Na última quarta-feira (6), o portal de notícia catarense, Al Jazeera, publicou um artigo com o seguinte título: “Como distrair uma criança faminta: Fome em Rafah em meio à guerra de Israel”, trazendo a história de duas mães que contam como a fome tomou conta de seus filhos e o que elas fazem para tentar garantir que eles sobrevivam de alguma forma.
O relato de uma mãe, Tahrir Baraka, 36 anos, apresentado pela notícia, traz a realidade vivida em Rafá:
“Estou muito preocupada com meus filhos. Não me importo se eu como, me preocupo com eles, eles não fizeram nada de errado para passarem fome assim”, diz ela.
O trecho citado é apenas um fragmento da situação de fome que assola a população que reside na Faixa de Gaza. Todos os dias crianças passam fome, mesmo com seus pais renunciando a comer para proporcionar uma refeição aos filhos. Em meio aos bombardeios intermináveis, os adultos passam os dias se perguntando onde arrumar um local seguro para as crianças, um pouco de água e comida. Baraka e sua família foram deslocadas de Khan Yunis, cidade no sul de Gaza, onde tinham uma casa no campo de refugiados a oeste da cidade.
“Foi uma luta encontrar farinha suficiente para fazer algum pão para as crianças”, disse Baraka. “Depois, tivemos familiares deslocados de Bani Suhaila vindo ficar conosco também, e as coisas pioraram.”
“Eu daria minha parte de pão aos meus filhos para acalmar a fome deles. Não conseguíamos comprar qualquer outra comida, pois tudo ficou muito caro, e meu marido, eletricista, não tem trabalho desde o início da guerra.”
A situação não é exclusividade de Baraka. No outro lado da tenda, Marwa Talbani, de 32 anos, vive o mesmo drama com a sua família. O deslocamento forçado dos palestinos diante da ação genocida do estado de “Israel” impõe a tragédia humanitária a todo esse povo martirizado
Campo de concentração a céu aberto
“Fomos deslocados de Tel al-Hawa, na Cidade de Gaza, fugindo dos bombardeios e fazendo a exaustiva viagem para o sul. Mas naquela época, ainda era o início da guerra, no final de outubro.
“Consegui colocar algumas coisas na minha bolsa para que meus filhos comessem no caminho, e agora minha filha de seis anos, Kenzi, abre a bolsa todos os dias, esperando encontrar algo para comer.
“Ela espera ter esquecido um pedaço de biscoito ou um sanduíche de queijo, mas infelizmente tudo já foi consumido desde que viemos para esta tenda.”
A cidade de Rafá, fronteira com o Egito, está superlotada, cerca de 1,5 milhões de palestinos estão amontoados em um espaço minúsculo, buscando a sobrevivência em abrigos, tendas ou lugares ainda mais precários. Todos vivenciam a fome e lutam para sobreviver mais um dia. Os recursos enviados através da ajuda humanitária já se esgotaram, o que implica em aguardar escassas e esporádicas refeições e outros auxílios preparados por organizações voluntárias.
“O povo de Gaza é conhecido por sua generosidade e gosta de alimentar todos”, disse Baraka tristemente. “Mas nesta guerra, ninguém consegue sequer alimentar a própria família.”
Baraka, por exemplo, ao ser forçada a abandonar sua casa, trouxe consigo apenas um pedaço de pão, uma lata de sardinha e uma garrafa de água. Ao chegarem em um posto de controle israelense, foi permitido a passagem sua e de sua filha, porém seu marido foi barrado, deixando a família abandonada à beira-mar.
“Não gosto mais do mar depois daqueles dois dias congelantes e uma noite que passamos lá”, disse Baraka.
“Meu marido se juntou a nós no dia seguinte, porém. Eu estava chorando de frio à beira-mar, e meu filho de nove anos, Jawad, estava me consolando, dizendo que seu pai nos alcançaria, quando ele apareceu.”
‘Eu vou morrer de fome’
“Tenho que dizer aos meus filhos todos os dias que não podemos comprar este ou aquele alimento. Biscoitos são caros, mas eles gostam. Em vez disso, dou a eles alguns tomates apenas para terem algo para comer hoje, e assim por diante”, disse Talbani.
“As crianças não podem suportar a fome por muito tempo. Tento distraí-los, brincando com eles na areia ou correndo entre as tendas. Mas isso não funciona por muito tempo.”
Baraka passa o dia tentando distrair seus filhos para adiar o máximo de refeições possíveis:
“Sou obrigada a adiar a única refeição deles cada vez mais tarde no dia, mais perto da noite, quando está escuro lá fora, e eles dormem cedo.” –
O que nem sempre ajuda:
“Às vezes, meu filho Amer me diz: ‘Sinto que vou morrer de fome.’
Talbani e outras mães compartilham o mesmo desespero, os sionistas emplacaram uma “guerra de fome” aos palestinos:
“Você pode ouvir em dezenas de tendas ao nosso redor, crianças chorando porque estão com fome. Esta é uma guerra de fome.”
“Só conseguimos encontrar comida enlatada, e não muita. Os preços estão nas alturas, e ninguém tem dinheiro. Como podemos alimentar nossos filhos? Conseguir um saco de farinha leva horas e horas na fila, e esse único saco não faz pão suficiente para nós, temos que racioná-lo estritamente.
“Não estamos pensando em nos salvar, nos preocupamos interminavelmente em salvar nossos filhos da morte, da fome.”
O povo palestino está sendo assassinado na faixa de Gaza, onde já morreram 30 mil palestinos, sendo 9 mil mulheres e 15 mil crianças, ou seja, mais de 70%, justamente aqueles que são o elo mais fraco da população. Além dos mortos, são quase 100.000 feridos, muitos amputados vivendo no limite entre a vida e a morte. A fome é realidade para 98% da população e os relatos trazidos pela Al Jazeera evidenciam o genocídio cometido pelo estado terrorista de “Israel”.



