Em publicação na rede social X (antigo Twitter), a sionista Claudia Grabois voltou a defender a ideia de que o antissionismo seria negar o direito do povo judeu a ter um Estado. E que, por isso, o antissemitismo seria uma ideologia necessariamente antissemita.
Trata-se de uma falsificação. Desde sua origem, ainda no século XIX, o sionismo defendia, de fato, a constituição de um Estado judeu. No entanto, muito diferentemente do que acontece com o povo palestino, que vive há séculos no mesmo local e luta pelo direito de governar a si próprio, muito diferentemente dos norte-americanos no século XVII, que lutaram para estabelecer um Estado independente do Reino Unido, muito diferentemente do povo angolano, que se tornou independente após uma guerra contra seus colonizadores; os sionistas nunca propuseram formar um Estado em um território ocupado fundamentalmente por judeus. Portanto, não há sequer como falar em “autodeterminação” dos sionistas.
Tanto é assim que Theodor Herzl, considerado “o pai do sionismo”, chegou, ele próprio, a propor que o Estado judeu fosse em outro local que não a Palestina. Entre eles, o território africano de Uganda. Não se trata, portanto, de um território ocupado por judeus. O sionismo é a defesa do “direito” de um grupo de ocupar à força um território pertencente a outro povo.
Convém destacar, inclusive, que sequer se trata de um povo tentando ocupar o território de outro. Os sionistas, que falam em nome dos judeus, não são, rigorosamente falando, um povo. Nem muito menos têm relações com um povo que vivia na Palestina. Os sionistas são judeus no sentido de que seus descendentes praticavam a religião dos judeus. Do ponto de vista étnico, são pessoas vindas da Europa, que migraram para ocupar o território palestino.
Desse ponto de vista, a oposição ao sionismo nada tem a ver com a oposição aos judeus formarem um Estado. A oposição ao sionismo reside no fato de que se trata de uma ideologia que, necessariamente, implicará em uma política colonial e de tipo fascista.
Não existe no mundo nenhum sionismo que seja propriamente a defesa dos direitos democráticos de um determinado povo. Pelo contrário: o único sionismo que existe é a defesa da ocupação do território alheio e do extermínio do povo palestino.
É ridículo, portanto, a acusação de “antissemitismo” contra os antissionistas. Porque, afinal de contas, a questão nada diz respeito aos judeus, mas a um problema claramente político: a ocupação militar ilegal do território palestino.