Ainda que o presidente Lula procure defender o povo palestino à sua maneira (cita-se o endosso à iniciativa sul-africana perante a Corte Internacional de Justiça), infelizmente muitas de suas declarações acabam por reforçar a política de perseguição do sionismo a todos os que defendem a Palestina. Fala-se, por exemplo, da insistência do presidente em condenar o “atentado terrorista do Hamas”, como o fez novamente em sua visita oficial ao Egito. Na sua busca pelo equilíbrio, ou seja, pela ideia de que “condenar o Hamas permitiria também criticar os ‘israelenses’”, o presidente acaba fazendo inadvertidamente a política do sionismo.
Primeiramente, como o próprio presidente já reconheceu antes, os crimes perpetrados pelo fascismo sionista são muito mais graves do que quer que tenham feito os guerrilheiros palestinos. A questão, no entanto, não é essa: quem seria “o mais criminoso”. Mesmo perante a lei internacional, que vale pouquíssimo, a reação dos palestinos é correta, uma vez que até mesmo o covil de bandidos que é a ONU reconhece o caráter ilegal da ocupação de parte da Palestina pelos “israelenses”, donde a legalidade da reação violenta. O problema está na classificação da ação dos palestinos como “terrorista”, que é exatamente a história fabricada pelos serviços de inteligência israelenses e propagada à exaustão pela imprensa pró-imperialista.
Lula não se dá conta de que, ao condenar a violência da resistência, ele está conferindo legitimidade à tese falsa da “autodefesa” defendida pelos sionistas e pelo imperialismo, ou seja, de que a violência “israelense” seria uma resposta aos acontecimentos do dia 7 de outubro, e não o modus operandi do sionismo há mais de setenta e cinco anos. O problema seria, então, a dimensão da violência sionista, e não a violência em si, uma posição errônea e direitista.
Mesmo que Lula não concorde com as ações da resistência (em razão de sua política pacifista), o presidente deveria demandar o fim da violência israelense de maneira enérgica, e não gastar palavras para condenar a violência revolucionária dos palestinos. Além disso, o presidente deveria pedir por investigações acerca do que, de fato, se passou no fatídico dia 7 de outubro de 2023. Já é conhecimento comum, por exemplo, que uma parte das mortes civis que ocorreu durante a Operação Dilúvio de al-Aqsa foi fruto da atividade criminosa dos militares sionistas.
A verdade é que o governo, e o grosso da esquerda nacional, está apavorado perante a ofensiva sionista. A pressão do imperialismo, e a ação do Hamas de tal modo revolucionária, é tal que a política externa brasileira, que se mostrava o melhor aspecto do governo Lula até então, deu uma grande balançada desde o acirramento da crise palestina. Era justamente num momento como este que Lula deveria mostrar a que veio e convocar sua base a protestar contra os crimes hediondos cometidos pelo sionismo na faixa de Gaza.
Além disso, a mobilização em prol dos palestinos no Brasil é, ao mesmo tempo, uma mobilização contra a extrema-direita bolsonarista, a maior defensora do sionismo no terreno nacional, e contra a burguesia direitista que empareda o governo no cenário interno. Com passar do tempo, o custo de não denunciar de maneira veemente e intensa o genocídio dos palestinos será altíssimo; por outro lado, no plano imediato, o genocídio que “Israel” perpetra na Palestina cria uma oportunidade de levar adiante um verdadeiro combate político contra o bolsonarismo, e, em paralelo, defender a mais nobre causa do mundo.