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Editorial

Combater a mentira sem acabar com o monopólio da imprensa?

Defensores da censura na Internet se calam quando o assunto são as grandes empresas de comunicação, como a Rede Globo

Após o dono do X, Elon Musk, denunciar publicamente os arbítrios do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a discussão sobre a chamada “regulamentação das redes sociais” voltou ao primeiro plano do debate nacional. A defesa da censura a determinados conteúdos na Internet, enquadrados em termos como “discurso de ódio” e “fake news“, é feita por vários setores da política brasileira, incluindo a parte majoritária da esquerda pequeno-burguesa nacional.

A ideia de censurar qualquer conteúdo que seja, ou mesmo a ideia de que a Internet, que é um progresso espetacular, seja tutelado por órgãos estatais é absolutamente reacionária. Assim como o uso de pretextos como “combater a mentira”, a “pornografia” ou o “racismo”.

O que confunde a esquerda, no entanto, é que a direita, especialmente no último período, tem a mentira como parte integrante de sua política. E por um motivo óbvio: é impossível defender abertamente a política dos poderosos. É impossível defender abertamente que a população deve morrer de fome, que todas as empresas do País devem ser privatizadas, que o povo pobre deve ser exterminado como se fosse inseto etc. Por isso, vem a necessidade da mentira. É preciso mentir sobre a eficiência das empresas estatais, é preciso acusar de corrupção os adversários políticos, é preciso criar um clima histérico em torno da “criminalidade”. Que a mentira anda lado a lado com a política genocida da direita, está sendo comprovado por “Israel” em seus massacres na Faixa de Gaza.

O problema é que, ainda que a direita seja a grande beneficiária da mentira, não é possível proibir que mentiras sejam ditas. O próprio presidente Lula, em uma fala infeliz, disse que, se pudesse, emitiria um decreto para colocar na cadeia quem mentisse. Fosse assim, o País inteiro estaria na cadeia.

Qualquer legislação que vise punir a “mentira” será, na verdade, uma autorização para que alguém determine o que é mentira e o que é verdade. No Brasil de hoje, onde o presidente da República sequer tem o poder de escolher os próprios ministros, quem a esquerda acha que determinará o que é verdadeiro ou falso? É óbvio: seus próprios inimigos. A polícia, o Judiciário, o Ministério Público.

A “regulamentação das redes sociais” servirá, portanto, para que os inimigos da esquerda tenham o poder de censurar a Internet. Ou seja, é uma política que irá fazer a esquerda retroagir. Pois o que será julgado como “mentira” são justamente as denúncias que a esquerda fizer. O chamado “discurso de ódio” que será – e que já está sendo – punido não é o daqueles que apoiam a limpeza étnica em Gaza, mas daqueles que defendem a luta armada palestina.

Enquanto isso, as mentiras dos poderosos correrão soltas. E sequer precisam da Internet para isso: os capitalistas possuem uma gigantesca indústria de mentiras, capaz de atingir uma quantidade impressionante de pessoas, que são os seus órgãos de imprensa. Se o objetivo da esquerda fosse impedir a mentira, deveria, portanto, se voltar contra os monopólios da informação. Deveria mirar seus canhões contra a Rede Globo, contra a Folha de S.Paulo, e não contra as pessoas comuns que utilizam a Internet.

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