No dia 22 de fevereiro do ano de 1900, nascia, em Calanda, província de Teruel, na Espanha, Luis Buñuel Portolés, grande cineasta espanhol e principal expoente do surrealismo na sétima arte.
Filho mais velho de sete irmãos, seu pai era um proprietário que fizera fortuna em Cuba com um negócio de ferragens e sua mãe dona de casa.
Estudou em um colégio de jesuítas em Saragoça, recebendo a formação religiosa que se tornaria marcante em seus filmes. Em 1915, quando na adolescência, perdeu a fé e se tornou ateu, sendo expulso de seu colégio.
Em 1917, mudou-se para Madri para estudar agronomia, permanecendo na cidade até 1925. Lá, indo morar na Residência de Estudantes, acabou por fazer contato pela primeira vez com as correntes artísticas e literárias de vanguarda: cubismo, dadaísmo e surrealismo por meio dos artistas que conheceu, a saber, Federico Garcia Lorca e Salvador Dalí. Acabou abandonando a faculdade de agronomia e indo cursar filosofia e letras, graduando-se em 1924.
Durante o período, fundou o primeiro cineclube espanhol em 1920 e, em 1922, publicou os primeiros textos literários, influenciados por Ramón Gomez de la Serna.
Quando chegou em Paris, capital cultural da Europa, em 1925, estudou cinema e trabalhou como assistente de diretores renomados como Jean Epstein.
Em janeiro de 1929, junta-se ao pintor Salvador Dalí, notório representante do surrealismo nas artes plásticas, e, utilizando do método “cadáver esquisito”, escrevem o roteiro do filme Um cão andaluz. Buñuel gravou o filme em 15 dias durante a primavera, sendo estreado em 6 de junho em Paris perante a nata da sociedade e da intelectualidade francesa.
O filme foi um sucesso e um escândalo e, durante vários meses, esteve em cartaz no Studio 28. Toda a estética surrealista (burros podres dentro de pianos de cauda, mãos cortadas, metamorfoses visuais etc.) criava sensação e espanto. Buñuel afirma que a cena inicial da navalha cortando um globo ocular provocava desmaios na plateia, tendo mesmo chegado a ocasionar um aborto numa espectadora.
A dupla é prontamente admitida no grupo surrealista de André Breton, passando a frequentar as suas reuniões semanais e a cumprir escrupulosamente os seus ditames.
Seu filme posterior, L’Âge d’Or, subsidiado pelo visconde de Noailles, é fortemente anticlerical e, quando da exibição, cria um enorme escândalo por parte da extrema direita francesa (a sala de cinema é atacada) e da burguesia parisiense (o visconde de Noailles foi ostracizado).
Em 1936, com o início da Guerra Civil Espanhola, Buñuel mudou-se para os Estados Unidos, trabalhando durante um período no Museum of Modern Art (Nova Iorque) e em Hollywood, sendo então contratado pela Metro Goldwyn Meyer.
Em 1946, foi para o México e, finalmente, em 1950, recupera a autenticidade de sua arte com o filme Los Olvidados, sobre a vida dos meninos de rua do México, filme em que inseriu vários elementos surrealistas, sendo muito aclamado pela crítica.
Buñuel morreu na Cidade do México em 29 de julho de 1983 por causa de um grave problema com a diabete e câncer no fígado.
Nenhum outro cineasta aboliu com tanta desenvoltura a fronteira entre a realidade e o mundo dos sonhos. Buñuel não entregava uma mensagem pronta aos espectadores, mas instigava-os a participar ativamente no desenvolvimento dos significados de sua obra.