Uma parte da campanha sionista de ocupação da Palestina se baseia no mito do “retorno do povo judeu à sua pátria bíblica”. No entanto, sendo os judeus parte de um grupo humano que não é etnicamente homogêneo, portanto, não um povo especificamente, torna-se praticamente inviável rastrear sua genealogia a uma origem semita.
Os semitas
Podemos iniciar a discussão contestando a adequação do termo semita aos judeus atuais. O adjetivo semita foi cunhado pelo historiador alemão August Ludwig von Schlözer, referindo ao grupo de línguas faladas pelos povos que biblicamente descendem de Sem, filho de Noé: siríaco, aramaico, árabe, hebraico e fenício.
O hebraico, contudo, é uma língua morta, presente basicamente na ortodoxia religiosa. Portanto, diferentemente do neo-hebraico, instituído em 1948 como língua oficial da ocupação sionista estabelecida na Palestina. Segundo o estudo The non-Jewish origins of the Sephardic Jews, de Paul Wexler, publicado pela Universidade Estadual de Nova York, em 1996, apenas parte dos sefarditas tem uma origem parcialmente semítica, não necessariamente judaica. Enquanto os judeus asquenazis não apresentam ascendência judaica, ou mesmo da esfera semítica.
Esse dado demonstra a mentira por trás do mito do “retorno”, uma vez que atualmente os judeus asquenazes constituem 90% do judaísmo mundial. Resumindo, os ocupantes da Palestina não têm raízes étnicas na região, mesmo culturalmente não apresentam tais laços.
Cázaros, a origem do asquenazis
Se os asquenazis não têm origens judaicas, ou até mesmo semitas, qual a origem desses judeus? Essa população, espalhada por toda a Europa Central e Oriental, teve sua origem no Império Cázaro.
“O país ocupado pelos cázaros, uma população de origem turca, ocupava uma posição estratégica na passagem vital entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, onde as grandes potências orientais da época estavam se enfrentando. Funcionava como um Estado-tampão que protegia o Império Bizantino contra invasões das rudes tribos bárbaras das estepes do norte: búlgaros, magiares, pechenegues etc. e, mais tarde, vikings e russos. Igualmente, se não mais importante do ponto de vista da diplomacia bizantina e da história europeia, foi o trabalho eficaz de contenção exercido pelos exércitos cázaros contra a avalanche árabe em seus estágios iniciais e mais devastadores, um trabalho que impediu a conquista muçulmana da Europa Oriental”, diz Arthur Koestler, em A décima terceira tribo.
Segundo Aleksandr Solženitsyn, “os líderes étnicos dos turco-cázaros (então idólatras) não aceitaram nem o Islã (evitando submeter-se ao Califa de Bagdá) nem o Cristianismo (esquivando a tutela do Imperador de Bizâncio). Assim, cerca de 732 tribos adotaram a religião judaica”.
Essa formulação teve seu mérito por considerável período, resultando na existência de um reino judaico, conforme argumenta a Resposta do Rei José ao judeu cordovês Hasdai ibn Shaprut.
“De seus filhos surgiu um rei chamado Obadias. Ele era um homem justo e correto. Ele reorganizou o reino e estabeleceu a religião de maneira justa e irrepreensível. Ele construiu sinagogas e escolas, trouxe muitos israelitas eruditos e os honrou com ouro e prata, e eles lhe explicaram os vinte e quatro livros [da Torá], a Mishnah, o Talmud e a ordem das orações dos Khazzan.” Carta do Rabino Chisdai ao Rei Joseph.
Após derrota para o príncipe da Rus’ de Kiev, Svyatoslav I, em 968-969, os cázaros tiveram sua capital, Itil, na foz do Volga destruída. O fim do império deu-se com a conversão do príncipe Vladimir ao rito grego e seu casamento com uma irmã de Basílio II, após a abertura da Rússia para a civilização bizantina, iniciou-se uma diáspora dos remanescentes do Judaísmo cázaro”.
Reivindicação vazia
Demonstrada a origem dos asquenazis, sem qualquer relação com o judaísmo bíblico, observamos consequências avassaladoras com as reivindicações lastreadas no mito do “retorno”. As raízes da maioria dos judeus atuais está numa população da Ásia Central.
Estes são oriundo de uma região entre o Volga, o Mar Negro e o Dnepr, que se disseminou por grande parte da Europa Oriental. São descendentes eslavos de um povo altaico, que nada têm em comum com a Palestina ou o mundo semita.
Mesmo que pudessem considerar alguma reivindicação após milhares de anos, os asquenazis não guardam nenhum “direito histórico” sobre a terra. São apenas forasteiros armados, ocupando violentamente uma região, promovendo um genocídio contra seus moradores.