Recentemente o jornal da extrema direita A Gazeta do Povo fez uma reportagem onde mulheres norte-americanas relatam histórias pessoais de experiências traumáticas pós uso de pílulas abortivas, os medicamentos Mifepristona e Misoprostol cuja administração conjunta provoca um aborto semelhante ao aborto espontâneo.
A história é contada no contexto da aprovação da pílula nos Estados Unidos cujo uso foi liberado no ano passado pela Food and Drug Administration (FDA).
As pílulas abortivas são reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um método seguro e eficaz para o aborto, o que não quer dizer que todas as mulheres terão uma experiência tranquila até pelo fato de existirem inúmeras falsificações e por essa razão a legalização do uso das pílulas é essencial para garantira a qualidade do medicamento utilizado.
No caso da matéria apresentada pela Gazeta do Povo, o aborto da mulher que relata sua infeliz experiência ocorreu há 14 anos atrás, muito anterior, portanto, à aprovação do uso do medicamento.
Utilizar uma experiência individual para fazer propaganda contra um direito democrático é uma atitude típica da direita.
A realidade da ampla maioria das mulheres que recorrem ao aborto, em particular no Brasil onde circula o jornal A Gazeta do Povo, é que centenas dessas mulheres, a esmagadora maioria mulheres da classe trabalhadora que não conseguem pagar uma clínica médica cara para realizar o procedimento, morrem todos os anos não por causa da pílula, mas sim por falta de um meio seguro para realização do aborto acabando nas mãos de carniceiros que recorrem a métodos como agulhas de crochê e pregos. Essas mulheres infelizmente não estão mais aqui para poder contar a sua má experiência.
Portanto, é preciso não apenas reivindicar o direito a um método comprovadamente seguro de acesso ao aborto como é o caso das pílulas mas também a garantia de amplo acesso ao procedimento, pelo SUS, por tratar se de um direito de todas as mulheres que não pode ser negado ou removido com base em considerações pessoais e pontuais.