas – “sentiram-se ameaçados”.

“Somos um local de trabalho e espera-se que cada ‘Googler’ leia nossas políticas e as aplique à forma como se comportam e se comunicam em nosso local de trabalho. A esmagadora maioria dos nossos funcionários faz a coisa certa. Se você é um dos poucos que se sente tentado a pensar que iremos ignorar condutas que violam nossas políticas, pense novamente. A empresa leva isto muito a sério e continuaremos a aplicar as nossas políticas de longa data para tomar medidas contra comportamentos perturbadores, incluindo a rescisão”, diz o parágrafo de maior conteúdo do comunicado.

Direitos dos trabalhadores conquistados nacionalmente estão acima de qualquer código de conduta estabelecido por uma empresa privada e esperamos que a justiça seja estabelecida para esses trabalhadores corajosos que se dispuseram a arriscar os benefícios da aristocracia operária para lutar contra o genocídio palestino. A represália só foi possível porque a maioria dos trabalhadores de tecnologia ainda não está organizada, mas são iniciativas como essa que mostram o quanto essa organização é importante.

Nossa categoria controla o setor de maior valor agregado da economia capitalista moderna. De certa forma, temos mais controle do que os próprios trabalhadores da indústria armamentista sobre as iniciativas belicistas dos países imperialistas. Basta ver como Starlink foi essencial no campo de batalha na Ucrânia.

Expressamos aqui total solidariedade a esses trabalhadores do Google e convocamos outros programadores, engenheiros e técnicos a se solidarizarem estejam suas empresas envolvidas com Israel ou não. Esse é um ataque contra o direito de todos os trabalhadores de fazerem greve, de organizarem ocupações de seus locais de trabalho contra aquilo que acreditam ser inaceitável.

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