O Brasil 247 obteve acesso à íntegra do depoimento do capitão Wilson Machado, sobrevivente do Atentado ao Riocentro, em 30 de abril de 1981, armado pelos agentes do Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). O depoimento foi mantido em sigilo nos arquivos do Supremo Tribunal Militar (STM) e, desde então, o único personagem ainda vivo do episódio sempre se negou a falar à imprensa, guardando o silêncio também durante depoimento na Comissão Nacional da Verdade em 2014.
Conforme apontou a jornalista Denise Assis, cuja coluna no portal de notícias de esquerda revelou a íntegra do depoimento, o que foi dito é “falseado”, “como convinha à época, com omissão de detalhes, mas trata-se da versão mantida fora do alcance da mídia”.
O Atentado ao Riocentro refere-se a um episódio ocorrido em 30 de abril de 1981, durante a ditadura. Neste evento, militares planejaram um ataque a bomba durante um evento de música em comemoração ao Dia do Trabalhador no Riocentro, no Rio de Janeiro. Na ocasião, dois militares do Exército Brasileiro, o capitão Wilson Dias Machado e o tenente Guilherme Pereira do Rosário, planejaram explodir uma bomba durante o evento, que contava com a presença de cerca de 20 mil pessoas. O plano era culpar organizações de esquerda pelo atentado, a fim de justificar a continuidade da ditadura militar.
No entanto, durante a montagem da bomba no carro dos militares, houve uma explosão prematura. O tenente Guilherme Pereira do Rosário morreu instantaneamente, e o capitão Wilson Dias Machado ficou gravemente ferido.
A tentativa de atentado ocorreu durante o último governo militar, do general João Baptista de Figueiredo, que continuava a política de Ernesto Geisel de abertura “lenta e gradual”, resultante da crise da ditadura, regime que estava insustentável e, naquele momento, vivenciava mobilizações operárias. Um setor dos militares, entretanto, insatisfeitos com a abertura, se radicalizou, buscando pretextos para manter o regime militar funcionando.
Vejamos então o relato de Denise Assis sobre o depoimento de Wilson Dias Machado:
Riocentro: o 247 obtém depoimento do capitão Wilson Machado, guardado há 43 anos
Nesses tempos em que se vê fatos sendo lançados como dardos contra processos e investigações, com o flagrante intento de embaralhar a cena política, – como o vazamento dos áudios do tenente-coronel Mauro Cid, à Revista Veja -, o que nos vêm à mente é um episódio fatal para a derrocada da ditadura: o evento do Riocentro, ocorrido na noite de 30 de abril de 1981.
Durante 43 anos a íntegra do depoimento do capitão Wilson Machado, sobrevivente em estado grave do atentado terrorista forjado pelos agentes do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), foi mantida em sigilo, nos arquivos do Supremo Tribunal Militar. De lá até agora, Machado é o único personagem ainda vivo, do episódio, e sempre se negou a falar à imprensa. Chamado a depor na Comissão Nacional da Verdade em 31/07/2014, se limitou a dizer que usaria o seu direito de permanecer em silêncio, e que o que tinha a dizer foi declarado à Justiça Militar. Foi, mas nenhum civil jamais teve acesso a ele, até agora, quando o 247 obteve uma cópia da sua versão, na íntegra. Depoimento Falseado, como convinha à época, com omissão de detalhes, mas trata-se da versão mantida fora do alcance da mídia.
Na noite de 30 de abril para primeiro de maio, do ano de 1981, quando os principais nomes da Música Popular Brasileira se apresentavam em um palco montado naquele espaço da Zona Oeste carioca, para festejar o Dia do Trabalhador – num show promovido pelo Centro Brasil Democrático (Cebrade) -, o local se fez escuro e foi sacudido por um estrondo. Naquele minuto uma bomba jogou pelos ares, não apenas a genitália do sargento Guilherme Pereira do Rosário, (que morreu na hora, em decorrência da explosão, e feriu gravemente o capitão Wilson Machado), mas também a ditadura civil-militar, decorrida de um golpe que tirou do poder, em 1964, o presidente eleito, João Goulart e fará, portanto, 60 anos daqui a uma semana.
Com a inflação na casa dos 200%, o poder do último general-ditador, João Baptista de Figueiredo, em xeque, e a promessa de “prender e arrebentar” quem não estivesse de acordo com a proposta de abertura “lenta e gradual”, iniciada na gestão do seu antecessor, Ernesto Geisel, a farsa claudicante montada para encobrir o ato terrorista dos dois oficiais do DOI-CODI, Guilherme do Rosário e Wilson Machado, começou a desnudar todas as demais.
Até então, sob o manto da censura que havia vigorado até 1978, muitas delas foram empurradas goela abaixo da população oprimida. Por exemplo, a morte na tortura, do jornalista Wladimir Herzog, em 1975, divulgada como “suicídio”. Naquele ano, o de 1981, a caserna em vias de perder os seus privilégios, se rebelou contra a distensão da ditadura e forjava atentados à bomba, que eram jogados no colo da esquerda. Até que aquela explodiu no colo deles, literalmente.
