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Cultura popular

Carnaval não é ‘festa ancestral’, é festa brasileira

Uma manifestação cultural com raízes europeias enriquecida pela cultura dos negros e dos índios

Por trás da demagogia e de uma pseudo defesa do negro, o identitarismo ataca a cultura brasileira e, consequentemente, o próprio negro brasileiro.

A bola da vez é o Carnaval, que foi transformado pelo revisionismo identitário numa “festa ancestral”, que na linguagem identitária, devidamente importada dos nada “ancestrais” países imperialistas, significa que o carnaval seria como um ritual africano.

O gancho para as críticas e cancelamentos dos identitários foi o tema escolhido pela escola de samba Unidos da Tijuca, “O conto de fados”, que homenageou Portugal. Um tema que destoa da maioria das escolas, que têm optado por seguir o modismo identitário. Talvez não por coincidência, a Unidos da Tijuca foi rebaixada.

Alguns comentários nas redes sociais criticaram o enredo da escola: “não há nada de bom em homenagear colonizadores numa festa completamente ancestral, feita por e para as pessoas que os portugueses açoitaram“, diz um perfil.

Falar que o Carnaval é uma “festa completamente ancestral”, no sentido identitário que explicamos acima, é como falar que a terra é plana, não tem a menor base científica. O Carnaval tem raízes europeias. O Carnaval brasileiro, como conhecemos, é uma festa trazida pelos brancos europeus e enriquecida pela cultura dos negros e índios brasileiros.

Ou seja, o Carnaval é mais uma manifestação cultural tipicamente brasileira, resultado da mistura da cultura europeia, em primeiro lugar portuguesa, com a negra e a dos índios. Nesse sentido, homenagear os portugueses não tem absolutamente nada de estranho no Carnaval.

A afirmação de que o Carnaval é feito pelos negros é correta apenas no sentido de que são os negros a maioria do País. Nesse sentido, como o Carnaval é uma festa muito popular, a população pobre predominantemente negra é quem mais participa da festa. Mas o Carnaval não é feito exclusivamente para e por negros, a ideia é um absurdo por si só.

Essa ideia foi expressa por outro perfil no X (antigo Twitter), que afirmou o seguinte: “Sapucaí já tem mais destaques com pessoas negras, mas acho ainda cínico que se destaquem brancos num desfile de Luísa Mahin, na história em que são cruéis vilões. As escolas devem ser radicais: brancos podem ficar em segundo plano num desfile que denuncia suas atrocidades“.

Esse comentário revela melhor aonde querem chegar os identitários. É a separação artificial do povo brasileiro. Os identitários querem que o Brasil seja como os Estados Unidos, de preferência do início do século XX, ou como a África do Sul do apartheid. O problema é que, no Brasil, será bem difícil distinguir a partir de qual tonalidade de pele se poderia ou não ser destaque no Carnaval.

O “radicalismo” do comentário não é só vazio, mas reacionário. Ele poderia criticar o fato, por exemplo, de que boa parte desses destaques, quase a totalidade, só consegue esse posto porque paga um bom dinheiro para isso. Certamente isso é um problema sério no Carnaval, afinal, os que trabalham, as comunidades das escolas de samba, não têm o mesmo espaço.

Mas isso é um problema de classe, não de cor. Inclusive, mulheres negras com dinheiro ou famosas têm o mesmo espaço que as brancas. Obviamente que, como estamos falando de pessoas abastadas, a maioria delas são de pele clara.

Em suma, se ignoramos o problema de classe, vamos encobrir que entre os trabalhadores das comunidades das escolas há muitos brancos, e há vários negros entre os ricaços famosos da televisão.

O Carnaval é um aspecto importante da cultura nacional, assim como o samba e a capoeira. São manifestações culturais brasileiras, ou seja, de um país composto por negros, brancos e índios. A população de pele escura é majoritária no Brasil, apenas nesse sentido é possível falar de um país negro. A formação social e cultural do País é consequência dessa diversidade de povos. Isso é o Brasil.

A ideologia identitária, além de um tipo de “terraplanismo” e revisionismo histórico, serve aos interesses daqueles que querem destruir o Brasil enquanto nação. Não à toa, trata-se de uma imposição do imperialismo que precisa atacar o povo para saquear nossas riquezas.

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