O ex-presidente do Chile, Sebastián Piñera, morreu em um acidente de helicóptero na localidade de Lago Ranco, interior do Chile, conforme relatado pelo jornal La Nacion, por volta das 15h do último dia 06 de fevereiro. Com confirmação de fontes diplomáticas. Piñera era proprietário da aeronave, e três ocupantes conseguiram sobreviver à queda. Segundo a CNN Chile, o acidente ocorreu sob chuva na região.
Sob o regime de Piñera, o Chile tornou-se ainda mais um paraíso para os ricos e um inferno para os pobres, seguindo a tendência imposta pela ditadura de Pinochet. A desigualdade disparou, enquanto os direitos dos trabalhadores foram esmagados em nome da “eficiência econômica”. Milhões de chilenos foram deixados à mercê de um sistema que os privou de condições básicas de vida.
Para entender como a situação chegou a tal ponto, é preciso realizar uma investigação histórica acerca da influência do imperialismo no regime político chileno.
Cinquenta anos após a ascensão de Salvador Allende ao poder no Chile, documentos do Arquivo de Segurança dos EUA desmascaram a versão oficial sobre o governo de Richard Nixon contra o governo chileno. Os EUA alegaram intervenção para “preservar” a democracia, mas os novos documentos revelam uma estratégia agressiva de hostilidade e pressão para minar Allende. Peter Kornbluh, do Arquivo de Segurança Nacional, destaca a história do imperialismo usava a ditadura militar
Kornbluh destaca o medo do governo de Nixon, especialmente de Kissinger, sobre a influência do governo Allende no Chile em outras regiões do mundo. Documentos revelam a influência decisiva de Kissinger na política dos EUA em relação ao Chile, incluindo uma tentativa de golpe para impedir Allende de assumir a presidência. Kissinger adiou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional para influenciar Nixon a adotar uma postura mais hostil. Enquanto o Departamento de Estado defendia uma estratégia de coexistência, outros alertavam para o risco de violar o respeito pelas eleições democráticas, o que fortaleceria Allende e aumentaria o nacionalismo contra os EUA.
O jornal El Mercurio, sob a direção de Agustín Edwards Eastman, desempenhou um papel crucial na gestação do golpe de Estado no Chile. Documentos como o “Covert Action In Chile, 1963-1973”, divulgados pelo governo dos EUA, revelam a extensão do financiamento da CIA à imprensa oposicionista, principalmente ao El Mercurio, para minar o governo de Allende. Edwards tinha relações diretas com o governo dos EUA, recebendo financiamento significativo e participando de reuniões na Casa Branca. O jornal realizou uma gigantesca propaganda contra Allende, destacando uma suposta ameaça do “marxismo totalitário”.
A partir de março de 1973, El Mercurio adotou uma estratégia de deslegitimação do governo e de legitimação da intervenção militar no Chile. O jornal intensificou representações de terror e caos social, destacando a crise econômica, os atentados terroristas e a influência comunista nas Forças Armadas. Editoriais e notas começaram a sugerir abertamente a necessidade de uma solução militar para a crise política chilena, contribuindo assim para um ambiente propício ao golpe, dirigido pelo imperialismo.
Nos anos 1970, durante o governo de Allende, a economia chilena enfrentou desafios significativos, incluindo dependência da exportação de minérios, altas barreiras alfandegárias, aumento dos gastos públicos e salários, controle de preços e expropriação de empresas.
Após o golpe que derrubou Allende, o Chile adotou gradualmente ajustes econômicos influenciados pelos chamados “Chicago Boys”, economistas ligados a Escola de Chicago, principal exportadora do pensamento neoliberal no mundo e fonte de formação de Paulo Guedes. Essa abordagem neoliberal, pioneira no país, enfatizou princípios como interesse individual, propriedade privada e supremacia do mercado financeiro, antecipando o Consenso de Washington de 1989.
O ápice da influência dos Chicago Boys ocorreu em 1975, quando Milton Friedman visitou o Chile e pressionou Pinochet a adotar um “tratamento de choque” neoliberal para recuperar a economia. As medidas incluíam equilíbrio fiscal, desregulamentação, abertura ao capital externo e controle da inflação, em contraste com as políticas de Allende.
Dessa forma, conseguimos entender a influência do pensamento neoliberal no Chile e sua origem: os tanques de guerra e cadeias das ditaduras comandadas pelos Estados Unidos. Hoje em dia, buscando reabilitar sua política frente ao intenso refluxo da classe operária no período final do século XX, o neoliberalismo agora busca se passar por regime econômico da direita civilizada e austera.
Elementos que fazem uso da demagogia, do discurso de um suposto “republicanismo”, da defesa da “democracia” e até a crítica a elementos que tem uma aparência de serem mais extremados, mas representam exatamente a mesma coisa. Elementos esses podem ser vistos em Geraldo Alckmin, Marcelo Freixo, Fernando Henrique Cardoso e Sebastían Piñera, que em vida, chegou a criticar Bolsonaro, mas é herdeiro da política imperialista neoliberal.
É importante destacar alguns horrores perpetrados por Piñera, como dar continuidade aos ataques a previdência que tomaram conta a partir da ditadura de Pinochet e fez com que o Chile tivesse o maior índice de suicídio entre idosos do mundo. É uma política muito agressiva, irredutivelmente reacionária. Piñera continuou a política de arrochos salariais que intensificaram a fome no Chile, fazendo os índices de fome subirem em todos os seus governos, causando uma falta de perspectiva e profunda revolta, culminando em manifestações que deixaram o Chile em um verdadeiro estágio pré-revolucionário. A mobilização foi ampla, e os confrontos com a polícia e o exército foram de tamanha intensidade que a insurreição no Chile, que envolvia principalmente a juventude, deixou 23 mortos e centenas de feridos.
O sistema educacional chileno, estabelecido durante a ditadura, favorece a segregação e a privatização, resultando em dívidas enormes para os estudantes das universidades privadas. A primeira grande revolta estudantil ocorreu em 2006, seguida por outras em 2008, 2011, 2012, 2015 e 2018. Em todo mandato de Piñera houve uma insurreição estudantil. Sebastián Piñera tentou reprimir os protestos com a Lei Sala Segura, mas isso só alimentou a insatisfação dos jovens.
A lei Sala Segura, do ex-presidente Piñera, aprovada no ano passado pelo Congresso, permitia expulsar os alunos que portassem algum tipo de arma, cometessem algum tipo de agressão ou causassem “danos à infraestrutura”. Na prática, a norma permitia expulsar os que protagonizassem protestos, como a ocupação de uma escola.
Os jovens chilenos, que cresceram em uma sociedade marcada pelo legado da ditadura e pela desigualdade, estão determinados a combater a criminosa direita e qualquer uma das formas na qual ela pode se apresentar, guiada pelo imperialismo na forma de uma implacável ditadura, ou guiada pelo imperialismo, defendendo uma implacável ditadura chamada por eles de democracia, e isso inclui a luta contra Piñera.





