De acordo com imagens vazadas pelo jornal norte-americano The New York Times, o ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro passou dois dias na Embaixada da Hungria no Brasil. Segundo o mesmo jornal, o período em que esteve na Embaixada coincidiu com o período em que foi deflagrada uma nova operação que poderia levar à sua prisão.
As imagens logo suscitaram especulações de que Bolsonaro teria ido à Embaixada para escapar de uma eventual prisão. Afinal, o governo brasileiro não possui jurisdição sobre a Embaixada da Hungria, nem sobre qualquer outra embaixada, assim como a embaixada brasileira em qualquer país obedece ao Estado brasileiro, e não ao Estado daquele país. A utilização de embaixadas como recurso para fugir de prisões não é rara, principalmente em casos de perseguições políticas.
Foi o caso, por exemplo, do jornalista australiano Julian Assange, que buscou abrigo na Embaixada do Equador no Reino Unido. Assange só foi levado à prisão porque o Equador sofreu um golpe de Estado e o presidente golpista, Lenín Moreno, decidiu entregá-lo. Também foi o caso do ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya, que, após ser deposto por um golpe militar, se abrigou na Embaixada do Brasil, que era governado, à época, pelo hoje também presidente Lula.
São muitas coincidências que fazem com que seja muito provável que Bolsonaro visasse uma fuga da Justiça. A primeira delas é a operação contra ele. Com bastante trânsito dentro do aparato de repressão do Estado, Bolsonaro poderia muito bem ter sido informado sobre o que estaria prestes a acontecer. Há não muito tempo, seu filho, Carlos Bolsonaro, escapou por poucas horas de estar em casa durante a execução de um mandado de busca e apreensão, despertando a suspeita de que alguém do “sistema” tivesse lhe avisado.
O que também favorece essa hipótese é o fato de que o governo da Hungria é de extrema direita e tem boas relações com Bolsonaro. Seria provável, portanto, que concedesse asilo ao ex-presidente.
Nesse caso, a Justiça poderia declarar que há um risco real de fuga. Mas isso, aparentemente, não vai acontecer. Pelo que a imprensa tem comentado, Bolsonaro não será preso. Pelo que o Judiciário tem feito, Bolsonaro não será preso. O que, por sua vez, desmoraliza por completo todo o circo montado em torno da tentativa de prisão de Bolsonaro.
Se o Judiciário está disposto mesmo a prender Bolsonaro a todo custo, está aí a oportunidade. Mas, ao que tudo indica, não irá acontecer. O caso todo mostra que prender Bolsonaro não será tão simples assim: a burguesia teme o que poderá acontecer.
E não é para menos. Bolsonaro é a segunda liderança política mais popular do País. Não será possível suprimi-lo com uma decisão judicial. É necessário travar uma luta política contra o bolsonarismo.