A Folha de S. Paulo, jornal conhecido por seu compromisso apaixonado com a “verdade”, entrevistou o autor do livro “Israelofobia – A mais nova versão do mais antigo ódio e o que fazer sobre isso”. O britânico Jake Wallis Simons, em determinado ponto diz que Lula reproduz discurso do Hamas e que seria um “idiota útil para o Hamas”. A intenção de busca da “verdade” pelo jornal dos Frias já fica evidente na primeira frase da matéria, onde todas as mortes ocorridas no 7 de outubro são atribuídas ao Hamas, ignorando que essa “verdade” já foi desmascarada por jornalistas independentes.
O interessante é que ao longo da entrevista, conforme busca justificar as ações de “Israel”, Simons acaba listando alguns crimes que os sionistas estão cometendo atualmente na Palestina ocupada. Questionado sobre a crescente perda de apoio público a “Israel”, abusou do cinismo. Segundo ele, as manifestações contra “Israel” começaram “antes de Israel ter disparado um único tiro”. Ou seja, seria uma espécie de comemoração pela morte de israelenses. No entanto, mesmo antes da mais recente onda de ataques militares contra civis palestinos, abundam os casos registrados da violência cotidiana imposta pelo exército de ocupação sionista. Especialmente diante das facilidades técnicas que existem nas últimas décadas para registrar essas agressões.
Simons argumenta que a opinião pública foi se transformando por causa da gradual aceitação da “narrativa do Hamas”. Ele responsabiliza a imprensa imperialista, a mesma que se esforça diariamente para passar um pano para os sionistas: “se você ligar a televisão, em qualquer lugar do mundo, em qualquer hora do dia, verá imagens de civis palestinos mortos”. O problema não é que todos os dias mais palestinos são assassinados, mas o fato da imprensa acabar mostrando essas mortes. Um problema evitável no começo da empreitada sionista, diante da menor velocidade de circulação de notícias e da maior dificuldade técnica para registrar a matança de civis. Simons se ressente, pois “a impressão que o público recebe é que Israel não está lutando contra o Hamas, mas contra mulheres e crianças”. O problema é que “Israel” está matando dezenas de milhares de mulheres e crianças, fica difícil não “parecer” que a guerra é contra elas.
Quando foi questionado sobre os motivos do sucesso da “propaganda do Hamas” em comparação com a de “Israel”, Simons usou uma peça de propaganda sionista já amplamente descreditada, ao ponto do jornal ter que fazer referência a isso na publicação. Citando o ataque ao hospital al-Ahli Arab em 17 de Outubro de 2023, ele trata como “verdade” a acusação sionista de que os foguetes haviam sido lançados pela Jiade Islâmica Palestina. Uma nota adicionada logo após a resposta do entrevistado comenta sobre as divergências sobre a autoria dos disparos de mísseis, mas acrescenta que “Um mês depois, um conjunto de evidências analisado pelo jornal americano The New York Times indicou que ao menos três foguetes israelenses atingiram o hospital”. Mais de 400 palestinos foram assassinados.
Para criticar a fala de Lula, ele compara os eventos da Alemanha nazista com “Gaza”. Sobre Hitler, Simons diz que ele “tomou um país com uma minoria, tirou os direitos dessa minoria, degradou-os, roubou-os, diminuiu-os até que ele fossem sub-humanos na sociedade, deportou-os para os guetos e matou-os em fábricas de morte”. Não tivesse avisado que falava sobre o líder do fascismo alemão, poderíamos até pensar que ele falava sobre a própria Palestina. Com a exceção ao fato de que os palestinos não eram uma minoria, mas a maioria da população local, e que os sionistas não sistematizaram “fábricas de morte”, preferindo o extermínio por armas de fogo. Ao invés de câmaras de gás, explodem casas e prédios com as pessoas dentro. Na Palestina, o povo dali foi transformado em gente de segunda categoria, tendo assim seus direitos democráticos negados oficialmente pela ocupação sionista.
Na sua tentativa de diferenciar “Israel” da Alemanha nazista, Simons diz que “Israel” “foi vítima do ataque mais selvagem desde a Segunda Guerra Mundial”. A afirmação ridícula por si só, pois o próprio bombardeio em Gaza é dezenas de vezes pior que o 7 de outubro na versão israelense. Segundo ele, a “resposta” de “Israel” seria tentar “destruir o inimigo, como qualquer outro país democrático faria”. E lamenta que “precisamos reconhecer que o objetivo do Hamas é criar tantas vítimas palestinas quanto possível”. Com isso, pessoas como Lula diriam “coisas idiotas”, sendo assim “idiotas úteis para o Hamas”. Nas suas palavras, antissemitas como Lula “sabem que não é verdade” a comparação entre as ações de “Israel” e de Hitler. E insistem nessa comparação como uma forma de “humilhação de que desfrutam os antissemitas quando pessoas como eu são forçadas a afirmar que judeus e nazistas não são a mesma coisa”.
Mais uma vez, Simons demonstra sua desonestidade, pois nem Lula, nem a absoluta maioria dos críticos a “Israel” se refere aos “judeus”, em geral, mas ao Estado sionista. Porém, esse é um ponto fundamental da propaganda sionista, o que justifica sua preocupação especial em silenciar judeus críticos a “Israel”, como Breno Altman no Brasil. A “tese” de Simons, conforme cita a Folha de S. Paulo, é que “o atual ódio ao Estado de Israel é a mais nova face do velho ódio aos judeus”. Simons dá sua versão sobre a “demonização” feita ao longo do tempo em relação aos judeus, inicialmente por conta de sua religião, depois por sua “raça” e finalmente por seu Estado. É interessante, porque de fato hoje em dia os judeus não são “demonizados” por sua religião ou “raça”, mesmo que a ideia da “raça” judaica já tenha sido desmontada por historiadores judeus.
De fato, o único dos ódios citados que persiste é o ódio contra “Israel”. Um ódio contra o fascismo, contra o genocídio de um povo pobre, esse sim perseguido de maneira racista e “selvagem”. Um ódio contra a cinismo de pretensos intelectuais que tentam justificar o assassinato de dezenas de milhares de mulheres e crianças. Chamar esse ódio, que não passa de uma resposta humana a tamanha monstruosidade, de “antissemitismo” é uma canalhice, um truque barato do sionismo e de seus patrocinadores.