HISTÓRIA DA PALESTINA

Genocida desde sempre, ‘Israel’ participou do massacre em Ruanda

Investigações apontam que "Israel" continuou fornecendo armas aos Hutus em 1994, através de traficantes privados, enquanto que a Suprema Corte nega acesso aos arquivos do governo

O aparato de propaganda do sionismo e do imperialismo não consegue mais esconder a natureza genocida e fascista do Estado de “Israel” e do sionismo. Expor essa natureza a todo o mundo foi apenas uma das várias vitórias da operação Dilúvio de al-Aqsa, a ação militar revolucionária da resistência palestina, liderada pelo Hamas, no dia 7 de outubro de 2023.

Desde então, após seis meses, ficou claro que o sionismo e “Israel” são, respectivamente, o nazismo e a Alemanha Nazista do século XXI. A luta da resistência expôs toda a história de genocídio dos sionistas contra os palestinos. Mas não apenas contra esse povo martirizado. 

Por ocasião dos 20 anos do Genocídio em Ruanda, veio à tona que “Israel” forneceu armas aos Hutus para tornar mais eficiente o massacre contra os Tutsis, Hutus moderados e Tua.

Estima-se que foram assassinadas entre 800 mil a um milhão de pessoas das etnias citadas acima. Grande parte das mortes foram perpetradas com o uso de facões, apesar de armas de fogo, tais como rifles, terem sido igualmente utilizados.

O Genocídio de Ruanda

O genocídio ocorreu de 7 de abril a 15 de julho de 1994. E só foi possível que parte da população do país massacrasse a outra parte, pois Ruanda fora dominada pelo colonialismo/imperialismo europeu, que se utilizou das contradições já existentes entre as etnias tutsis e hutus para exercer seu domínio sobre o país africano.

Ao que se sabe, os primeiros habitantes de Ruanda eram os povos da etnia Tua. Contudo, no século V, migraram para a região os Hutus, que eventualmente passariam a compor cerca de 85% da população de Ruanda. Os Tutsis viriam mais tarde, por volta do século XIII. Apesar de nunca terem sido a maioria da população, esta etnia, por particularidades do desenvolvimento histórico local, acabou se tornando o clã dominante do Reino de Ruanda, um regime monárquico de castas em que os Tutsis eram uma casta socialmente superior aos Hutus. Apesar disto, o antagonismo entre ambas as etnias jamais havia chegado ao nível que chegou após o domínio do imperialismo.

O domínio colonial de Ruanda começou em 1884, com a Conferência de Berlim, quando se decidiu que o país ficaria sob a tutela colonial da Alemanha, como parte da África Oriental Alemã. Os colonizadores alemães, no curto período que dominaram o país, o fizeram através da monarquia Tutsi. De forma que essa etnia tinha privilégios sociais sobre os Hutus, os quais eram fomentados pelos alemães.

Contudo, durante a Primeira Guerra Mundial, o país germânico perde esse domínio territorial para a Bélgica, que fazia parte dos Poderes Aliados, em oposição aos Poderes Centrais, ambos blocos liderados por países imperialistas. Nessa mesma ocasião, a Bélgica obteve controle territorial sobre o Burundi, país vizinho de Ruanda, passando a governar ambos como uma única entidade política, chamada Ruanda-Urundi.

Na década de 1930, o Reino da Bélgica formalizou uma política de apartheid entre as etnias de Ruanda. Foram emitidas carteiras de identidades contendo as designações dos respectivos grupos étnicos, se um indivíduo era Tutsi, Hutu, Tua ou naturalizado. Com o uso de tais carteiras sendo obrigatório, ficou impossível de Hutus ricos se tornarem Tutsis honorários, uma possibilidade que existia até então. Assim, o imperialismo belga intensificou a divisão étnica na sociedade ruandesa para aprofundar sua dominação sobre a mesma. Era uma política de dividir para conquistar.

