Nesta quinta-feira (7 de março), a diplomata norte-americana Deborah Lipstadt criticou duramente a comparação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre o genocídio cometido pelas Forças de Ocupação de Israel na Faixa de Gaza e o Holocausto, quando seis milhões de judeus foram assassinados pela Alemanha nazista. Segundo a diplomata, tal comparação constitui “antissemitismo”.
No mesmo dia, a diplomata participou de uma audiência no Congresso de seu país, referente ao aumento do “antissemitismo” na América Latina. Durante a sessão, o presidente brasileiro foi citado nominalmente diversas vezes, assim como o presidente da Colômbia, Gustavo Petro e, até mesmo Gabriel Boric (Chile) – foram apontados como maus “exemplos” na América Latina.
Quem é Deborah Lipstadt?
Deborah Lipstadt foi aprovada pelo Senado dos EUA em 30 de março de 2022 como Enviada Especial para Monitorar e Combater o Antissemitismo, com o posto de Embaixadora. No Instituto Tam de Estudos Judaicos da Universidade Emory, que ela ajudou a fundar, atuou como Professora de História Judaica Moderna e Estudos sobre o Holocausto, cadeira financiada pela Dorot Foundation. Ela também lecionou na Universidade de Washington, UCLA e Occidental College. Ela também atuou como diretora do instituto Brandeis-Bardin e foi pesquisadora do Vidal Sassoon International Center for the Study of Antisemitism na Universidade Hebraica de Jerusalém.
Sendo um consenso bipartidário, Lipstadt foi nomeada para o Conselho do Memorial do Holocausto dos Estados Unidos (pelos presidentes Clinton e Obama) e foi convidada pelo presidente George W. Bush para representar a Casa Branca no 60º aniversário da libertação de Auschwitz.
Ainda em 2023, logo após a sublevação palestina iniciada pela operação “Dilúvio de Al-Aqsa”, Lipstadt criticou o apoio tácito ao povo palestino. Novamente traçando paralelos com o holocausto em defesa do Estado sionista, a embaixadora chegou a discursar na “passeata por Israel”, que ocorreu em Washington, tratando, novamente, sobre o “antisemitismo”. Torna-se claro, ao longo de sua carreira, que Lipstadt é uma agente dentro das universidades e da política, de um programa que visa equiparar o antissionismo ao antissemitismo.
O primeiro, sendo a posição de qualquer defensor da dignidade da pessoa humana, critica o Estado de apartheid que hoje coloniza o território palestino; já o segundo, é o preconceito e discriminação contra os povos semitas, no entanto, é um termo frequentemente monopolizado pelo povo judeu.
A definição de antissemitismo
A embaixadora Lipstadt utiliza, assim como o Departamento de Estado, a definição de antissemitismo professada pela Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês). Tal definição, cada dia mais extensa, traz consigo problemas graves, dentre eles, o principal é a equivalência das críticas ao Estado israelense como um ataque a autodeterminação do povo judeu. Segundo a “definição prática de antissemitismo da IHRA”:
Negar ao povo judeu seu direito à autodeterminação, por exemplo, alegando que a existência de um Estado de Israel é um esforço racista.
Esta definição, adotada pelo Departamento de Estado dos EUA, assim como diversas instituições da União Europeia, induz à falsa equivalência entre o Estado Sionista e ódio contra o povo judeu. Isso não é uma surpresa quando entendemos que a Aliança Internacional de Memória do Holocausto foi dominada por sionistas, tal qual a Palestina, utilizando uma organização humanitária como aríete de uma política colonial, objetivando blindar as críticas ao Estado israelense, através da memória do holocausto realizado pelos nazistas.
Aí está o motivo da consternação. Lula utilizou a arma mais poderosa dos sionistas contra eles mesmos: a memória do holocausto. Desta forma, o presidente brasileiro foi capaz de dizer ao mundo o que muitos pensam, mas, devido à pressão sionista, são incapazes de falar: “Israel” está cometendo atrocidades antes vistas apenas na “solução final” nazista.
No Brasil, a definição da IHRA não encontra eco, muito menos as falas da embaixadora Lipstadt, para além da imprensa burguesa e de setores “cosmopolitas” da burocracia de Estado. Na verdade, os ataques que Lula vem sofrendo por conta de seus posicionamentos na política internacional, revelam que o Brasil está seguindo o caminho certo (ao menos no que se refere às falas do presidente). No entanto, é preciso ir além e combater os filhotes do sionismo, que se revelaram inclusive nos partidos tidos de “esquerda” no Brasil, assim como se posicionar firmemente contra o Estado sionista de “Israel”, rompendo relações diplomáticas.
Israel é um anão político-econômico, que mantém seu apoio através do lobismo em Washington e da chantagem moral sobre o holocausto que, inclusive, empalidece em comparação ao genocídio de civis soviéticos na segunda grande guerra (mais de quatorze milhões). Por tal razão, a fala de Lula cumpre um papel de destaque trazendo um paralelo óbvio demais para ser ignorado.