Exército brasileiro

Mourão, o ‘insignificante’ que ameaça com o uso da força

Subestimar Hamilton Mourão, uma figura central do golpismo, serve apenas para que a esquerda não lute de maneira adequada contra seus inimigos de classe

Mourão

O artigo “A insignificância de Hamilton Mourão até para os colegas fardados”, assinado por Moisés Mendes e publicado no sítio Brasil 247 em 9 de fevereiro, mostra uma velha tendência de setores da esquerda de menosprezarem os adversários políticos. Bolsonaro sempre foi tratado como retardado, seus eleitores são “gado” e seu vice-presidente seria um insignificante. Esse tipo de avaliação faz com que a esquerda não caracterize com propriedade seus opositores, falhando com isso em dar o devido combate para derrotá-los. Um exemplo é justamente o uso do termo “gado”. Em vez de tentar trazer setores confusos da classe trabalhadora novamente para o nosso campo, a esquerda pequeno-burguesa simplesmente os hostiliza.

Dizer que Mourão seja insignificante é passar por cima da gravidade do atual momento político. Hamilton Mourão fez uma ameaça muito clara na última quinta-feira (8) em seu discurso no Senado. Após a apreensão do passaporte de Jair Bolsonaro, da prisão de Valdemar Costa Neto (PL) e mandados de busca e apreensão a dezenas de pessoas, inclusive comandantes militares, Mourão disparou: “se as pessoas responsáveis e sérias não se reunirem para avaliar, diagnosticar e denunciar o que está acontecendo, não tenho a mínima dúvida que estamos nos encaminhando para a implantação de um regime autoritário de fato no País”.

Currículo

Em agosto de 2018 publicamos uma matéria sobre Mourão da qual destacamos os seguintes trechos:

“Ingressou no Exército em fevereiro de 1972, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e, já como aspirante a oficial, seguiu cursos de formação, de aperfeiçoamento, de altos estudos militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e do Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército, além dos cursos básico paraquedista, mestre de salto e salto livre, também possui o curso de guerra na selva.

Foi instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras, cumpriu Missão de Paz em Angola, foi adido militar na Embaixada do Brasil na Venezuela, Adido de Defesa, Naval e do Exército junto à Embaixada Brasileira no Suriname, exerceu a função de Observador Militar das Nações Unidas em El Salvador – ONUSAL, América Central, e foi comandante do 27.º Grupo de Artilharia de Campanha em Ijuí (Rio Grande do Sul), da 2.ª Brigada de Infantaria de Selva em São Gabriel da Cachoeira (Amazonas), da 6.ª Divisão de Exército e do Comando Militar do Sul, ambos em Porto Alegre.

General Mourão tem em comum com outros militares hoje no centro do golpe o fato de ter passado pela Academia Militar das Agulhas Negras e seguido os mesmos cursos de formação, durante a Ditadura. Augusto Heleno Ribeiro Pereira, graduou-se na Aman em 1969; um ano depois, Eduardo Dias da Costa Villas Bôas ingressou na Academia; Sérgio Westphalen Etchegoyen, em 1971; e Fernando Azevedo e Silva, em 1973”.

O anonimato é ruim?

Moisés Mendes reclama que não se ouve falar no nome de Mourão: “Por que esse general poderoso nunca aparece nas conversas sobre o golpe vazadas até agora? O nome de Mourão não é citado entre golpistas e nem entre presumidos legalistas. (…) Deveria aparecer como legalista, como ele se apresenta. Mas Hamilton Mourão seria mesmo tão medíocre na política, e sem força no meio militar, que seus amigos de farda o ignoravam?”.

Mendes diz que “Mourão conseguiu ser um vice invisível em quatro anos de governo”, e que “Bolsonaro escolheu Mourão para cuidar da Amazônia. Primeiro, para evitar que se metesse em outras áreas. E depois porque, talvez por conhecer sua inércia, apostava que ele não iria atrapalhar seus planos na região”.

Mourão foi uma escolha de Bolsonaro, ou foi uma imposição do imperialismo? O general é um conhecido neoliberal, defende privatizações e um Estado menos presente nas questões sociais. Para ele, a “extensão dos direitos sociais” é um fator de desestabilização.

O anonimato de Mourão pode muito bem ser uma maneira de preservá-lo. Em 2017, durante o governo Temer, em um evento promovido pela maçonaria, se colocou abertamente a favor de um golpe de Estado para solucionar “problemas da política”.

Durante o evento, em meio à crise do governo Temer, que encontrava forte resistência popular e que vinha sendo denunciado pela compra de deputados, Mourão disse: “ou as instituições solucionam o problema político retirando da vida pública os elementos envolvido em todos os ilícitos ou então nós teremos que impor uma solução”. E ainda: “Os Poderes terão que buscar uma solução. Se não conseguirem, temos que impor uma solução. E essa imposição não será fácil. Ela trará problemas. Pode ter certeza”.

Corporativismo?

Segundo o artigo de Moisés Mendes, a fala de Mourão no Senado seria apenas uma espécie de corporativismo, alega que o agora senador “está aí defendendo a moral das Forças Armadas, na condição de militar graduado e de ponta, o que é um direito seu acionado pelo espírito de corpo”. Não podemos acreditar que um homem já foi colocado na vice-presidência brasileira esteja defendendo apenas interesses particulares.

Quando afirma que “no caso das Forças Armadas, os seus comandantes não podem se omitir perante a condução arbitrária de processos ilegais que atingem os seus integrantes ao largo da Justiça Militar”, está explicitamente convocando um setor das Forças Armadas a se insurgirem contra o regime político. Não podemos nos esquecer que Mourão defende o Golpe de 1964, diz que sua geração não é bem compreendida e que é atacada de forma covarde, pois fez o que fez pensando na Pátria.

Lutar contra o golpismo

Não podemos cair na conversa de que “Mourão sempre foi um figurante alegre. Deveria ter sido o guardião da floresta”, trata-se, na verdade, de uma pessoa perigosa, alguém que faz parte do núcleo golpista, além de ser de confiança do imperialismo.

A esquerda precisa conhecer seus inimigos de classe. As Forças Armadas são uma arma apontada contra a população. Seus comandantes atuaram em todos os golpes de Estado e por isso não podem ser subestimados.

A classe operária não pode se deixar levar por análises equivocadas da realidade política como a de Mendes, pois isso apenas dá mais força aos inimigos. A luta política depende de um conhecimento preciso das forças que atuam em uma sociedade dividida em classes.

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