Nessa segunda-feira (8), o jornal O Globo publicou um editorial intitulado É hora de recobrar um clima de normalidade. O artigo diz respeito aos recentes acontecimentos entre Elon Musk, bilionário dono do X (antigo Twitter) e Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Para O Globo, Moraes pode ter passado do ponto.
O ministro do STF desafiou a política autoritária de Moraes ao afirmar que não acataria as decisões provenientes do STF que violam a legislação brasileira e que divulgará todas as ocasiões em que o Supremo coagiu o Twitter a quebrar a lei.
Moraes, por sua vez, aumentou a aposta, incluindo Elon Musk no Inquérito das Milícias Digitais e ameaçando, inclusive, fechar o X no Brasil sob o pretexto de atentado ao Estado Democrático de Direito, ataque às instituições, apologia ao golpismo ou qualquer coisa que o valha.
Essa é a política que Moraes tem seguido desde que tomou posse no STF após ser indicado pelo golpista-mor Michel Temer: aumenta cada vez mais a censura para impedir qualquer desafio a suas decisões autoritárias. Em 2022, por exemplo, Moraes incluiu o Partido da Causa Operária (PCO) no Inquérito das “Fake News” pela defesa que a organização trotskista fez do fim do STF.
O problema é que Musk não é nenhum PCO, muito menos um pobre coitado que participou das manifestações do 8 de janeiro de 2023 e que está, agora, amargando décadas na prisão. Musk é a segunda pessoa mais rica do mundo, dono de um patrimônio sem igual. O X, nesse sentido, pode até não ser a maior rede social do mundo. Entretanto, é a plataforma através da qual todos os políticos do mundo se expressam. O bilionário, portanto, comprou a rede social mais importante de todas, algo que mostra que, dessa vez, Moraes pesou demais a mão.
“Felizmente, graças em grande parte ao Supremo, a democracia não está mais sob ameaça iminente. Por isso não se justifica que investigações continuem a tramitar em segredo de Justiça. Não se sabe sequer quantas contas o STF mandou suspender no X, a quem pertencem, nem por quê. A falta de transparência torna impossível avaliar se as exigências da lei foram respeitadas e empresta certa credibilidade às acusações de arbítrio contra o Supremo, especialmente da extrema direita”, diz o jornal da família Marinho que, no restante do artigo, cita o que chama de “medidas extremas” por parte de Moraes para pressionar o ministro a ir mais devagar em seus ataques aos direitos democráticos.
Em outras palavras, o editorial d’O Globo mostra que a burguesia dita “civilizada”, ou seja, aquela que orquestrou e participou do golpe, já não dá apoio irrestrito às flagrantes ilegalidades cometidas por Alexandre de Moraes. Ao invés, disso, ao que tudo indica, a burguesia adota uma política de “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, ou seja, afirma que está na hora de conter a fúria antidemocrática do todo-poderoso juiz do STF.
Quer dizer, nem mesmo aqueles que são responsáveis por dar um cargo a Moraes no STF apoiam completamente suas aventuras golpistas. Isso, ao lado do poder político que tem Musk, não mostra apenas que Moraes, muito provavelmente, perderá essa batalha. Mostra, também, que a política da esquerda de apoiar as arbitrariedades do ministro do STF em nome da luta contra a extrema direita está fadada ao fracasso – fracasso que, por sua vez, está mais próximo que nunca.