Em 23 de maio, dias depois do atentado, no Hospital Central dos Servidores, nas dependências do Centro de Tratamento Intensivo (CTI), o capitão Wilson Machado, sobrevivente do ato terrorista do Riocentro, foi ouvido. A situação, no mínimo inusitada – como se sabe o CTI requer isolamento total do paciente -, contou com as seguintes participações: o encarregado do IPM, coronel Job Lorena de Sant’Anna, na companhia do Major do Exército, Luiz Kardec Vianna (servindo de escrivão), acompanhado do Dr. Francisco José Soares Cavalcante. Sua presença – de acordo com documento oficial -, foi uma indicação do diretor do Hospital Central do Exército, que se fez acompanhar do Dr. Gilson Ribeiro Gonçalves, procurador da Justiça Militar.
Machado, filho de Theophilo Lyra Machado e Jupyra Chaves Machado, era casado, tinha então 33 anos, uma filha de seis anos e servia no Comando do 1º Exército. Ele contou em seu depoimento que naquela tarde, na qualidade de chefe do Destacamento, recebeu a missão de cobrir o evento à noite. No dia seguinte deveria estar no Campo de S. Cristóvão, mas ao tomar conhecimento de outro evento na Mangueira, optou por ir para o Riocentro. Em seguida chamou o seu subchefe, o “Doutor Navarro” e deu ordem para que mandasse uma equipe para lá e reforçasse o evento do Campo de S. Cristóvão. Para o da Mangueira destinou apenas dois homens.
O doutor Navarro, nesse dia, lhe pediu dispensa no final de semana e dos eventos que ele iria cobrir até lá. Machado então chamou o “agente Wagner”, codinome de Guilherme do Rosário, dando-lhe a incumbência de cobrir o Riocentro. Wagner havia sido recomendação de Navarro, por ter uma espantosa memória fotográfica, adquirida ao longo das várias coberturas que fazia na atividade de fotógrafo/araponga (do Destacamento). Foi assim que Rosário foi escalado para cobrir o Riocentro. A seguir, pediu que ele entrasse em contato com o “agente Guarany” – o paraquedista Magno Cantarino Mota, que estava de folga na quinta-feira e deveria ser convocado para se juntar ao “Doutor Diogo” na cobertura fotográfica do evento do Campo de S. Cristóvão, no final de semana.
Wilson Machado admitiu que saiu para a Missão Nº 115, rumo ao Riocentro em seu próprio carro e apontou como testemunha do horário em que deixara as dependências do destacamento, “os agentes de serviço no portão do DOI”.
Negou que carregasse algum volume, como bolsa ou mala e não soube dizer quanto tempo demoraria no Riocentro. Sobre a permanência no local, respondeu que ficaria o tempo necessário para o cumprimento da missão, que consistia em localizar os seus agentes de serviço e, caso não os encontrasse, daria um tempo maior para ter condições de posteriormente verificar os relatórios deles. Rosário, ao saber que Machado iria com o seu próprio carro, porque pretendia ficar no show, pediu carona e o convidou para juntar-se no final a um grupo de amigos dele, que também estavam com ingressos e até os tinha sobrando.
Depois fez as tratativas sobre o ponto de encontro, num posto da Estrada Grajaú Jacarepaguá. (Esse ponto de encontro antes das equipes irem para o Riocentro é citado pelo ex-delegado e atual pastor, no livro Claudio Guerra: Matar e Queimar. Ele relata que era próximo ao restaurante Cabana da Serra). Wilson Machado negou que tivesse aberto a porta do carro (um modelo Puma, no interior do qual a bomba que levavam, explodiu), pelo lado de fora, para que o agente Wagner entrasse, quanto pretendiam mudar de lugar no estacionamento no Riocentro, para ficarem mais próximos à saída.
Respondeu não se lembrar se o havia feito, por dentro do carro, mas afirmou que Wagner entrou no veículo quando ele ainda estava na vaga. Perguntado se o agente lhe falou alguma coisa ao entrar, momentos antes da explosão, revelou que não se lembrava de terem falado algo. Perguntado se o colega portava algum pacote, bolsa ou mala, disse que os braços dele estavam livres, não portando nenhum volume. (Apesar de estar entre a vida e a morte, bem treinado que era, sabia em quais os pontos as negativas eram importantes).
O capitão negou que tivesse visto qualquer volume dentro da viatura, negou também que houvesse algo do seu lado e que do lado direito não cuidou de olhar, pois estava atento à manobra que fazia com o carro. Negou ter percebido se era seguido e tampouco soube se havia seguranças no local. Disse que o colega não comentou qualquer coisa a respeito ou tampouco tivesse algo a acrescentar.
