Estive na Intendente Magalhães no segundo dia do desfile da Série Prata do Carnaval do Rio de Janeiro. Não apenas como espectador, mas principalmente como componente do desfile da Unidos do Jacarezinho, participando da Ala do PCO.
Ali me dei conta que o desfile de carnaval raiz ainda existe. Apesar de sofrer a pressão da ideologia identitária — que, como critiquei, domina a Sapucaí —, sente-se o verdadeiro carnaval carioca: povão nas arquibancadas e na rua, sambando, se divertindo; sambas enredo mais genuínos, batucadas menos frenéticas, mais cadenciadas, como deveria ser, etc.
Percebe-se, assim, o mal que a TV Globo fez ao carnaval carioca “oficial” — ou, melhor dizendo, ao carnaval disputado pelas elites das escolas de samba. Transformou a genuína cultura popular em mais um elemento de seus negócios escusos e estrangulou a festa, adaptando-a a seus moldes.
O Rio de Janeiro, no entanto, respira carnaval. Muita gente assistindo a terceira divisão. Para não falar das ruas: enquanto em São Paulo, o carnaval é grotesco em linhas gerais, graças ao boicote da burguesia; toca-se mais pop e funk do que sambas e marchinhas e há intensa repressão àqueles que querem fazer um genuíno carnaval de rua; no Rio, graças à maior tradição nesse aspecto e a um menor controle das classes dominantes, o povo burla a repressão da burguesia e torna as semanas antes e após o carnaval em uma gigantesca festa das massas.
Viva o carnaval, que continua vivo!