Eleições legislativas

A ascensão da extrema direita nas eleições em Portugal

Partido aliado de Bolsonaro cresce quatro vezes e tende a ser peça importante na formação do próximo governo português.

Neste último domingo foram realizadas as eleições para a Assembleia da República em Portugal. O órgão representa o Poder Legislativo no país, que tem um regime político semi-presidencialista, com o presidente sendo o chefe de Estado e o primeiro-ministro atuando como chefe de governo. O pleito foi antecipado diante da renúncia do primeiro-ministro António Costa no final de 2023, após se tornar alvo de investigação pelo Ministério Público. Após sua renúncia, veio à tona que ele havia se tornado alvo da investigação “por engano”. Um episódio no mínimo bizarro e suspeito. Nas eleições anteriores, em 2022, o Partido Socialista (PS) de António Costa havia conquistado a maioria das 230 vagas no parlamento português.

Após a apuração dos votos, foi revelado que o PS havia perdido 40 cadeiras e se tornando a segunda força na Assembleia da República, ficando com 77 deputados. Em primeiro lugar ficou a Aliança Democrática (AD), com 79. O PS seria a “esquerda” integrada ao regime imperialista europeu e o AD, a direita dessa mesma engrenagem. Como o presidente do Partido da Causa Operária, Rui Costa Pimenta, apontou na Análise Internacional que foi ao ar nesta segunda-feira, a AD é “a direita tradicional, é um resquício do salazarismo”, em referência à ditadura fascista que governou o país de 1932 a 1974, a maior parte desse período com próprio Salazar na presidência. A ditadura só foi derrubada na Revolução dos Cravos em 1974.

O grande destaque do pleito foi o crescimento da extrema-direita portuguesa, representada pelo Chega, que aumentou em quatro vezes sua presença no parlamento. Superando a intenção de votos que havia sido registrada nas pesquisas eleitorais, o partido ocupa agora 48 cadeiras. Os demais partidos obtiveram número pouco expressivo de vagas. Ainda resta a apuração de votos dos “círculos eleitorais da emigração”, onde portugueses que residem fora do país elegem quatro deputados para a Assembleia da República. O resultado final será divulgado apenas no dia 25 de março.

Presidido por André Ventura, que é aliado declarado de Bolsonaro, o Chega foi criado em 2019. Sua palavra de ordem é “Portugal precisa de uma limpeza”, uma referência aos quase 800 mil imigrantes vivendo no país, quase 8% da população total. A grande maioria brasileiros, uma incoerência a mais para o histórico bolsonarista. Na verdade, as políticas que têm atraído os brasileiros por lá são as relativas aos costumes e à denúncia genérica sobre a corrupção, da mesma forma que ocorre por aqui. Neste campo, também aproveitam das maluquices identitárias para mobilizar pessoas de costumes conservadores.

A alta taxa de abstenção, de 33,77% dos eleitores, foi menor em relação aos 48,54% registrados em 2022, o que pode indicar que a extrema-direita atraiu para as urnas eleitores desiludidos com o regime político.

Transmitido no canal do DCO no YouTube, toda segunda-feira ao meio-dia, e contando com a participação do Comandante Robinson Farinazzo, do canal Arte da Guerra, a Análise Internacional nº 186 teve como tema justamente as eleições em Portugal. Sobre isto, Rui Costa Pimenta comentou:

“Então, o crescimento do Chega é o dado fundamental da eleição, eles triplicaram o número de votos e quadruplicaram o número de cadeiras no Parlamento português. A esquerda (…) mais esquerda, embora tenha tido um resultado ainda expressivo, 8% dos votos, é muito pequena perto do que está acontecendo com a extrema direita”.

E reforçou o alerta em torno da “política do centro”, representada em Portugal pelo Partido Socialista e pela Aliança Democrática:

“Temos advertido: a política do centro leva ao crescimento da extrema direita, e se você fica a reboque da política do centro, você está favorecendo o crescimento da extrema direita. Seja ela do centro PS, seja ela do centro Aliança Democrática, os dois operam da mesma maneira. Pra quem fica sonhando que a extrema-direita vai desaparecer do mapa, isso aqui (os resultados eleitorais) mostra que não vai ser assim. Na última eleição, o Chega teve 7% dos votos, tinha uma projeção maior do que isso e muita gente falou ‘não teve nada!’, o pessoal não quer ver. O Chega, temos que dizer, é um aliado direto do bolsonarismo brasileiro. A esquerda brasileira precisaria parar e pensar no que eles estão fazendo, não podem viver de fantasia”.

Por aqui, o crescimento da extrema-direita também foi cercado por defesas ilusórias. Dizia-se que eram apenas “alguns gatos pingados”. Porém, hoje, o bolsonarismo é uma realidade marcante na política nacional. Um problema de grandes proporções, que leva parte da esquerda ao desespero, ao ponto de se apoiarem nas instituições da burguesia para combater um problema que outrora negligenciaram.

Finalizando a análise, Rui Pimenta trouxe ainda outro ponto problemático do crescimento do Chega no parlamento, qual seja, que a Aliança Democrática não tem maioria no parlamento, de forma que terá que formar uma coalizão com a extrema direita caso queira governar, o que resultaria em um governo muito direitista:

“O segundo problema que coloca as eleições é a formação do novo governo. A Aliança Democrática ganhou as eleições aparentemente, só que ela não tem maioria. Para formar maioria ela precisa do Chega, então nós teríamos um governo que seria uma coalizão entre a direita e a extrema-direita, quer dizer, um governo bem direitista. Uma coisa curiosa, uma coincidência, é que esse ano se comemora os 50 anos da revolução portuguesa contra o salazarismo e justamente no 50º aniversário da revolução portuguesa contra o fascismo, o fascismo levanta a cabeça e tem quase um quinto do eleitorado, está em franco crescimento”.

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