Depois de pagar o estacionamento, no pátio ainda com poucos carros, Wagner viu o grupo de amigos chegando num Fiat branco e foi encontrá-los. Nesse momento ambos desceram do Puma e Wilson Machado se afastou para procurar um lugar discreto onde pudesse urinar. Conta que cruzou com grupos de moças e rapazes se divertindo, ouvindo música e bebendo. Passou por um dos carros com quatro elementos que pareceram a ele, estar fumando maconha. Resolveu então trocar novamente o carro de lugar, pois temeu que pudessem lhe roubar o toca-fitas. Wagner entrou no carro e ele iniciou manobra de marcha-a-ré. Foi quando houve a explosão.
Fora do carro, sem sapato e sem socorro
Lembrou que foi jogado para fora do carro, que a porta se abriu e ele percebeu que estava sem um dos sapatos. Levou a mão direita instintivamente ao lado direito da barriga “atordoado, cambaleando, percebendo então que não tinha comandamento sobre o braço esquerdo. Sentindo esse braço dormente e percebendo que sangrava muito, dirigiu-se então ao grupo de jovens pedindo ajuda, mas eles saíram sem atendê-lo”.
Machado conta que se dirigiu a outras pessoas “e estas também não o atenderam”. Afinal, apareceu “uma pessoa que lhe pareceu ser um funcionário do Riocentro, e que o levou até a entrada”. Essa pessoa lhe deu “uma cadeira e então pôde sentar-se”.
A descrição desses momentos de agonia até ser socorrido ele detalha, embora tenha dito não ter certeza se, de fato, correspondem ao que aconteceu: “desde o momento que se viu fora do carro esteve atordoado, confuso. Destaca, porém, que até pedir ajuda aos jovens os fatos são como descreveu (claro, era a cena principal do atentado). Percebeu grande movimentação de pessoas à sua volta, “mas o tempo passava e ninguém tomava a iniciativa correta” (para salvá-lo).
Alguém perguntou a um elemento vestido de branco que estava ao seu lado, chamando-o de doutor, se o médico poderia acompanhar esta pessoa que queria levar o depoente ao hospital; “que o médico respondeu que não podia afastar-se do local e permaneceu de pé ao seu lado, sem lhe prestar nenhum tipo de socorro, nem tomar nenhuma iniciativa, apenas permanecendo ao seu lado”.
A certa altura, o depoente disse para o médico: “Doutor, eu vou morrer aqui? O senhor vai deixar eu morrer aqui?”. Passando mais algum tempo apareceu uma jovem, dizendo que iria levá-lo ao hospital. (Logo se soube tratar-se de Andrea Neves, neta de Tancredo Neves, então deputado federal pelo MDB e irmã de Aécio Neves).
“Insistiu nisso, digo, hospital, insistindo nisso com algumas pessoas e dizendo a um rapaz que fosse buscar o carro, dirigido por um rapaz e que foi colocado no banco da frente junto ao motorista”.
No banco de trás entraram a moça e um bombeiro. Sentados atrás, durante a viagem os dois comprimiam o seu corpo contra o encosto do banco. Consciente, orientou o motorista que pegasse a praia e fosse em direção ao Clube do Flamengo, onde ele sabia que nas proximidades havia um hospital. Durante todo o trajeto dizia aos ocupantes do carro que não queria morrer, pois queria ver a filha. “Nessas ocasiões as pessoas que o acompanhavam procuravam animá-lo e confortá-lo, dizendo que ele não ia morrer e que tudo ia sair bem”.
Chegaram ao Hospital da Barra (há um equívoco aí. Machado foi atendido no Hospital Miguel Couto, que fica no final do Leblon, próximo à gávea), aonde chegou muito enfraquecido. Nesse ponto entra a amnésia conveniente:
“Lembra sem convicção, de ter dado o seu nome e ter dito que era do Exército; lembra-se, também sem muita convicção, de ter sido colocado em uma ambulância e daí em diante já de nada se lembra”. Perguntado quem era Wagner, respondeu que “é o codinome de um agente que ele só conhece como tal”. Machado sabia que não podia ter fornecido tais informações, pois era agente do DOI-CODI, daí no depoimento constar a ressalva: “sem convicção”.
Daí por diante o depoimento segue com questões do tipo o relacionamento entre ele e o subordinado, se os dois estavam armados – no que respondeu que não -, tampouco se lembra de testemunhas que o tivessem visto estacionar no Riocentro. Contou que quando se afastou do carro para urinar o deixou trancado e com os vidros fechados, do lado do motorista, mas que não tinha certeza se Wagner “fez a mesma coisa”. Aqui, procurando justificar a hipótese (falsa) de alguém ter jogado a bomba dentro do carro, a fim de provocar a explosão. (Talvez os “maconheiros”, citados por ele anteriormente, já para despistar).
