Em sua edição do dia 19 de fevereiro, o Opinião Socialista, blogue editado pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), publicou o artigo Netanyahu reproduz extermínio nazista sim! Lula tem que romper relações com o Estado genocida, em que apresenta a posição da agremiação morenista frente aos acontecimentos recentes envolvendo os governos brasileiro e israelense. Entre várias divagações sobre a crise instaurada após a declaração do presidente Lula comparando as ações de “Israel” contra os palestinos às ações da Alemanha Nazista contra os judeus, o PSTU nos brinda com a seguinte colocação:
“É preciso repudiar estas ações diplomáticas de Netanyahu e do Estado de Israel que, na verdade, são um ataque e uma provocação contra o Brasil e todos aqueles que criticam Israel. Vale lembrar que o Estado de Israel é correia de transmissão dos países imperialistas. Não deixa de ser ridículo também que 91 deputados peçam impeachment de Lula por isso. Só mostra o nível de subserviência de parte da direita brasileira à pauta sionista e imperialista. Deve servir de reflexão, aliás, o fato de que 20 assinaturas desse pedido tenha vindo da própria base aliada do governo. Serve como alerta da importância de ser oposição de esquerda a ele [grifo nosso].”
Afora aquilo que destacamos, o que o PSTU faz é chover no molhado. Repudiar as retaliações da entidade sionista contra o Brasil é o esperado de qualquer organização que se diga de esquerda. Assim como não é nenhuma novidade que o bolsonarismo, no Brasil, corresponde perfeitamente ao sionismo. O que chama a atenção, no entanto, é que o PSTU, em meio à sequência de ataques que o governo brasileiro está sofrendo por ter se posicionado ao lado do povo palestino, não resistiu em culpá-lo pelos acontecimentos!
A agremiação morenista é clara: “20 assinaturas desse pedido [menos de 25% de seu total] tenha vindo da própria base aliada do governo”. A que serve essa observação? Serve para o PSTU demonstrar as limitações de um governo de “frente ampla” e, assim, explicar a necessidade de Lula romper com aqueles que sabotam os seus próprios interesses? Se fosse o caso, seria pertinente. Mas não é o objetivo do PSTU.
A frase seguinte escancara suas intenções: “serve como alerta da importância de ser oposição de esquerda a ele”. O alerta, portanto, não seria para Lula e para aqueles que depositam suas ilusões em uma política de conciliação com a burguesia. O alerta seria para que a opinião pública apreciasse como a política do PSTU seria genial!
Na hora em que Lula é atacado pela direita em várias frentes, em vez de o PSTU estender a mão em solidariedade e apontar os limites de sua política para fortalecer a luta contra o inimigo em comum, a grande preocupação do PSTU é mostrar que sempre esteve certo em ser “oposição”.
Ser “oposição de esquerda” é uma coisa genérica. Significa, por exemplo, pedir a derrubada do governo com um programa “esquerdista”? Em um passado não muito distante, foi exatamente essa a política do PSTU, que apoiou o golpe de 2016 sob o pretexto de que estaria lutando pelo “fora todos”, uma espécie de cadeia de revoluções que culminaria em seu folclórico líder Zé Maria presidindo o País. Significaria, por exemplo, não apoiar a integridade do que o governo faz, opondo-se à sua política de conciliação de classes, mas, ao mesmo tempo, defendendo os aspectos negativos do governo, como suas contradições com o imperialismo?
Pela forma como o problema está colocado, a fórmula de “oposição de esquerda” muito mais se assemelha ao primeiro caso que ao segundo. O importante na colocação do PSTU não é o “de esquerda”, mas sim o “oposição”. O PSTU, finalmente, quer dar uma lição ao governo. É como se dissesse, do alto de um caixote de bacalhau: é por isso que devemos ficar contra ele, pois esse governo tem deputados reacionários em sua base de apoio!
Se a conclusão mais importante que o PSTU chega é a de que é importante ser “oposição” ao governo Lula, somos obrigados a concluir que o grande culpado por tudo o que está acontecendo é o próprio governo! Ora, não fosse o fato de que Lula chamou para seu governo partidos como o PSD e o União Brasil, não haveria o risco de que se abrisse um processo de impeachment, não é mesmo?! Não, não mudaria em absolutamente nada. Não foi o apoio de Lula que elegeu esses deputados, o que mostra a falta de sentido da colocação do PSTU.
Mas consideremos que esses deputados tivessem sido eleitos por causa de Lula. Consideremos que Lula seja o grande culpado por eles estarem no Parlamento. Ainda assim, o governo Lula seria o culpado pela crise? É óbvio que não. Esse é o mesmo argumento daqueles que dizem que não houve golpe em 2016 porque o vice-presidente, Michel Temer, que viria a se tornar presidente ilegítimo, foi eleito com os votos do PT. Equivale, portanto, a dizermos que não existem conspirações e que, no final das contas, não existe o imperialismo. O papel da esquerda, neste sentido, não seria combater o bolsonarismo, não seria combater o sionismo, não seria combater os Estados Unidos e os grandes inimigos dos povos. Seria esperar que o governo “perfeito” tomasse posse e, até lá, contribuir para que os governos “imperfeitos” caiam.
Aprendemos com o PSTU, portanto, que Benjamin Netaniahu não convocou seu embaixador para “Israel” nem caluniou o presidente brasileiro porque representa um interesse material, que é o de passar por cima de todos aqueles que se levantarem contra sua política de limpeza étnica da Palestina. Que os bolsonaristas não querem o impeachment de Lula porque são financiados pelo próprio sionismo. Que a imprensa burguesa não está em campanha contra o presidente da República porque é uma imprensa estrangeira que escreve em língua portuguesa (ou algo do tipo). Tudo isso está acontecendo por causa da política de conciliação de classes do governo Lula. Que mais pode ser dito? Ora, que não cabe combater nenhum dos citados, a não ser o próprio governo.
O PSTU pode não ter se dado conta, mas isso também é conciliação de classes. E uma conciliação muito mais perniciosa: é a conciliação com o imperialismo, aquilo que há de mais reacionário na política mundial. Ao fazer frente com a direita para atacar o governo que já está sob ataque, o PSTU está ajudando o imperialismo a alcançar os seus objetivos.