O dólar terminou o último dia 16 com a quinta alta consecutiva, 1,64%, vendido a R$5,27. É a cotação mais alta desde 23 de março do ano passado, quando uma crise entre o governo federal com a direção bolsonarista do Banco Central (BC) elevou o preço da moeda norte-americana, que, na ocasião, atingiu R$5,29. O real, por sua vez, acumula depreciação de 8,6% frente ao dólar no ano.
Já a B3, a bolsa de valores de São Paulo, registrou queda no Ibovespa de 0,75%, fechando o pregão do mesmo dia com 124.388,62 pontos, o quinto pregão seguido de perdas. No acumulado do ano, o principal índice da B3 apresenta queda de 7,3%. Segundo os banqueiros, os resultados refletem a “frustração” dos especuladores com a política econômica do governo Lula.
“O movimento”, explica matéria do portal UOL, “embora já esperado pelos investidores, ‘começa a destravar uma percepção de que o governo estaria disposto a incorrer em revisões de meta para não ver o gasto ser prejudicado, em vez de controlar o gasto’, explicou à Reuters Matheus Spiess, analista da Empiricus Research” (“Dólar sobe pelo 5º dia, a R$ 5,27, maior valor em 13 meses; Bolsa cai”, Anaís Motta, 16/4/2024). A declaração deixa claro que os movimentos no mercado financeiro, subida do dólar e retração da B3 são uma pressão da burguesia contra o governo do PT, especialmente do setor mais poderoso, ligado ao imperialismo.
Desde o começo do governo do PT, ficou claro que a política da direita seria a de tentar colocar uma coleira e domesticar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o que, sob alguns aspectos, tem sido conquistado. Sempre que o Planalto dá qualquer sinal mínimo de buscar uma ação independente, há uma reação negativa, na imprensa, na Bolsa ou no dólar.
Ao mesmo tempo, graves problemas econômicos continuam pressionando a população. No mês de março, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estipulou o valor médio da cesta básica na cidade de São Paulo em R$813,26, alta de 0,6% em relação ao mês anterior e 6,87% no acumulado do ano.
Mais de 62% do salário mínimo é comprometido com o valor de uma única cesta básica. Dado que a família trabalhadora tem, em média, dois indivíduos adultos e duas crianças (que consomem juntas uma cesta inteira), apenas para alimentar uma família operária, o valor do salário mínimo (atualmente em R$1.412,00) teria de ser R$2.439,78, 72,78% maior.
O governo, no entanto, enviou sua proposta de orçamento para o ano de 2025 prevendo um aumento de apenas 80 reais no salário mínimo, o que naturalmente terá um impacto muito pequeno para a vida da população e muito negativo para o Palácio do Planalto (sede do governo federal, em Brasília). Esse aumento não cobre a inflação real, o problema verdadeiro, que ultrapassa os índices. Despesas como alimentação e moradia fazem as famílias trabalhadoras sentirem o arrocho, não importa o que dizem os índices.
As tentativas de atender os trabalhadores por parte do Executivo esbarram nas pressões contrárias da burguesia, o que termina aprofundando o arrocho salarial sofrido pela classe operária, situação iniciada nos governos golpistas (que congelaram os salários), mas que permanecem no governo atual, com reajustes insuficientes. Enquanto os salários dos trabalhadores não aumenta, a fatia dos banqueiros no orçamento, já na casa dos 60%, sobe.
Ainda é difícil dizer o que o governo fará, embora seja perceptível que o PT tente escapar dessa camisa de força, porém até aqui sem sucesso, o que se deve a um motivo muito simples: não tem força institucional. Lula estabeleceu seu governo sob a base uma frente ampla, porém a direita que a compõe já partiu para uma política de sabotagem contra o governo.
O Planalto procura ainda se apoiar na imprensa capitalista que está contra ele em todos esses pontos (como sempre esteve) e no ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que está sendo encurralado pelo próprio imperialismo a quem servia. O sistema de governo do PT está desabando.
Com esse cenário, o governo não consegue fazer coisas que gostaria por falta de condições, mostrando-se incapaz de agir. Para sobreviver, é preciso, no entanto, conseguir um investimento no desenvolvimento econômico. Tradicionalmente, quando se fala em economia, investimentos e crescimento econômico, pensa-se em empresas de tecnologia, como o Mercado Livre. Vejamos, no entanto, como isso ocorre na prática:
“O Mercado Livre anunciou na segunda-feira, 15, um aporte de R$ 23 bilhões para ampliação de suas operações no Brasil. O valor será investido para abertura de novos centros de distribuição em Brasília, Pernambuco e Porto Alegre e a previsão é que sejam gerados 6,5 mil empregos.” (“Mercado Livre confirma investimento de R$ 23 bi no Brasil e anuncia criação de 6,5 mil empregos”, Estado de S. Paulo, 16/4/2024).
Ora, R$23 bilhões de investimentos para míseros 6,5 mil empregos é totalmente irrisório para as necessidades da classe trabalhadora, pressionada hoje pelo desemprego de mais de 8,5 milhões de pessoas, em estatísticas que mascaram o tamanho real do problema, que aflige um contingente expressivamente maior de brasileiros, se somarmos os chamados desalentados, sub ocupados e dezenas de milhões que vivem de “bicos”.
Para resolver o problema, o governo precisa de um plano econômico focado na criação intensiva de empregos, em áreas onde isso é possível, como a construção civil, que emprega muitos trabalhadores. Para isso, é preciso um programa de obras, de manutenção de equipamentos públicos, construção de estradas e outros do gênero, capazes (estes sim) de gerar empregos na casa do milhão.
O governo, no entanto, parece estar voltando à política dos “campeões nacionais”, o que é um erro. A burguesia, como mostra o caso Mercado Livre, não investe bem, não aproveita bem o investimento público, quando não aproveita o investimento para convertê-lo em aquisições que podem ainda diminuir os postos de trabalho.
Esse tipo de política, de financiar a burguesia, precisaria ser feito para projetos muito específicos para funcionar, onde se comprovasse a eficiência do investimento no que diz respeito à criação de empregos.
Sem conquistas reais, o governo fica fragilizado diante das pressões que sofre da direita e das críticas do bolsonarismo. Não é como nos governos anteriores, é uma situação nova, com problemas maiores, que demandam a mobilização popular para serem enfrentados, de modo a solucionar os problemas da classe trabalhadora e também, evitar a desmoralização total do governo.