O depoimento, tomado no CTI, às 10h, do dia 23 de maio, fora interrompido às 13h, reiniciado às 14h20, e terminado às 18h do mesmo dia. Os presentes assinaram o documento “E que depois de lido e achado conforme, assinam a testemunha…” e os demais presentes.
O capitão Wilson machado omitiu vários pontos importantes, ou talvez os seus querelantes não tiveram interesse em aprofundá-los, sabendo dos riscos – não por questões médicas, pois pelo que se viu, não houve esse tipo de cuidado. Alguém que estivesse preocupado com a sua saúde não o teria ouvido num Centro de Tratamento Intensivo (CTI), de 10 da manhã às 18h, seguidas. Mas, sim, por recomendação do encarregado do inquérito, Job Lorena, que substituiu o coronel Luiz Antonio Prado Ribeiro, primeiro responsável pelo IPM. Ele pediu para sair da coordenação dos trabalhos, em nome da sua dignidade. Não queria participar daquela farsa, levada adiante por Lorena.
O episódio do Riocentro enfileira alguns nomes de militares e autoridades responsáveis pelas investigações e julgamentos, que agiram com correção e bravura. Um deles, o Almirante Júlio Bierrenbach, que ainda no ano de 1981, quando os ânimos estavam em ebulição, votou contra o arquivamento do inquérito. Já no ano de 2013, durante entrevista, olhando o seu passado de interventor do Porto de Santos, responsável pela transformação do Navio Raul Soares em navio-prisão (o que ele negava peremptoriamente, e dizia que não sabia o que se passava dentro do navio), declarou: “Eu fiz e desfiz a “revolução”. Apoiei o movimento, sem concordar com os seus desdobramentos, e fui o responsável por desnudar a farsa do Riocentro. Portanto, eu a desfiz”, concluía sem esconder orgulho.
Outro que fez história foi o juiz-auditor Edmundo Franca de Oliveira. Localizado pelo 247 para comentar a sua decisão, recordou o que disse na época: “As forças foram terríveis, mas não ocultas (referência a Jânio Quadros), elas funcionaram como um rolo compressor. Cumpri o meu papel, apesar das pressões. Fiz um juramento de cumprir a minha função e dela não vou fugir”.
Em sua opinião, era preciso avaliar, como hoje, “a correlação de forças e o equilíbrio político. Todos nós sabíamos a farsa que eles montaram, mas não podíamos colocar tudo a nu, porque ainda caminhávamos, como hoje, no fio da navalha. Por isso, para os que estão cobrando do presidente Lula sobre a sua declaração a respeito dos 60 anos do golpe, relembro que vivemos também um clima de fragilidade. Há momentos em que temos de levar tudo isso em conta. E aquele foi um deles”.
Na função de juiz-auditor, França enviou ao procurador-geral da Justiça Militar, Milton Menezes da Costa Filho, as peças do IPM do Riocentro que se referiam a uma segunda explosão, na casa de força, juntamente com o despacho em que pedia investigação a respeito. Ao fazê-lo, deixou claro que se havia uma segunda bomba, a que explodiu não podia ser fruto de uma tentativa da esquerda de matar os agentes dentro do carro. Havia mais de uma bomba e, portanto, uma ação orquestrada de terrorismo no local.
Explicou, na ocasião, “que o procurador-geral, em seu pronunciamento, poderá designar outro promotor que venha a pedir a instauração de novo inquérito, pela Polícia Federal, para apurar aquela explosão, ou então requer o arquivamento do IPM”. No seu despacho, o juiz Franca de Oliveira afirmou que a segunda explosão “criou perigo de dano”, o que é previsto em lei, e que, portanto, deve ser investigada. “Tanto testemunhas quanto à perícia técnica fazem referência de modo claro àquela explosão”, bancou.
Em seguida, depois de dizer aos repórteres que estava “muito emocionado para fazer qualquer comentário”, trancou-se em sua sala, sozinho. Um funcionário da auditoria deu algumas batidas na porta, mas a resposta foi o silêncio. Depois de um tempo saiu de lá, de óculos escuros, e deixou a auditoria.
Tanto tempo depois, ele ainda se lembra da pressão vinda da “comunidade de informação” e do ministro do Exército, o general Walter Pires. Recebeu, segundo ele, conselhos para cuidar de sua carreira e para ir conversar com o comandante do 1º Exército, o general Gentil Marcondes Filho. Em maio de 199, quando o inquérito foi mais uma vez reaberto, em entrevista ao repórter Hélio Contreiras, da Isto É, apontou: “o abafamento do caso teve dois responsáveis: o ministro do Serviço Nacional de Informações, Octávio Medeiros, o ministro do Exército e o general Walter Pires.
