Nas suas páginas nas redes sociais, o PT exalta os atos, convocados pela Frente Brasil Popular, dizendo que “Por todo o Brasil, com sol ou com chuva, a militância se reuniu no #23MSemAnistia, e ressalta que o ato reuniu a militância em Salvador, Fortaleza, São Paulo, Recife, Curitiba, Belo Horizonte e outras capitais!”
O jornal Brasil de Fato fez uma reportagem dizendo: “‘Por democracia e sem anistia’: atos no Brasil e no exterior cobram punição a golpistas e lembram 60 anos do golpe militar”.
Os atos deste sábado (23), no entanto, nem mesmo contaram com a presença de grande parte da militância de esquerda.
Para um partido que conta com cerca de 2 milhões de filiados, que controla a Central Única dos Trabalhadores (CUT) com cerca de 4 mil e quinhentos sindicatos filiados, o Movimento dos Sem Terra e diversos Movimentos Populares e estudantis, os números de comparecimento aos atos foi pífio, para não dizer ridículo. E o número de pessoas que compareceram aos atos não mentem.
Primeiramente, o que chama a atenção é que uma das principais cidades brasileiras não realizou o ato, como foi a cidade do Rio de Janeiro. Em Brasília, Belo Horizonte e Curitiba, os atos contaram com cerca de 200 pessoas. Salvador, que, segundo os organizadores, seria o ato de maior peso, cujo estado é administrado pelo PT, contou com a presença da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, teve a presença de um pouco mais de mil pessoas.
Na grande São Paulo, o ato, que foi convocado para o Largo São Francisco, teve a presença de no máximo mil pessoas.
Chama a atenção o esforço de não convocação. No caso de São Paulo, o próprio chamado para o Largo São Francisco, local sem tradição de grandes mobilizações de massa, já parecia um “desconvite”. Em Curitiba e em Belo Horizonte, duas das principais capitais do País, o ato foi convocado inexplicavelmente para as 9h da manhã. A julgar pela ausência de convocação nas redes sociais, a falta de panfletos etc, tudo pareceu mesmo um esforço para que as pessoas não fossem aos atos.
O que se viu foi a presença de alguns militantes da esquerda, e olhe lá. E aí fica a pergunta: se era para chamar um ato no Largo São Francisco, era melhor não ter chamado? Sabemos que não! Ao menos, a direção das grandes organizações da esquerda tomaram a iniciativa de convocar um ato, entenderam que para enfrentar o bolsonarismo, que colocou quase 200 mil pessoas na Paulista, só mesmo com mobilização de rua. Mas isso é só um começo, um tímido começo.
Outro problema é a política. Como querer que o povo saia às ruas com palavras de ordem que não são populares? Não há um chamado claro por reivindicações populares, a roubalheira dos especuladores na Petrobrás, a denúncia das privatizações, o problema do salário e do emprego, apenas para ficar em algumas questões. Com o “sem anistia”, a esquerda quer que os trabalhadores saiam às ruas para pedir que o fortalecimento do Judiciário e da polícia, esses inimigos do povo. É uma política desastrosa da esquerda.
O bolsonarismo, e isso é preciso prestar bastante atenção para não ficar elucubrando fantasias, lotou de gente na Av. Paulista. Havia gente em toda a extensão da avenida, um ato gigantesco e, tenhamos claro que eles têm a possibilidade de fazer outros atos iguais àqueles. E o que se viu nos atos do dia 23 é que a esquerda está completamente desmobilizada.
As direções pecam ao organizar os atos. Ao invés de elaborar um plano, se não der para realizar um ato grande, ir aos poucos organizando uma mobilização gradual, não no Largo São Francisco, mas, por exemplo, na Praça da Sé que cabe muito mais gente, além de ser um local tradicional de manifestações dos trabalhadores. Chamar os sindicatos, associações de moradores, movimentos sociais etc. e fazer atos maiores e depois fazer outras ações para o movimento ir crescendo.
Mas aí, a esquerda não faz nada, e vem outro golpe, um de verdade não esse de mentirinha do dia 8 de janeiro, e a esquerda não está mobilizada, não está preparada, e o que resta para essa esquerda é simplesmente ficar chorando, como aconteceu, literalmente, no golpe do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
O fracasso dos atos é óbvio, não adianta tentar esconder. Mas foi dado o primeiro meio passo. Agora é preciso dar um passo inteiro. Mas para isso as direções da esquerda precisam mudar de política, adotar um programa popular, que tenha a ver com a defesa dos interesses do povo. Se os bolsonaristas defendem a matança promovida por “Israel”, a esquerda defende a luta do povo palestino. Se a direita defende a polícia, a esquerda defende os direitos democráticos do povo. Se a direita defende as privatizações e o roubo do país, a esquerda defende que os trabalhadores controlem as empresas.