“O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler decidiu matar os judeus”, declarou Lula no domingo (18) durante coletiva de imprensa dada na 37ª Cúpula da União Africana, realizada na capital da Etiópia, Adis Abeba. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza não é uma guerra, é um genocídio”, acrescentou, apenas para concluir que “não é uma guerra de soldados contra soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças”. A declaração do presidente – talvez a primeira que condena de forma mais enfática o regime sionista – abriu uma crise nas relações entre o Brasil e o governo de “Israel”.
Quase que de imediato, o ministro de Relações Exteriores de “Israel” convocou o embaixador brasileiro a Jerusalém para repreendê-lo pela declaração do presidente brasileiro. Na mesma coletiva, Lula reafirmou aos jornalistas o compromisso do Brasil em continuar enviando recursos à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês), órgão da ONU que teve financiamento suspenso por inúmeros países imperialistas após denúncia israelense de que parte de seus funcionários teriam atuado na Operação Dilúvio de Al-Aqsa, que conflagrou o atual confronto entre “Israel” e a resistência armada palestina no último dia 7 de outubro. Em resposta, o primeiro-ministro israelense, Benjamim Netaniahu, declarou:
“Isto é uma banalização do Holocausto e uma tentativa de atacar o povo judeu e o direito de Israel à autodefesa. Fazer comparações entre Israel, os nazistas e Hitler é cruzar uma linha vermelha”. Netaniahu ainda acusou o presidente brasileiro de ser um “virulento antissemita”.
Para o chefe do Estado sionista, a comparação cruza a linha vermelha, mas a morte de quase 30 mil civis – em sua maioria crianças, mulheres, idosos e doentes desarmados – e os mais de 70 mil feridos não cruzam. A hipocrisia do ataque ao presidente brasileiro, que demorou a denunciar publicamente os crimes de “Israel”, oculta que, sob o comando de Netaniahu, as Forças de Defesa de “Israel” massacraram em média 250 civis palestinos por dia, segundo levantamento realizado pela organização britânica Oxfam. A cifra leva muitos historiadores a classificarem a atuação sionista em Gaza não apenas como genocídio, mas como um dos mais atrozes cometidos na história moderna, comparável apenas ao cerco de Leningrado, durante a Segunda Guerra Mundial, em sua taxa de civis mortos por dia.
Por outro lado, a declaração foi muito bem recebida pela liderança da resistência armada palestina. Segundo publicação feita no canal oficial do Hamas no Telegram, os porta-vozes do partido palestino saudaram o posicionamento de Lula que “surge no contexto de uma descrição precisa daquilo a que o nosso povo está exposto”. Afirmaram ainda que o comentário do presidente brasileiro “revela a enormidade do crime sionista cometido com disfarce aberto e apoio aberto pela administração [norte-]americana liderada pelo presidente [Joe] Biden”.
“Apreciamos a declaração do presidente brasileiro Lula da Silva, que descreveu aquilo a que o nosso povo palestino está submetido na Faixa de Gaza como um Holocausto, e que o que os sionistas fazem hoje em Gaza é o mesmo que Hitler nazista fez aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial”, diz o comunicado divulgado pela organização.
A repercussão da fala do presidente foi grande na imprensa do Oriente Médio e de seus entornos. A emissora catarense Al Jazeera deu destaque, assim como a emissora libanesa Al Mayadeen e a agência de notícias turca Anadolu Ajansı. O Brasil cumpre um importante papel político e econômico internacionalmente, e a declaração do presidente brasileiro é compatível com o propósito de sua viagem à África, em que procura apresentar-se como um dos líderes do “sul global”, termo que o próprio Lula declarou usar com orgulho.
A repercussão no Brasil também foi grande. O partido Novo apresentou queixa-crime contra Lula por promessa de mais doações à UNRWA junto à Procuradoria-Geral da República. “O Novo vê este ato do presidente Lula com preocupação, pois no momento em que os maiores doadores da Agência retiram suas doações por suspeita de apoio ao Hamas, o Brasil sinalizar um aumento mostra para toda a comunidade internacional que somos cúmplices do terrorismo”, declarou Carolina Sponza, advogada do Novo.
A deputada bolsonarista Bia Kicis anunciou que ingressará com um pedido de impeachment do presidente pelo que apontou como “crime de responsabilidade”. “Eu e alguns parlamentares estamos preparando 1 pedido de impeachment do Lula, com base nas suas atitudes hostis ao Estado de Israel. A Câmara e o Senado devem fazer a sua parte, é inadmissível o vexame a que Lula está submetendo o Brasil, país que tanto contribuiu para a fundação do Estado de Israel,” declarou a deputada em suas redes sociais.
O Instituto Brasil-Palestina, por outro lado, saudou a comparação que julga colocar o presidente “do lado certo da história e do Direito Internacional Humanitário”. “Importante salientar que o horror do regime nazista perdurou por 12 anos, ao passo que a ocupação, os crimes e o genocídio do povo palestino pelos sionistas, vêm se perpetuando há mais de sete décadas”, diz trecho da nota emitida pela organização.
O posicionamento de Lula vem num momento fundamental e sua relevância não é apenas internacional, como nacional. O apoio às atrocidades sionistas é um flanco aberto tanto da direita golpista que conseguiu infiltrar-se no governo por figuras como Geraldo Alckmin e Simone Tebet; como do bolsonarismo, que fanaticamente defende a morte de crianças e mulheres em Gaza. Combater e denunciar o sionismo é o mesmo que combater e denunciar a direita brasileira que sabota e ataca o governo petista, impedindo sua adoção de medidas verdadeiramente populares anunciadas durante a campanha eleitoral. Nesse sentido, é preciso eliminar o sionismo do governo e das fileiras petistas quanto antes.
Em resposta à reprimenda do embaixador brasileiro em “Israel”, o governo deve ordenar o retorno imediato de seu representante no país fictício e romper todas as relações com o Estado sionista. As relações econômicas entre Brasil e “Israel” são deficitárias para o País, que compra armas e programas de computador empregados pela polícia na repressão do povo brasileiro enquanto não tem penetração de seus produtos de exportação no mercado israelense. A colocação de Lula deve servir como um chamado à esquerda brasileira, à militância de base petista, que deve ir às ruas denunciar o regime sionista de “Israel”.