Ele acredita que o atentado ao Riocentro teve respaldo do alto escalão da comunidade de informação, então muito forte, que queria influir nos destinos do país. Questionado sobre o porquê decidiu pelo arquivamento, apesar de consciente da farsa, justificou: “eu tinha consciência de que era preciso preservar as instituições e o processo de abertura. Achava que as instituições não estavam fortemente estruturadas para enfrentar um possível impasse, que iria ocorrer, já que o general Walter Pires não admitia que as conclusões do relatório fossem revistas. Ele dizia que a sociedade, aceitando ou não aceitando o desfecho do caso, não teria outra versão se não aquela apresentada pelo coronel Job Lorena”.
Em sua opinião, o capitão Wilson Machado deveria ter sido indiciado e processado criminalmente.
Revelações da Missão Nº 115
Na noite do show para comemorar o 1º de maio, as cerca de 10 mil pessoas – há quem fale em 20 mil -, cantavam e se divertiam comprimidas no auditório do Riocentro, alheias ao ato de terror que se desenrolava lá fora.
A segurança do local, que deveria ficar a cargo d0 18º Batalhão da Polícia Militar – então comandado pelo coronel Ile Marlen Lobo -, foi retirada, por ordem do coronel Nilton Cerqueira, então comandante da instituição. Depois se soube, a ação foi combinada em Brasília, dentro do Palácio do Planalto. Muitos detalhes e providências foram tomadas para o show daquela noite. Por exemplo, a iniciativa de trancar todas as 27 saídas com cadeados, deixando apenas a entrada principal livre. A ação, segundo denúncias de funcionários do Riocentro, foi feita por ordem de Maria Angela Lopes Capobianco, coordenadora de eventos. Ela chegou a ser ouvida no inquérito, mas foi inocentada. Fato é que não havia outro ponto de escape, no local.
Missão Nº 115. Esse era o nome oficial da vigilância desencadeada pelos serviços de espionagem do Exército no centro de convenções Riocentro, onde cerca de 20 mil pessoas estavam reunidas para cantar músicas em protesto contra o regime que se esvaía, mas persistia. O segredo bem guardado por um oficial do Exército, veio à tona em 24 de novembro de 2012, quando os jornalistas José Luis Costa e Humberto Trezzi, publicaram no jornal Zero Hora documentos inéditos aos quais tiveram acesso, a partir do assassinato do coronel reformado, Julio Miguel Molinas Dias. Ele havia sido morto, aos 78 anos, em primeiro de novembro, vítima de um crime “nebuloso”, e guardava em casa o acervo.
Molinas Dias era, na época do atentado, o comandante do Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do Rio de Janeiro, conhecido como Aparelhão. O arquivo do coronel continha 200 páginas, várias delas encabeçadas pelo carimbo “confidencial” ou “reservado”. De acordo com o que colheram os jornalistas, o “acervo” de Molinas era uma radiografia do aparelho repressivo militar que tentou maquiar o cenário do Riocentro para fazer com que as explosões parecessem obra de guerrilheiros esquerdistas, como sempre se supôs. Nos documentos estavam as atividades da unidade comandada por ele, que tinha a função de “espionar e reprimir”.
Ao se aposentar, o coronel levou para casa os documentos preciosos, contando pormenores da sigilosa rotina do DOI-Codi, localizado dentro do 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita, no bairro da Tijuca, criado em 1970, sob o guarda-chuva do 1º Exército, pelo coronel Freddie Perdigão. Dos papéis, saltam evidências de que oficiais forjaram, inclusive, uma orientação para simular o furto do veículo do sargento Guilherme do Rosário, deixado nas imediações do restaurante Cabana da Serra, na rodovia Grajaú-Jacarepaguá, antes da explosão. O furto tinha o intuito de sumir com pistas comprometedoras, do tipo, outros artefatos no interior do carro do sargento.
Nos documentos encontrados com o coronel assassinado no Sul, há registros da mobilização que se instalou naquele quartel-sede da espionagem política do Brasil, imediatamente após a explosão. Molinas disparou telefonemas com ordens e contraordens com a finalidade de evitar que fatos e versões que colocassem o Exército, no foco, viessem à tona. Os papéis contêm medidas de prevenção para segurança de militares, recomendações para não serem fotografados e relação de bombas e artefatos explosivos no paiol do quartel para destruição coletiva e individual.
Na reportagem dos jornalistas da Zero Hora estão descritos os memorandos divididos em dias, horas e minutos, sobre os acontecimentos daquela noite, feitos de próprio punho, pelo coronel Molinas. Os relatórios sobre o desastroso atentado no centro de convenções Riocentro descrevem que uma das duas bombas que explodiram durante um show musical acabou matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e ferindo com gravidade o capitão Wilson Luiz Chaves Machado, conforme sempre se soube. Confirmam também os codinomes: “doutor Wagner” e “Marcos” e que (militares de baixa patente eram chamados de agentes e oficiais eram doutores, na gíria da espionagem).
