Tiago Pires

Militante do Partido da Causa Operária (PCO) e do Comitê Luta em Araraquara-SP. Membro do coletivo de negros João Cândido e da corrente sindical Bancários em Luta.

Coluna

Negros devem atacar os evangélicos e defender a repressão?

Colunista negro do Brasil 247 busca condenar ex-jogador do Santos, não de fatos concretos e tampouco com argumentos jurídicos, mas com base na religião

No dia 21 de março, em publicação no portal Brasil 247, Ricardo Nêggo Tom apresenta um pensamento que está na oposição completa aos princípios que norteiam a luta do povo negro. Na matéria intitulada Robinho, o seguidor de Cristo, e a igreja evangélica como abrigo de criminosos, o colunista destila todo seu preconceito contra os evangélicos e busca condenar, não com fatos concretos e argumentos jurídicos, mas simplesmente com base na religiosidade, o ex-jogador do Santos. 

Em primeiro lugar, cabe destacar que a liberdade religiosa tem sido uma bandeira comum dentro do campo da esquerda, o que nos coloca contra qualquer tipo de perseguição religiosa – entretanto, o identitarismo tem influenciado negativamente determinados setores. Da mesma forma que projetam a luta do povo negro contra uma suposta “branquitude”, Tom busca agora criar uma divisão da sociedade de acordo com a crença, logo um negro que supostamente conhece o preconceito que sofre os adeptos do candomblé em virtude da origem da religião.  

Os identitários defendem lugar de fala, cancelamento, censura, supressão dos direitos democráticos, obter vantagens financeiras através de processos judiciais e prisão para seus “opressores” – melhor dizendo, para todos aqueles que não concordam com sua política. Para esses setores, seus direitos deveriam estar acima do restante da população por serem mais oprimidos, como se isso o “empoderasse” e conferisse poderes para oprimir outros segmentos. Ninguém explica, por exemplo, do que se trata o combate à branquitude.  

Assim como a luta no capitalismo não está para negros contra brancos, tampouco está para evangélicos contra não-evangélicos. Essa é uma política equivocada que não unifica os explorados contra os verdadeiros opressores. Considerando que os evangélicos correspondem a pelo menos 30% da população brasileira, não parece que a esquerda pode se dar ao luxo de abrir mão de uma massa dessa proporção. A esquerda deve apresentar uma política para atrair esse setor, apresentar as contradições materiais da sociedade e as soluções, questionar os problemas e posições a partir de seus valores religiosos. 

Do ponto de vista humano, os valores defendidos por Jesus Cristo são os mesmos que esquerda diz defender, não eram os puros e cheirosos que o seguiam, mas os leprosos, as prostitutas, os pecadores etc. Os direitos democráticos sempre foram sagrados para a esquerda, que os defendeu irrestritamente a todos os cidadãos, inclusive os criminosos. 

Os identitários não defendem os negros de maneira concreta, uma vez que apoiam que o Judiciário cometa arbitrariedades. A verdade mesmo é que gostariam de ter o controle da repressão. O caso de Robinho está cheio de lacunas e, apesar de existir contradições importantes, Tom defende a Justiça do país de Mussolini que não condenou nenhuma figura importante ligada ao fascismo italiano. É um direito do ex-jogador buscar asilo em seu país para se proteger de um Judiciário arbitrário, se assim considerar, e ser julgado no Brasil, onde supostamente teria melhores condições de se defender. 

Um problema que escapa da compreensão dos identitários é que, embora os jogadores de futebol brasileiros ganhem muito dinheiro, eles não deixam de ser negros de um país atrasado economicamente. Basta ver como jogadores africanos e brasileiros são tratados, veja o caso de Vinícius Jr., por mais que desempenhe um bom futebol, é tratado como um imigrante que foi para Europa para tirar dinheiro dos europeus. É como se esses fatores não influenciassem processos judiciais como de Robinho e Daniel Alves. 

Outro aspecto que chama a atenção no caso Robinho é que, ainda que o processo já estivesse correndo na Itália há algum tempo, a campanha por seu cancelamento surge quando chega no Brasil para atuar na equipe do Santos. Outras campanhas, como foi contra o treinador Cuca no Corinthians, sugerem que o identitarismo está sendo usado para favorecer determinados interesses econômicos dentro do futebol. E mais: os ataques contra as torcidas e as liberdades democráticas mostram que a política identitária é uma arma contra os interesses populares.

A luta do povo negro deve estar orientada por princípios como a defesa intransigente dos direitos democráticos, inclusive pela liberdade de crença. Deve-se ter claro que o Estado burguês não merece qualquer confiança, o Judiciário é um carrasco da população oprimida.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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