O imperialismo belga havia constatado a existência de contradições sociais e econômicas dividindo as etnias e as intensificou de um ponto de vista racial, elegendo os tutsis como uma raça, por seus traços físicos serem mais semelhantes aos europeus. Assim, fortaleceram o domínio político, militar e econômico dos Tutsis sobre os Hutus. Enquanto o imperialismo utilizava aqueles para subjugar estes, todo o povo de Ruanda era subjugado pelos belgas.

Contudo, as contradições se intensificaram a ponto de os Hutus se levantarem contra esse domínio. Os anos de 1959 e 1961 foram os anos da Revolução Ruandesa (também conhecida como Revolução Hutu, Revolução Social ou Vento de Destruição). Foi quando a monarquia Tutsi, que estava sob o controle do imperialismo belga, foi derrubada, com os ruandeses conquistando sua independência formal e erigindo uma república, dominada pelos Hutus.

Haja vista que o imperialismo havia fomentado o antagonismo entre os Tutsi e os Hutus, tais contradições não só permaneceram após a revolução, mas também se intensificaram. Com a revolução, o Burundi se tornou um país separado. Oficialmente, a Ruanda foi reconhecida pela ONU como um país independente em 1962. Estima-se que, em 1964, cerca de 300 mil Tutsis tenham migrado para o Burundi.

Entre as décadas de 1960 e 1990, Ruanda foi governado pelos Hutus. O primeiro presidente foi Grégoire Kayibanda, que foi derrubado em 1973, por um golpe dado por Juvénal Habyarimana. A discriminação contra os Tutsis e a favor dos Hutus nunca cessou.

Em 1990, a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), que havia sido fundada na década anterior em Uganda, por Tutsis exilados e Hutus dissidentes, tentam derrubar Habyarimana em um golpe militar. Uma ofensiva é desatada a partir de Uganda, contando com sete mil pessoas, a qual desencadeia uma guerra civil que dura três anos. Nesse tempo, o governo dos hutus aumentou a perseguição aos Tutsis e Hutus de oposição, que foram rotulados como traidores. Em 1993, o Conselho de Segurança da ONU intervém e, eventualmente, chega-se a um acordo de paz, o Acordo de Arusha.

No entanto, o acordo não é duradouro, pois, em 6 de abril de 1994, o avião que levava os signatários do acordo, Juvénal Habyarimana e Cyprien Ntaryamira (presidente do Burundi), foi derrubado por um míssil, matando ambos. Até hoje não se sabe a origem do disparo. Contudo, Hutus culparam os Tutsis e vice-versa. Foi o estopim do massacre.

Conforme já exposto neste Diário, em matéria publicada anteriormente, “o massacre iniciou poucas horas após a queda do avião. As Forças Armadas de Ruanda e da milícia ‘Interahamwe’ montaram bloqueios nas estradas e começaram a ir de casa em casa matando tutsis e políticos hutus moderados e suas famílias”. Os Hutus foram exortados “pelas ruas e pelas rádios de propriedade de alas mais extremistas da etnia que, em sua propaganda de ódio, incitava as pessoas a eliminar os Tutsis, comparando-os a baratas. Os nomes das pessoas a serem mortas eram divulgados na rádio. Sob esse comando, vizinhos mataram vizinhos e maridos da etnia Hutu mataram suas mulheres Tutsis, para não serem mortos, caso se recusassem. Até padres e freiras mataram pessoas, incluindo algumas que buscaram abrigo em igrejas. Em 100 dias, cerca de 800 mil a um milhão de tutsis e hutus moderados foram mortos por extremistas hutus”.

O papel de “Israel”

Conforme já informado no início desta matéria, “Israel” forneceu armas para os Hutus massacrarem os Tutsis quando do genocídio. Em 2016, o portal israelense Mekomit noticiava que, apesar de a última autorização do Minstério da Defesa de “Israel” para o fornecimento de armas a Ruanda datar de outubro de 1993, armas continuaram sendo fornecidas durante 1994. O portal faz referência à publicação de outro portal israelense, Maariv, datada de 2012, segundo a qual, “o fornecimento de armas continuou mesmo durante o massacre. Passou pela Albânia e Goma no Zaire [hoje Congo] e daí para a Ruanda, apesar do embargo da ONU ao comércio de armas com o país na altura do massacre”.