Nos documentos que levou para casa, Molinas passa a narrar os fatos sobre a explosão do Riocentro, e a movimentação da unidade naquele 30 de abril:
Quinta-feira, 30 de abril de 1981
Batizada de Missão 115 — Operação Centro, a ação previa que os militares fizessem a espionagem do show no Riocentro, celebração do Dia do Trabalhador, que virou manifesto contra a ditadura. Foram escalados dois agentes, com previsão de saída às 18h40min e retorno às 4h20min, usando um Fusca. Outros dois, de forma clandestina, usaram um Puma particular. Por volta das 21h15min, tudo seguia na rotina até uma bomba explodir no Puma em que estavam os dois integrantes do DOI-Codi. À noite, de próprio punho, o coronel Julio Miguel Molinas Dias, comandante do DOI-Codi, fez o relato de como foi informado do atentado. Ele assistia, em casa, à primeira partida da final do Campeonato Brasileiro de 1981, no Estádio Olímpico, vencida pelo Grêmio por 2 a 1.
– Intervalo do jogo do Grêmio x São Paulo, telefonema do agente Reis (codinome de um militar). Disse que um cabo PM telefonara avisando que haveria um acidente com explosivo com uma vítima. Deu o nome quente Dr. Marcos…
Doutor Marcos era o codinome do capitão Wilson Luiz Chaves Machado, chefe da Seção de Operações do DOI-CODI, ferido na explosão. O relato do coronel Molinas, continua falando de como foi informado da morte do sargento Guilherme Pereira do Rosário, ao manipular a bomba:
– (…) Por volta das 22h30min, cheguei ao órgão… dirigi-me à vaga n.1 do comando. (…) O Dr. Wilson (codinome de outro agente), que estava na operação, chegou logo a seguir. O agente Reis, que já chegara, avisou que recebera outro telefonema do mesmo elemento, dizendo que um sargento estava no local, irreconhecível.
– 23h30min —O Globo (talvez referindo-se à notícia que ouviu na Rádio Globo ou na TV) – estouraram duas bombas no estacionamento, destruindo dois carros e uma moto. No segundo carro não houve vítimas.
– 23h30min — Dr. Araújo (codinome de oficial) telefona para saber o que houve.
Molinas relata o estado de saúde do capitão Wilson, motorista do Puma e ferido na explosão:
– 23h30min — Hospital Miguel Couto…Tá sendo operado, vísceras do lado de fora. Estado grave.
De próprio punho, o coronel registra que foram dois os explosivos levados para o Riocentro:
– 23h35min — Uma bomba na casa de força (central de energia do Riocentro) e uma no carro.
Às 23h45min, Molinas afirma ter telefonado ao coronel Leo Frederico Cinelli, chefe do serviço de inteligência do 1º Exército, relatando os fatos. Minutos depois, recebe notícias de alguém sobre o sargento morto e registra:
– 23h50min — O Robot (menção a quem carrega bomba) está morto. Tem uma granada que estava no carro e botaram no chão.
Sexta-feira, 1º de maio de 1981
As anotações de Molinas prosseguem madrugada adentro. Ele trata da remoção do corpo do sargento para o hospital:
– 0h40min — Coronel Cinelli — Falamos sobre a ida da perícia da PE (Polícia do Exército) à paisana e a retirada do corpo.
– 1h01min — Tenente-coronel Portella liga ao HCE (Hospital Central do Exército) para receber o corpo do Robot (sargento Rosário).
– À 1h05min, Molinas recebe ligação de uma pessoa, à qual identifica com Dr. Rodolfo, atualizando notícias sobre o capitão Wilson Machado, ferido na explosão:
– 1h05min — Está sendo operado, dilaceração nas vísceras.
– A partir daí, as anotações se tornam esporádicas:
– 4h24min — Um Chevette aberto cinza metálico com bagageiro placas RT-1719 estava ao lado do carro Puma, com um emblema do 1º BPE.
– 6h05min — Justifico telefonema dizendo que está na cirurgia, Dr. Marcos (codinome do capitão ferido), ortopédica nos braços.
– 17h — Fui para casa.
Sábado, 2 de maio de 1981
Molinas retorna ao DOI-Codi e manda recado ao capitão ferido para que não se pronuncie a respeito do acidente:
– 8h30min — Chegada ao destino (…)Transmitida mensagem ao Dr. Marcos (codinome do capitão ferido) para não fazer esforço para falar, tranquilizando-o.
– (…) Comandante do DOI e comandante do 1º Exército foram para o enterro e hospital.
Foi dada ordem para oficial de permanência ficar em tempo integral no DOI.
