O MintPress News, jornal virtual norte-americano, realizou um novo estudo acerca da cobertura da imprensa burguesa das mortes do jornalista e comentarista Gonzalo Lira e do golpista Alexey Navalni. De acordo com os dados divulgados pelo jornal, o New York Times, Washington Post, ABC News, Fox News e CNN veicularam coletivamente 731 artigos ou segmentos que discutiram ou mencionaram a morte de Navalni, incluindo 151 do Times, 75 do Post, 177 da ABC, 215 da Fox e 113 da CNN entre 16 e 22 de fevereiro, em comparação com apenas um sobre Lira desde sua morte em 12 de janeiro.
Esses veículos foram escolhidos por seu alcance e influência e, juntos, poderiam representar de maneira mais ou menos acertada a posição da imprensa burguesa como um todo. Os dados foram compilados usando o banco de dados de notícias Dow Jones Factiva e pesquisas nos sítios das organizações de notícias.
Cabe ressaltar que o único artigo que fala sobre a morte de Lira, publicado pela Fox News, o descrevia como “espalhando propaganda pró-russa” em seu título. Não informava aos leitores que havia algo suspeito sobre sua morte e parecia estar fazendo o possível para justificar seu tratamento. Além desse texto, houve um silêncio total.
Afirmando não tomar posição sobre as mortes de Navalni e Lira ou sobre a guerra da Ucrânia, o MintPress afirma que essa diferença na cobertura dos dois casos pode se dar pelo fato de que, enquanto Navalni era um fascistaque, a serviço do imperialismo, queria tirar Putin do poder, Lira era um jornalista pró-Rússia que denunciava os crimes do governo de Zelenski.
No entanto, Lira estava longe de ser desconhecido. O apresentador de notícias Tucker Carlson, por exemplo, dedicou um programa inteiro à sua prisão, enquanto figuras mais famosas, como o dono do Twitter, Elon Musk, defenderam – mesmo que demagogicamente – sua causa. O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, foi repetidamente questionado sobre o caso de Lira e não ofereceu respostas concretas. Como um norte-americano vivendo na Ucrânia que adotou uma postura pró-Rússia sobre a invasão, Lira construiu uma base de seguidores de centenas de milhares de pessoas nas redes sociais.
Como cidadão norte-americano que morreu sob custódia de um governo ao qual os EUA forneceram dezenas de bilhões de dólares em ajuda, poder-se-ia argumentar que o caso de Lira é especialmente importante para o público norte-americano e deve receber atenção especial. Além disso, Lira morreu mais de um mês antes de Navalni, o que significa que o estudo compara mais de 40 dias de cobertura de Lira com apenas seis dias de cobertura da morte de Navalni, tornando a disparidade ainda mais evidente.
A história de Navalni já é conhecida, aqueles que não estão familiarizados com ela podem acessar este artigo publicado por este Diário. Já Lira era uma figura mais desconhecida que começou a ganhar fama após a deflagração da operação especial da Rússia na Ucrânia.
Seu conteúdo irritou tanto o governo ucraniano quanto muitos nos Estados Unidos. O Daily Beast, por exemplo, atacou Lira, descrevendo-o como um “laranja pró-Putin”, e foi tão longe a ponto de entrar em contato com o governo ucraniano para alertá-los sobre o trabalho de Lira. Lira confirmou que, após o artigo do Daily Beast, foi preso pela polícia secreta ucraniana.
Ele foi preso novamente em maio de 2023 e nunca mais veria a liberdade. Os parentes de Lira afirmam que ele foi gravemente maltratado na prisão, e culpam o governo por sua morte. “Eu não posso aceitar a maneira como meu filho morreu. Ele foi torturado, extorquido, mantido incomunicável por 8 meses e 11 dias, e a embaixada dos EUA não fez nada para ajudar meu filho“, escreveu o pai de Lira. “A responsabilidade dessa tragédia é do ditador Zelenski e com a concordância de um presidente norte-americano senil, Joe Biden… Minha dor é insuportável. O mundo deve saber o que está acontecendo na Ucrânia com esse ditador desumano Zelenski“, acrescentou.
Segundo o MintPress, a cobertura da morte de Navalni não só foi extensa, mas também o retratou de forma altamente positiva e deu amplo espaço a figuras que acusavam o governo Putin de tê-lo matado.
O New York Times, por exemplo, publicou um artigo de opinião de Nadya Tolokonnikova, da banda pró-imperialista Pussy Riot, no qual ela disse que Navalni deu “esperança e inspiração para pessoas ao redor do mundo”. “Para muitos de nós na Rússia, Alexey era como um irmão mais velho ou uma figura paterna“, disse.
Em contraste, a cobertura escassa da morte de Lira em qualquer veículo que se assemelhasse a um veículo de imprensa tradicional foi esmagadoramente negativa. O Daily Beast, por exemplo, publicou com o título EUA finalmente confirmam que coach de relacionamento norte-americano que se tornou servo do Kremlin morreu na Ucrânia. Seu subtítulo dizia: “Gonzalo Lira, um blogueiro que promovia propaganda do Kremlin na Ucrânia, morreu após aparentemente contrair pneumonia”, o que significa que não houve menção de sua prisão ou encarceramento nem no título, nem no subtítulo.
A maioria dos leitores que, via de regra, apenas leem manchetes, presumiria, a partir dessa descrição, que uma pessoa terrível morreu de forma natural. O artigo continuou a desqualificar suas credenciais como jornalista (que o Daily Beast usou apenas entre aspas quando o mencionou) e o acusou de fazer pronunciamentos “histéricos” sobre como o governo ucraniano estava atrás dele – mesmo que ele acabasse de morrer em uma prisão ucraniana.
Fato é que Navalni era uma figura apoiada pelo imperialismo para tentar derrubar Putin do poder. É de grande interesse da imprensa burguesa, portanto, cobrir a sua morte 24 horas para fazer propaganda contra o governo russo.
Lira era o contrário: era um jornalista e comentarista pró-Rússia que criticava e atacava implacavelmente o governo ucraniano. Ele não é um personagem simpático aos olhos da imprensa imperialista e, portanto, sua história é abafada, principalmente quando levamos em conta que ele morreu nas mãos do governo nazista de Zelenski.
O caso mostra que o que se torna “notícia” para a imprensa burguesa não é aleatório, mas o resultado de uma série de decisões, em primeiro lugar, políticas que seguem os interesses do imperialismo. Em outras palavras, a imprensa só cobrirá determinado acontecimento – neste caso, morte – se houver algo a ser ganho com isso.
Com informações de Alan Macleod, para o MPN.news.