No dia 22 de março, a Rússia sofreu um ataque covarde, que acabou por resultar na morte de 137 pessoas. Classificado por Moscou como um atentado “terrorista”, o ataque deixou 182 pessoas feridas em um dos maiores espaços de exposições e concertos do país, o Crocus City Hall, na cidade de Krasnogorsk, que recebe grandes eventos todos os dias.
Embora não haja ainda nenhuma investigação conclusiva, foi intensamente divulgado que o responsável pelo atentado teria sido o Estado Islâmico (EI), grupo que tem se notabilizado por uma série de ataques a países e governos que estão em contradição com o imperialismo. Contudo, de acordo com uma reportagem da Russia Today, o atentado teria sido diferente do que o EI costuma praticar.
Para a emissora russa, a escolha de um concerto de rock como local do ataque seria praticamente a única característica em comum entre este e outros atos que o EI cometeu. Esse é o caso, por exemplo, do ataque ao Teatro Bataclan em Paris, onde ocorria um concerto da banda norte-americana Eagles of Death Metal, resultando em 89 mortos.
O que chamou a atenção dos repórteres russos, por sua vez, é que nenhum dos criminosos planejava “se juntar às húris [virgens] no paraíso”, como é costume para os seguidores do Estado Islâmico. Após atirar nas pessoas no Crocus City Hall e incendiar o prédio, eles não atacaram as forças especiais que chegaram ao local e fugiram de Moscou em um carro. Eles também não usavam “cintos suicidas” – um detalhe característico dos seguidores do EI que estão prontos para morrer após cometerem seus crimes.
Outro detalhe que não é característico do EI é a recompensa em dinheiro prometida aos executores do ataque. O pagamento deveria ser feito em duas parcelas – antes e depois do atentado. Os criminosos já haviam recebido o primeiro pagamento, no valor de 250.000 rublos (mais de R$13 mil).
O detalhe mais importante é o local onde os criminosos foram detidos. Eles foram eventualmente pegos na rodovia federal M-3 Ucrânia – uma rota que costumava ligar a Rússia e a Ucrânia, mas perdeu grande parte de sua importância internacional após a deterioração das relações entre os dois países em 2014 e, particularmente, após o início da operação militar russa em 2022. Naquele momento, ficou óbvio que só havia um lugar para onde eles poderiam estar indo: a Ucrânia.
Apesar de estarem armados, apenas um deles, Mukhammadsobir Fayzov, ofereceu resistência. Todos os demais foram detidos vivos, o que provavelmente foi uma ordem dada às forças de segurança envolvidas na operação. Além disso, eles sabiam para onde ir para salvar suas vidas: para a fronteira ucraniana.
Isso, também, não é característico do EI, pois alguém que comete um atentado, especialmente um estrangeiro, é sempre considerado “descartável”. Mesmo que ele sobreviva, ninguém o ajudará.
Tudo isso se resume ao fato de que, em comparação com outros ataques realizados pelo EI nos últimos anos, este é significativamente diferente em termos de nível de preparação, planejamento detalhado e compensação financeira.
O que essas contradições mostram é que o ataque à Rússia parece muito mais ter sido obra de um grupo de mercenários – isto é, um grupo de assassinos profissionais contratados especialmente para esse fim – do que de um grupo de combatentes islâmicos, que verdadeiramente, independentemente de estarem certos ou errados, acreditam que estão travando uma luta contra os inimigos de sua fé. As informações, portanto, reforçam a ideia de que o ataque foi encomendado – ao que tudo indica, pela Ucrânia.