Os jornalistas do jornal Zero Hora que recolheram o material onde estavam as anotações do coronel Molina e reproduziram tudo que fizesse referência ao atentado. Inclusive “a farsa” elaborada pela cúpula do 1º Exército, na época comandado pelo general Gentil Marcondes Ferraz:
“Ainda no dia 2, um manuscrito com letra diferente à do coronel Molinas Dias revela uma tentativa de encobrir a autoria do atentado. Foi anotada (talvez por um ordenança do coronel) a necessidade de encontrar o carro particular do sargento morto e providenciar o seu recolhimento ao DOI-Codi. O objetivo pode ter sido evitar que material comprometedor, dentro do veículo, fosse apreendido pela Polícia ou fotografado pela imprensa:
Foi feito contato com a secretaria de segurança para localizar o carro do Wagner (codinome do sargento morto) e comunicar ao DOI (carro roubado). Existe uma equipe de sobreaviso para “puxar” (levar) o carro”.
A anotação segue:
– Foi mandado ao 1º Exército (coronel Cinelli) as fotografias das placas com VPR para aproveitamento na imprensa.
A frase anotada por Molinas Dias fazia referência ao fato de que ex-integrantes da ditadura revelaram que agentes do DOI-Codi picharam placas de sinalização de trânsito nas imediações do Riocentro com a sigla da organização de luta armada de extrema esquerda “Vanguarda Popular Revolucionária”, àquela altura totalmente dizimada. O objetivo dos militares com a pichação era atribuir a autoria do atentado à VPR. Seria uma explosão planejada para botar a culpa em esquerdistas, como descreve o ex-delegado da Polícia Civil Cláudio Guerra, no livro Memórias de uma Guerra Suja.
O coronel Molinas Dias avança seu memorando pelo dia 2 de maio, relatando supostas ameaças de bomba na casa do capitão ferido e no hospital Miguel Couto:
– 13h01min — Família do Dr. Marcos (codinome do capitão) liga para o Dr. Carmelo (codinome de um oficial) no hospital e participa a existência de um embrulho suspeito na porta do apartamento. O Dr. Carmelo telefona ao Dr. Maurício (codinome), oficial permanente, que está providenciando o deslocamento de uma equipe para o local. (…) sob o tapete da porta de entrada tem uma bolsa do Carrefour de material translúcido e dentro tinha dois pães, um inteiro e outro faltando um pedaço.
As supostas ameaças contra integrantes do DOI prosseguem ao longo do dia 2:
– 16h10min — O delegado Tufic, da 14ª DP, telefona para dizer que recebeu dois telefonemas anônimos dando conta de que o capitão Paulo Renault iria jogar uma bomba no quarto do capitão hospitalizado.
– 16h18min — Telefonema para a residência do capitão Paulo Renault, que não atende.
– 16h20min — Ligação para a portaria do prédio que diz, possivelmente o capitão estaria viajando.
“Conforme o blog do jornalista Ricardo Noblat, o capitão seria um Paulo Renault, engenheiro eletrônico, perito judicial, te ex-agente do Serviço Nacional de Informação (SNI). Em 2005, esteve envolvido no escândalo da CPI dos Correios”, complementaram os jornalistas. “Estaria disposto a fazer revelações em depoimento à Justiça, mas desistiu ao ter a casa metralhada”.
– 2 de maio de 1981. Surge outra notícia de plano para matar o oficial ferido, talvez uma manobra para enfatizar que o capitão do DOI-Codi tinha sido vítima de um atentado
– 16h45min — Dr. Wilson (codinome de oficial) liga dizendo que o pessoal do hospital acha bom chamar o plantão policial e a imprensa, dizendo que tinham conhecimento de um plano para eliminar o Dr. Marcos (o capitão ferido).
E continuam as supostas ameaças no dia 2, tentando transformar o capitão de terrorista em vítima. Molinas pede segurança:
– 22h25min — Telefonema do Dr. Marino (codinome de um oficial) avisando de um telefonema anônimo para o Hospital Miguel Couto, avisando que colocariam um petardo na casa do Dr. Marcos (capitão ferido).
– 22h30min — Telefonema para o tenente-coronel Roberval e pede providências junto à PM.
Domingo, 3 de maio de 1981
Molinas anota telefonema recebido de um colega coronel:
– 8h25min – Telefonema do coronel Prado, dizendo que o JB (Jornal do Brasil) tem reportagem em que um médico diz que o capitão estaria em condições de falar. O assunto é tratado com o coronel Cinelli. Mais tarde, outro telefonema — ainda mais preocupante — fala que os agentes se tornam suspeitos de explodir a própria bomba que os feriu:
– 15h50min — Agente Hugo (codinome de policial) liga dizendo que o segurança do Riocentro está comentando que o atentado seria nosso.
Para mudar o foco e jogar a culpa do atentado fracassado no Riocentro na esquerda, Molinas rascunha uma lista de incidentes anteriores, como a suposta tentativa de ataques a unidades militares. O texto é datilografado e enviado ao coronel Cinelli.
