Faleceu nessa quinta-feira (11) o ex-jogador de futebol americano e ator O.J. Simpson, aos 76 anos. Simpson foi diagnosticado com câncer em maio de 2023 e desde fevereiro deste ano, encontrava-se em tratamento, porém não resistiu à doença. Alvo de uma intensa perseguição enquanto vivo, sua morte foi anunciada em manchetes como Morre OJ Simpson, ex-jogador de futebol americano absolvido da acusação de matar a ex-mulher (g1, 11/4/2024).
O motivo é a campanha feita pela imprensa norte-americana contra o ex-ator em decorrência de uma acusação da qual, como indica o título da supracitada matéria do portal global G1, o homem fora absolvido. Em uma linha similar, a rede britânica BBC noticiou seu falecimento com uma matéria intitulada OJ Simpson: os assassinatos que levaram à derrocada do ex-atleta, protagonista do ‘julgamento do século’ (11/4/2024). O página eletrônica da rede americana NBC também publicou uma matéria, intitulada O.J. Simpson, former NFL star whose murder trial gripped the nation, dies at 76 (“O.J. Simpson, ex-astro da NFL, cujo julgamento por assassinato comoveu a nação, morre aos 76 anos”, em português).
Em todas as matérias citadas, o grande destaque é o assassinato de sua ex-mulher, Nicole Brown, e o amigo dela, Ronald L. Goldman. Um dos principais órgãos do imperialismo norte-americano, New York Times vai além de insistir no caso e traça um perfil do ex-astro do futebol americano, e do cinema, nitidamente orientado a dissipar qualquer tipo de compaixão que o falecimento de Simpson possa despertar em relação ao homem:
“Era a boa vida, na superfície. Mas havia uma realidade mais profunda e conturbada — sobre uma filha bebê que se afogou na piscina da família e um divórcio de sua namorada do ensino médio; sobre seu casamento tempestuoso com uma jovem garçonete deslumbrante e suas frequentes chamadas para a polícia quando ele a agredia; sobre os acessos de ciúme de um homem frustrado.” (“O.J. Simpson, Football Star Acquitted of Murder, Dies of Cancer at 76”, Robert D. McFadden, 11/4/2024).
Mesmo conhecido por reproduzir em julgamentos o racismo da sociedade norte-americana, o juri popular responsável por julgar a acusação de assassinato o inocentou. Para efeitos jurídicos, a história terminaria aí, porém para um homem negro em um país verdadeiramente racista, não é tão simples.
Simpson continuar sendo vítima de uma intensa perseguição, como dá pistas o perfil da Wikipedia sobre o astro:
“Em 2018, foi anunciado que Boris Kodjoe interpretaria Simpson em um filme intitulado Nicole & O.J. O filme nunca foi concluído nem lançado” (acessado em 11/4/2024).
“O documentário da BBC TV, O.J. Simpson: The Untold Story (2000), produzido por Malcolm Brinkworth, ‘revela que as pistas que alguns acreditam apontar Simpson como o assassino, que foram descartadas ou ignoradas e destaca duas outras pistas que poderiam lançar uma nova luz sobre o caso.’” (Idem).
“O documentário cinematográfico da Investigation Discovery TV, OJ: Trial of the Century (2014), começa no dia dos assassinatos, termina com a leitura do veredicto e inclui imagens reais da imprensa sobre os eventos e as reações, conforme eles se desenrolaram.” (Idem).
“Outro documentário da Investigation Discovery TV é O.J. Simpson Trial: The Real Story (2016), que inclui inteiramente imagens de arquivo de notícias sobre o caso de assassinato, a perseguição do Bronco, o julgamento, o veredicto e as reações.” (Idem).
A página conta com muitas outras referências a uma série de obras, incluindo livros, artigos, documentários e filmes produzidos, explorando o caso. Estas obras variam em natureza, desde investigações jornalísticas até especulações responsabilizando o astro, bem como análises sobre o julgamento e seus desdobramentos. The New York Times conta “mais de 30 livros” entre as obras da verdadeira indústria montada para perseguir o homem:
“Na sequência, o Sr. Simpson e o caso se tornaram matéria-prima para especiais de televisão, filmes e mais de 30 livros, muitos deles escritos por participantes que lucraram milhões.” (Robert D. McFadden).
A pressão da perseguição fez com que, em 1994, Simpson escrevesse uma carta entregue a seu advogado e lida pouco antes do homem se entregar à polícia norte-americana. Falando de sua vida no passado, Simpson pede que os filhos sejam deixados “em paz, longe de vocês, da imprensa”:
“Primeiro, todos entendam que não tenho nada a ver com o assassinato de Nicole. Eu a amava. Eu sempre amei e sempre amarei. Se tivéssemos um problema, era porque eu a amava tanto. …
Penso na minha vida e sinto que fiz a maioria das coisas certas, então por que acabo assim? Não consigo mais continuar. Não importa qual seja o resultado, as pessoas vão olhar e apontar. Não posso suportar isso. Não posso expor meus filhos a isso. Dessa forma, eles podem seguir em frente e continuar com suas vidas. Por favor, se fiz alguma coisa valiosa na minha vida, deixe meus filhos viverem em paz longe de vocês, da imprensa.
Tive uma boa vida. Estou orgulhoso de como vivi. Minha mãe me ensinou a fazer aos outros o que gostaria que fizessem comigo. Tratei as pessoas como gostaria de ser tratado. Sempre tentei ser prestativo e estar de bom humor. Então, por que isso está acontecendo? Sinto muito pela família Goldman. Sei o quanto dói.” (“The O.J. Simpson Murder Trial, as Covered by The Times”, Daniel Victor, The New York Times, 2/2/2016).
Não está em questão a responsabilidade pelo assassinato de Nicole Brown, mesmo porque, o julgamento já fora proferido. Os efeitos deletérios da perseguição da imprensa imperialista e da cultura de cancelamento, no entanto, devem ser observados pelo setor mais ativo da esquerda, que longe de alimentar a máquina de propaganda e suas campanhas reacionárias, devem combatê-la.