Está em marcha uma revolução na Palestina. Após anos e anos de luta abnegada de um povo martirizado, ela foi desatada em 7 de outubro de 2023, com a operação Dilúvio de al-Aqsa, quando o Hamas, liderando várias organizações armadas da resistência palestina, desencadeou o início do fim de “Israel” e do sionismo.
Atualmente, as Brigadas al-Qassam, braço armado do Hamas, é a principal organização armada do povo palestino, liderando mais de uma dúzia de grupos, de um povo que se arma diariamente para lutar contra a ditadura nazista de “Israel”. Entre os anos 60 e 70, era a OLP e o Fatá que estavam à frente da resistência armada, com contribuições fundamentais da FPLP e da FDLP.
Contudo, antes mesmo da OLP, o povo palestino já resistia de armas em mão ao sionismo e ao imperialismo. Há mais de sete décadas, em 1947, quando do Mandato Britânico, duas irmãs palestinas criaram uma organização armada de mulheres para lutar contra o sionismo e o imperialismo britânico.
Estamos falando de Marriba e Narimam Khorshid e da Zahrat al-Uqhuwan (Flores de Crisântemo, na tradução), a primeira vez que mulheres palestinas se organizaram para travar a luta armada contra o sionismo e o imperialismo.
Inicialmente, a Flores de Crisântemo foi criada em 1947 como uma organização social dedicada à luta pelas liberdades democráticas das mulheres palestinas, que atuava também para promover a unidade religiosa no seio da sociedade palestina, igualmente apoiando estudantes que não possuíam condições de pagar por sua educação.
O crisântemo é a mais conhecida flor da Palestina durante a primavera. O nome pode parecer curioso para uma organização que eventualmente pegou em armas para lutar contra os invasores sionistas, mas não é uma coincidência.
E como foi que a Flores de Crisântemo deixou de ser uma organização de assistência para se tornar uma brigada armada de mulheres palestinas?
O evento responsável por isso se deu ainda no ano de 1947, pouco antes do início da Nakba, mas em uma época que os sionistas, apoiados pelos britânicos, já assassinavam palestinos.
Em entrevista concedida no ano de 1998 à pesquisadora Amal Al-Agha, Marriba explicou o que levou ela e sua irmã a pegar em armas contra os sionistas:
“Vi com meus próprios olhos como uma criança de seis anos recebeu uma bala fatal na frente de sua mãe, na porta de sua casa, em Haifa. Naquele dia fui para casa e decidi me vingar. Desde então, comecei a me corresponder com o comandante Abdul Qadir al-Husseini.”
A título de curiosidade, al-Husseini era um revolucionário palestino, fundador do grupo militante Organização pela Luta Sagrada, de 1933. Durante a Revolução Palestina de 1936-39 e a Nakba, ele, junto de Hasan Salama, comandou o Exército da Guerra Sagrada.
Ou seja, a opressão do sionismo sobre o povo palestino fez Marria (e sua irmã) pegar em armas contra aqueles bandos nazistas, reorganizando a Flores de Crisântemo em uma organização armada de mulheres palestinas.
Tendo em vista que o sionismo e a ditadura nazista de “Israel” fez de tudo para destruir a memória do povo palestino, encontrar informações sobre a história heroica desse povo martirizado foi algo extremamente difícil para historiadores.
Contudo, pesquisadores conseguiram encontrar o “juramento secreto” que guerrilheiras palestinas fizeram quando ingressaram na Flores de Crisântemo em 20 de janeiro de 1947, quando já era uma organização armada. O juramento diz o seguinte:
“Juro por minha honra, minha religião e minha fé a minha lealdade principal e a gastar minhas coisas mais queridas e preciosas pelo bem e ajudar todos os necessitados e fracos. Testemunhei ao Senhor dos mundos do que mencionei, e não o revelo até a morte.”
Foi assinado por Subhiya Awad, Khadija Kilani, Madiha Al-Batta, Najma Okasha, Maysar Daher, Sunni Irani, Faiza Shloun e Mabara Khaled.
Quando da entrevista em 1998, Marriba vivia com sua irmã Narimam em Cairo, capital do Egito.
Na ocasião, ela deu alguns detalhes sobre sua luta armada contra os sionistas. Disse que militou ativamente em Haifa na busca de quadros, até que conseguiu que 12 mulheres árabes se juntassem à Flores.
Uma vez que já havia um número significativo de combatentes, e após terem se armado com metralhadoras e espingardas, elas decidiram atacar milicianos fascistas da Haganá “em seus locais e esconderijos“, declarou Mahiba.
Como as Flores de Crisântemo não era uma organização grande, seus ataques aos sionistas precisavam ser furtivos. Assim, Marriba explicou que sua organização recebia apoio das outras organizações guerrilheiras palestinas:
“As forças mujahideen árabes estavam protegendo nossas costas e fortalecendo nossas armas.”
Por vezes, demais grupos temiam que as guerrilheiras pudessem ser assassinadas pelos sionistas, aconselhando-as a não realizar determinadas ações. Contudo, isto não as impediu de travar a luta armada:
“Aconteceu uma vez que decidimos atacar um covil sionista, no qual um grupo deles estava nas aldeias árabes, causando grandes danos, e nossos irmãos árabes tentaram nos distrair deste trabalho porque é perigoso, mas nós não hesitamos e atacamos o covil sionista na escuridão da noite. “
Como se sabe, apesar da resistência aguerrida das palestinas e dos palestinos nos anos de 1947 e 1948, o sionismo fez uma verdadeira limpeza étnica na Palestina, expulsando de suas terras quase um milhão de palestinos, fundando o Estado nazista de “Israel”. Afinal, teve apoio do imperialismo britânico, que havia destruído a maior parte das organizações palestinas na Revolução de 36. Igualmente, contou com o apoio do imperialismo norte-americano e do stalinismo.
A Flores de Crisântemo foi dissolvida, e Marriba e Narimam tiveram de deixar sua terra natal. Depois de passarem pelo Líbano e pela Jordânia, finalmente se estabeleceram no Egito.
Marriba, tendo nascido em 1921, faleceu em 2000, ano da Segunda Intifada.
Já Narimam, tendo nascido em 1927, apenas dois anos antes da Revolta Palestina de 1929, viveu até 2014, ano da Guerra em Gaza.
Embora as irmãs não tenham mais pego em armas contra as forças de ocupação, ao criarem a Flores de Crisântemo, primeira organização armada de mulheres palestinas, e travarem a luta abnegada para impedir a Nakba, influenciaram a subsequente luta armada e militância revolucionária de mulheres palestinas como Leila Khaled, Umm Nidal e milhares de outras que lutaram e seguem lutando pela libertação de seu povo das garras do sionismo e do imperialismo.