De acordo com levantamento do Poder360 junto ao Planejamento de Mídia do Sistema de Comunicação de Governo do Poder Executivo Federal (Sicom), que é um painel que reúne os pagamentos publicitários do Planalto e ministérios desde 2019, os pagamentos de publicidade da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) e dos ministérios do governo Lula para os canais de televisão do Grupo Globo e afiliadas aumentaram 60% em 2023. Passaram de R$ 89 milhões em 2022 (último ano de Jair Bolsonaro) para R$ 142 milhões no ano passado.
Em 2022, os canais da Globo ficavam com 28% da publicidade governamental em televisão. Em 2023, passaram a 56% dessa verba. Enquanto a Globo viu sua fatia da publicidade governamental dobrar, Record, SBT, Bandeirantes, Rede TV! e afiliadas receberam metade ou menos dos pagamentos que haviam recebido em 2022. A CNN Brasil teve discreto aumento de R$1,4 milhão para R$1,5 milhão.
Questionada pelo Poder360, a Secom apenas alegou que usa “critérios técnicos” para definir a destinação dos recursos .
Curiosamente, o aumento de verbas destinadas à Globo ocorreu em um momento em que o governo teve de reduzir o seu gasto com publicidade, como resultado das amarras econômicas impostas pela direita. O gasto total com publicidade passou de R$633 milhões em 2022 para R$451 milhões em 2023.
Não resta dúvidas de que o aumento de verbas para a Globo seja uma política deliberada. Ainda que houvesse “critérios técnicos” que justificassem a contratação da empresa, trata-se de uma notória inimiga política do governo – alguém que jamais poderia ser privilegiado.
Lula sabe muito bem que a Rede Globo é sua inimiga. O próprio presidente, quando estava sendo perseguido no âmbito da Operação Lava Jato, denunciou inúmeras vezes as patifarias cometidas pelo órgão da Família Marinho. A decisão de destinar as verbas para o monopólio partem, portanto, de uma grande ilusão. A de que contemplar os inimigos com esmolas generosas impedirão que esses partam para uma ofensiva contra o governo.
Os afagos à Globo são o retrato da política geral do governo Lula – uma política de “equilibrista”, em que acena para a direita para tentar guinar à esquerda. Essa política, no entanto, tem fracassado, servindo apenas para que a direita avance no regime.