Na última quinta-feira (29), “Israel” cometeu um dos maiores crimes de guerra de toda história: abriu fogo contra uma fila de milhares de palestinos que estavam esperando por comida, assassinando pelo menos 112 pessoas e ferindo mais de 750.
Conhecido como Massacre da Farinha, essa chacina ocorreu na rua Harun al-Rashid, em Gaza. Segundo testemunhas e correspondentes da emissora catarense Al Jazeera, os soldados sionistas atiraram nos palestinos que estavam reunidos ao redor de caminhões que continham ajuda humanitária.
Após a primeira rodada de disparos, enquanto as pessoas estavam retirando caixas de farinha e comida enlatada, os soldados fascistas voltaram a atirar. “Após abrir fogo, tanques israelenses avançaram e passaram por cima de inúmeros feridos e mortos”, afirmou Ismail al-Ghoul, correspodentente da Al Jazeera.
O episódio ocorreu um dia depois de Carl Skau, vice-diretor executivo do Programa Alimentar Mundial (PMA), ter dito ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que mais de 500 mil, ou uma em cada quatro pessoas, estava em risco de fome, com uma em cada seis crianças abaixo da idade de dois anos considerada gravemente desnutrida.
Os palestinos que estavam no local no momento da chacina afirmaram a outro correspondente da Al Jazeera que eles sentiram que o ataque israelense foi “uma armadilha, uma emboscada”.
“Viemos aqui para conseguir alguma ajuda. Estou esperando desde o meio-dia de ontem. Por volta das 4h30 da manhã, os caminhões começaram a chegar. Os israelenses simplesmente abriram fogo aleatório contra nós, como se fosse uma armadilha. Assim que nos aproximamos dos caminhões de ajuda, os tanques e aviões de guerra israelenses começaram a disparar contra nós”, disse uma testemunha no local à Al Jazeera.
“Íamos trazer farinha… então atiradores israelenses atiraram contra nós”, disse outra pessoa na área à Al Jazeera. “Eles atiraram em minha perna. Não consigo me levantar”, acrescentou.
Além dos mortos em decorrência das armas israelenses, outros palestinos foram esmagados pelos caminhões que tombaram após o começo da chacina.
Ao falar sobre o ocorrido, “Israel” contou duas histórias diferentes: primeiro, afirmou que a culpa era da multidão, que várias pessoas ficaram machucadas por terem sido esmagadas e pisoteadas quando os caminhões chegaram. Depois, os sionistas mudaram de ideia e começaram a afirmar que suas tropas ficaram assustadas pela multidão, abrindo fogo contra os civis.
A ocupação sionista, entretanto, não explicou como os civis massacrados representavam uma ameaça. Já em relação à primeira versão, testemunhas afirmam veementemente que as pessoas só começaram a ser pisoteadas depois que os soldados nazistas começaram a atirar contra a multidão.
Ao mesmo tempo em que comete massacres criminosos como este, “Israel” mantém seu bloqueio contra Gaza, jogando a população da região na miséria e na fome. Desde 7 de outubro, agências de ajuda humanitária afirmam que “Israel” tem atrasado as entregas de mantimentos.
“O risco de fome está sendo alimentado pela incapacidade de trazer suprimentos alimentares essenciais para Gaza em quantidades suficientes e pelas condições operacionais quase impossíveis enfrentadas pelo nosso pessoal no terreno”, disse Carl Skau, vice-diretor executivo do Programa Alimentar Mundial (WFP, na sigla em inglês).
Ele descreveu as condições perigosas para os caminhões do WFP que tentavam levar alimentos para o norte no início deste mês. “Houve atrasos nos postos de controle; enfrentaram tiros e outros tipos de violência; comida foi saqueada no caminho; e no seu destino foram esmagados por pessoas desesperadamente famintas”, acrescentou.
Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), o número de caminhões contendo ajuda humanitária diminuiu em 40% desde que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) determinou, em janeiro deste ano, que “Israel” deve fazer o possível para impedir atos genocidas em Gaza.
Pela brutalidade da chacina, várias pessoas e organizações pró-imperialistas foram obrigadas a criticar “Israel” após o Massacre da Farinha.
O gabinete do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, por exemplo, condenou o que descreveu como um “feio massacre conduzido pelo exército de ocupação israelita”. O chefe da ONU, Antonio Guterres, também condenou o incidente.
“Condeno o incidente de quinta-feira em Gaza, no qual mais de 100 pessoas foram mortas ou feridas enquanto procuravam ajuda vital […] Os civis desesperados em Gaza precisam de ajuda urgente, incluindo aqueles no norte, onde a ONU não consegue fornecer ajuda há mais de uma semana.”
Na França, o presidente Emmanuel Macron expressou a “mais forte condenação”. O Ministério das Relações Exteriores da Jordânia também condenou o ataque:
“Condenamos os ataques brutais das forças de ocupação israelenses contra a concentração de palestinos que esperavam por ajuda na rotatória de Nabulsi, perto da rua Al-Rashid, em Gaza”, afirmou num comunicado.
A Arábia Saudita apelou à comunidade internacional “para que tome uma posição firme, obrigando Israel a respeitar o direito humanitário internacional”.
Outros governos também condenaram o massacre. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse que seu governo estava suspendendo as compras de armas de “Israel”.
“Pedindo comida, mais de 100 palestinos foram mortos por Netanyahu”, disse Petro. “Isso se chama genocídio e lembra o Holocausto, mesmo que as potências mundiais não gostem de reconhecê-lo. O mundo deve bloquear Netanyahu. A Colômbia suspende todas as compras de armas de Israel”, disse em sua conta no X.
No Brasil, o Itamaraty emitiu uma nota oficial condenando o massacre, afirmando que “trata-se de uma situação intolerável, que vai muito além da necessária apuração de responsabilidades pelos mortos e feridos de ontem”.
“O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão. A humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres”, diz o documento.
O Hamas, partido mais popular da Palestina e linha de frente no combate ao Estado nazista de “Israel”, emitiu uma nota denunciando os crimes de “Israel”, negando “veementemente as falsas alegações da ocupação, que afirmou que os mártires deste massacre caíram devido a tumultos e lutas internas”.
“A ocupação cometeu este terrível massacre com a intenção premeditada de causar um grande número de mártires e feridos […] Responsabilizamos o governo norte-americano, a comunidade internacional, a ocupação ‘israelense’ e também as organizações internacionais que se eximem de suas responsabilidades; responsabilizamos todos eles pelos atos de assassinato em massa, massacre, guerra de extermínio e guerra de fome perpetrados pelo exército de ocupação ‘israelense’ até o momento”, diz a organização.
Apesar das centenas de pessoas assassinadas, o Massacre da Farinha não tocou o coração dos Estados Unidos, que se limitaram a afirmar que estavam “procurando respostas” de “Israel”, não condenando a chacina.
“Muitos palestinos inocentes foram mortos durante este conflito, não apenas hoje, mas ao longo dos últimos quase cinco meses”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, numa conferência de imprensa.
“Estamos em contacto com o governo israelense desde esta manhã e entendemos que está em curso uma investigação. Estaremos monitorando essa investigação de perto e pressionando por respostas”, acrescentou Miller.