Em artigo de título Bolsonaro sai fortalecido espiritualmente da Paulista, até para ser preso, publicado pelo Brasil 247, o jornalista Moisés Mendes procura falsificar o que de fato ocorreu no dia 25 de fevereiro para, assim, indicar que a extrema direita estaria em vias de ser derrotada.
Diz ele:
“Duas conclusões elementares sobre a aglomeração golpista e religiosa em São Paulo. Bolsonaro se fortaleceu espiritualmente para enfrentar a prisão. E líderes que pareciam vacilantes se habilitaram como herdeiros do espólio do sujeito. O resto vale pouco. Vale quase nada, por exemplo, a especulação de que a manifestação, com público muito aquém do esperado, possa ter o poder de provocar reações radicais se Bolsonaro for preso. Que tipo de reação? Um levante? Badernas? Mais uma invasão de Brasília? A “destruição” dos que prenderem Bolsonaro, como blefou Silas Malafia (sic) no discurso com ataques a Alexandre de Moraes? (…) A aglomeração teve algumas utilidades, mas nenhuma com promessa de efeitos drásticos. Uma utilidade é a definição dos políticos que vão disputar a herança deixada por Bolsonaro.”
Vamos aos fatos. Dizer que o público foi “aquém do esperado” é verdadeiramente ridículo. Essa foi a maior manifestação de rua desde a posse do presidente Lula, que ocorreu no primeiro dia de 2023. Esse fato, ainda mais considerando que a esquerda não organizou uma única manifestação que chegasse perto em número de pessoas, é verdadeiramente alarmante.
Chamar o ato de “aglomeração golpista e religiosa”, por sua vez, é uma tentativa de diminuir a importância da manifestação. Ainda que muitos dos presentes sejam religiosos e ainda que parte da base bolsonarista sonhe com o dia em que haverá um golpe militar liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atribuir essas características ao público não muda em nada o seu caráter objetivo: foi uma mobilização bastante grande.
Neste sentido, pouco importa se as pessoas são religiosas ou não – o que, pelo que Moisés Mendes insinua, seriam pessoas de segunda categoria, que não deveriam ser levadas a sério. O dado realmente importante é que Bolsonaro, mesmo sob ameaça de ser preso, se provou como a segunda liderança política mais popular do País.
A conclusão de Moisés Mendes, após tentar menosprezar a importância do ato de todas as formas, é a de que:
“Não há como imaginar que os efeitos da Paulista, em que todos os oradores deram um tom bíblico aos discursos, possam impedir que as investigações sigam em frente, possivelmente com novas informações devastadora.”
Isto é: para Moisés Mendes, realizar uma ampla manifestação não tem nenhum efeito na situação política. Mas basta ver o que os mesmos jornais que antes estavam em campanha contra Bolsonaro estão dizendo. Não houve um único editorial na imprensa burguesa condenando de fato a manifestação bolsonarista. Isto é, a manifestação de fato serviu como uma demonstração de força da extrema direita.
Fingir que a manifestação foi um fracasso é a pior política possível para o momento. Isso apenas reforçará a atual paralisia da esquerda. É preciso fazer o exato oposto: diante da capacidade de mobilização que Bolsonaro mostrou, aprender que as instituições do Estado não serão capazes de parar o bolsonarismo, assim como elas não estão sendo capazes de frear Donald Trump nos Estados Unidos. À esquerda, cabe fazer o mesmo: mobilizar e demonstrar, nas ruas, a sua força.