Poetas infelizes, que sonhais
Vender uns versos
Em troca de um sorriso
Em troca de um centavo,
Para quem cantais?
Que ouvidos vos ouvirão?
Cantais pelas cinzas de Gaza
Ou para a tipografia dos patrões?
A poesia calcinada dos ossos,
As ossadas cobertas de jornais,
O véu das moças
O velório das crianças
O escombro das moradas
As cinzas da vida
E os olhos inchados.
Há tinta por toda parte
Espalhada no chão
Impressa nas paredes
Das redações
Coaguladas de pólvora.
Olhares esquecidos
Crematórios extintos
E um pedaço de carne no açougue de hoje
Embrulhado na última edição.
Vós poetas que sonhais na lama,
Quantas balas tendes no fuzil?
No pasto onde abandonastes o vosso sonho
Rumina ainda um cordeiro febril.