Em meio à situação cada vez mais delicada da candidatura à reeleição de Joe Biden, que têm como obstáculos à sua frente a indisfarçável senilidade do presidente e o seu apoio aos crimes de guerra na Faixa de Gaza, Paul Krugman, que se identifica como um “economista keynesiano”, escreveu um artigo para o jornal norte-americano The New York Times tentando demonstrar a suposta superioridade política do democrata. O texto, traduzido por O Estado de S. Paulo, traz como título Trump ou Biden: quem realmente está do lado dos trabalhadores americanos?.
No primeiro parágrafo, Krugman introduz aquilo que pretende demonstrar:
“Houve muita especulação antes das primárias presidenciais de terça-feira em Michigan, mas os resultados reais não esclareceram as duas questões mais importantes: quantos eleitores “não comprometidos”, irritados com a abordagem do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em relação à guerra em Gaza, se absterão em novembro, mesmo sabendo que Donald Trump certamente apoiaria muito mais Binyamin Netanyahu do que Biden? E quantos trabalhadores apoiarão Trump na falsa crença de que ele está do lado deles?”
Para Krugman, portanto, a situação política norte-americana estaria contaminada por duas espécies de “mitos”: o de que Biden seria mais pró-“Israel” que seu rival Donald Trump e que este seria mais pró-classe operária que o atual presidente.
Quanto ao primeiro suposto “mito”, Krugman não entra no mérito. No entanto, para fins de esclarecimento, entraremos no debate. A base do apoio norte-americano a “Israel” não é a ideologia, mas sim a indústria bélica e os grandes monopólios norte-americanos que veem na manutenção de “Israel” uma necessidade para controlar os países da região. A existência de “Israel” é fundamental, por exemplo, para servir de constante ameaça ao Irã e, assim, limitar a ação do país persa na tentativa de se estabelecer como uma potência regional independente na questão do petróleo.
Dito isto, basta agora perguntar: com quem está a indústria bélica? Com quem está as grandes petroleiras? Com Joe Biden. E não é à toa que, enquanto Trump não iniciou uma única guerra em seu mandato, Biden já arrastou o mundo para duas guerras de grandes proporções.
Pouco importa a simpatia de Trump por Netanyahu e vice-versa. O mais importante é a força social que presidente dos Estados Unidos expressa.
Esse debate, por sua vez, ajuda bastante a esclarecer a questão da classe operária. Antes de tudo, um dado: nas duas vezes em que participou das eleições presidenciais, Donald Trump contou com muitos votos da classe operária e de regiões operárias. Só por isso, já não poderíamos concluir que a relação entre Trump e os trabalhadores seja de pura demagogia.
Nem o próprio Krugman consegue esconder que as coisas não vão muito bem sob o governo de Biden. Por isso, tenta explicar o fracasso de seu governo:
“Ele presidiu uma explosão de inflação, mas o mesmo aconteceu com os líderes de outras economias avançadas, indicando claramente que as interrupções relacionadas à pandemia, e não à política, foram responsáveis. E a inflação vem diminuindo, apesar de alguns solavancos ao longo do caminho – sem o alto índice de desemprego que alguns economistas afirmaram que seria necessário”.
Há uma explicação muito mais simples de porque a economia vai mal sob Biden, apesar do apoio que tem dos capitalistas, facilitando que conseguisse, por exemplo, fazer tramitar seu pacote de infraestrutura. Joe Biden é o senhor da guerra – ou melhor, das guerras -, o que é um empreendimento muito caro. Em um único despacho, Biden destinou 75 bilhões de dólares para as guerras da Ucrânia e do Oriente Médio.
O envolvimento militar cada vez mais intenso, que será uma necessidade para o próximo período para que os monopólios mantenham sua dominação, é completamente incompatível com os interesses da classe operária. E é por isso que Trump é tão popular entre setores da classe operária. Ainda que seja um fenômeno negativo para os trabalhadores e, em parte, demagógico, o trumpismo se baseia em uma força social real e que tem suas contradições com o imperialismo. Por expressar os interesses da burguesia interna norte-americana, que se vê prejudicada com a ação externa do Estado norte-americano, Trump acaba sendo visto como alguém genuinamente interessado no desenvolvimento do País.