Esse envio foi inclusive detalhado no Relatório The Arms Fixers, do Peace Research Institute Oslo, conduzido por Brian Wood e John Fellman, publicada no ano de 1999. Em 2015, o blog de Idan Lando, fazendo referência à obra, informava que “entre abril e meados de julho de 1994, 7 remessas de armas pequenas no valor de 6,5 milhões de dólares foram transferidas de Israel (via Albânia) às milícias. Nos dias 17 e 18 de abril, dez dias após o início do massacre, 560 foram transferidas de Tel Aviv para Goma em Bazar Mil balas comuns e traçadoras com diâmetro de 5,56 mm, no valor de quase 900 mil dólares. Uma semana depois, granadas e munições adicionais foram transferidas de Tel Aviv para Goma no valor de 681 mil dólares. Há fotografias de caixotes de armas israelenses, na fronteira Zaire-Ruanda”, acrescentando que um traficante de armas israelense justificava seu envolvimento da seguinte forma:

“Percebi que na verdade sou um médico e não um traficante de armas. Qualquer pessoa razoável gostaria de morrer com uma bala na cabeça e não com um golpe de facão. Eu forneço esta bala que faz as pessoas morrerem de uma forma mais agradável.”

Em 2016, o Supremo Tribunal de “Israel” se recusou a permitir acesso público aos documentos do Ministério da Defesa que mostram o envolvimento de “Israel” com o genocídio em Ruanda. A justificativa: poderia prejudicar a segurança do país e suas relações externas.

Mas o papel de “Israel” não data apenas ao ano de 1994. Nas décadas de 1960 e 1970, o Estado sionista estava perfeitamente ciente das crescentes tensões étnicas em Ruanda, as quais eram impulsionadas por países imperialistas, e que resultava na intensificação da perseguição aos Tutsis. Não só estava ciente, mas utilizou isto em benefício de seus próprios interesses. Assim, noticiou a revista +927, em 2019, constando que “em vez de se preocuparem com o destino dos refugiados tutsis que fugiram do seu país, os líderes israelense consideraram sensato aproveitar o medo que a Ruanda tem dos refugiados para pressionar o governo de Kigali a apoiar Israel em fóruns internacionais sobre a questão dos refugiados palestinos”.

A respeito disto, a publicação cita Arié Levin, diplomata israelense em Kigali, que, em 1966, deu as seguintes declarações:

“Ruanda não tem nenhuma razão lógica para não apoiar a nossa posição Eles compreendem o problema dos refugiados, uma vez que dezenas de milhares de tutsis estão sentados do outro lado da fronteira, e é é bem sabido que são apoiados pelos árabes (há escritórios tutsis no Cairo, Argel e Rabat). Nos últimos meses, a Ruanda esteve mais uma vez sob ameaça de invasão por refugiados tutsis, alguns dos quais participaram em rebeliões no Congo.”

Em outra conversa, datada do dia 6 de outubro, Levin diz para um diplomata ruandês na ONU que “as posições fundamentais de Ruanda e de ‘Israel’ são muito semelhantes, especialmente no que diz respeito ao problema dos refugiados. Problemas como a OLP, entre outras coisas, devem ser compreendidos por Ruanda, talvez mais do que por outros países”. De forma que “Israel” agia como o imperialismo, fomentando a divisão entre a população de um povo oprimido em benefício próprio.

Retornando ao ano do genocídio, 1994, a emissora israelense i24 News informa que no já citado relatório The Arms Fixer, foi constatado “que oficiais militares israelenses estiveram envolvidos em acordos mediados pela França e pelo Reino Unido para fornecer armas leves a Ruanda através de fornecedores privados”.

Não é coincidência, então, que a Suprema Corte de “Israel” venha reiteradamente negando acesso aos documentos detalhando as exportações de armas para Ruanda, como foi feito em 2016.

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