Antecedentes
Viemos (sic) apresentar alguns fatos que comprovam a intenção das esquerdas em atingir os órgãos de segurança, em especial os DOIs, tanto no campo da agressão física como em ações psicológicas com objetivo único de desmantelar o aparato repressor ou destruí-lo. No final de 1980 ficaram encarregados de eliminar o Exmo senhor general Antônio Bandeira (que chefiou tropas para o combate aos guerrilheiros no Araguaia, grifo meu), no Sul do país… O atentado seria com risco da própria vida. (Vitimização, na tentativa de angariar simpatia da imprensa).
Molinas conclui:
Face aos atos e fatos apresentados, somados a uma orquestração pela imprensa, acusando os DOIs como responsáveis por tudo que ocorre de mal contra as esquerdas (…) cada elemento do órgão passou a ser um alvo de justiçamento. (…) Quanto ao atentado em si, qualquer conclusão cairá no campo da especulação, correndo o risco de atentar contra a honra e a integridade de um oficial e de um sargento.
Segunda-feira, 4 de maio de 1981
O diário é recheado de documentos. Um deles, um ofício que chega ao DOI-Codi do coronel Luiz Antônio do Prado Ribeiro, encarregado do inquérito policial-militar (IPM) que investiga o atentado. Ele convoca o coronel Molinas Dias para depor às 14h do dia seguinte no 9º andar do Palácio Duque de Caxias, sede do comando 1º Exército.
Sexta-feira, 9 de maio de 1981
Documento confidencial relata um telefonema ao DOI-Codi, às 15h, repassando dados sobre uma mulher de nome Mariangela ou Ângela Capobianco e o local do trabalho do marido dela. O interlocutor descreve a mulher:
“Mais ou menos 45 anos, estatura média, meio gorda, cabelo pintado de caju. É importantíssima, está autorizada (muito cuidado). Trabalha na diretoria de vendas ou arrecadação”.
Ângela, conforme citado acima, era a coordenadora de eventos do Riocentro e, apontada como suspeita de ter colaborado com os militares. Após afastar das funções o chefe de segurança do Riocentro, na noite do atentado, ela teria sido responsável pelo fechamento com cadeados da maioria dos portões de saída da área do show. A medida, em caso de explosão de uma bomba, poderia amplificar o número de vítimas.
Quarta-feira, 13 de maio de 1981
Documento afirma que, às 22h de 10 de maio, no bar do Hospital Miguel Couto um homem, em voz alta, acusa o DOI-Codi pelas bombas colocados no Riocentro e no jornal Tribuna da Imprensa. O homem e um amigo dele são levados para a 14ª DP. Lá são interrogados e liberados. São eles: José Augusto Alves Neto, da Rádio JB, e Carlos Vieira Peixoto Filho, do JB (jornal).
Datado deste dia, um manuscrito contém duas perguntas e respostas atribuídas ao agente Guarany (amigo do sargento morto) sobre as habilidades com bombas do agente Wagner (codinome do sargento morto):
– Wagner é técnico em explosivos? Não
Qual o curso ou estágio que fez: Nenhum. É um autodidata
Quarta-feira, 20 de maio de 1981
Em um documento reservado, enviado ao chefe do serviço de inteligência do 1º Exército, Molinas comunica os nomes dos agentes do DOI-Codi escalados oficialmente para “cobrir” o show: sargento da Aeronáutica Carlos Alberto Henrique de Mello e o soldado da Polícia Militar Hirohito Peres Ferreira. O ofício afirma que o chefe da Seção de Operações, capitão Machado, e o sargento Rosário (os vitimados na explosão no Puma) foram ao Riocentro para supervisionar a equipe. Seria a primeira vez que o nome de Machado e Rosário aparece em um documento oficial como tendo participado da desastrada Missão 115.
Segunda-feira, 25 de maio de 1981
Documento confidencial encaminhado às unidades militares pelo comando do 1º Exército sob o título “Atentado Terrorista no Riocentro – informação 312/81” determina ponderação, serenidade e isenção diante de “notícias apresentadas por certos setores da comunicação sensacionalistas e alguns políticos, que muitas vezes não correspondem à verdade”.
O documento afirma que o coronel Luiz Antônio do Prado Ribeiro, encarregado da investigação militar do atentado, foi substituído, pois está “baixado no HCE (Hospital Central do Exército) desde 18 de maio para observação, foi submetido à junta de saúde, cuja ata do exame recomenda que lhe sejam concedidos 30 dias de licença para tratamento de saúde.
Anos depois, viria a público a versão de que Ribeiro foi afastado do inquérito porque se recusara a acatar ordens superiores. Teria sido, inclusive, chantageado para reunir provas que apontassem grupos de esquerda como autores do atentado.
Outros personagens anônimos e do meio militar se rebelaram. Restou evidente para todos que o país enfrentava uma revolta de “arapongas” inconformados em perder sua sinecura, os privilégios e o poder, enfim. Certo é que o Riocentro foi o divisor de águas, entre a ditadura e a transição democrática, que dali por diante ganhou as ruas, ganhou força e aconteceu pela pressão da sociedade. Não era mais possível conter o anseio por liberdade.